LUIZ CORIOLANO E O DESAFIO DA FÍSICA por Manoel Moacir Costa Macêdo; Gutemberg Armando Diniz Guerra & Renato Brasileiro Júnior

Manoel Moacir, 04 de Fevereiro, 2022

 


O ensino universitário brasileiro nos anos setenta, década dos anos de chumbo da ditadura militar, foi duramente atingido. De um lado, pela repressão à liberdade de expressão da juventude universitária, a exemplo das restrições aos diretórios acadêmicos, debates, censuras e prisões. Qualquer iniciativa de organização era duramente reprimida e qualificada como ato subversivo e ameaça à segurança nacional. Do outro lado, pela mudança do calendário anual para os seriados semestrais. Parece pouco, mas não é. Evitou-se a união e a militância estudantil durante os anos do curso universitário. As aproximações físicas e ideológicas são ingredientes da participação e o modo de separar os estudantes foi ofertar as disciplinas por semestre. A cada novo semestre outros estudantes adentravam nos semestres em curso, inclusive os infiltrados pelo então Sistema Nacional de Informação - SNI. A camaradagem e identidades foram rompidas ou diluídas nesse sistema.

No curso de engenharia agronômica da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia – EAUBA, não foi diferente. Além dessas anomalias, foi adicionado o distanciamento geográfico dos campi da Capital. Os dois primeiros semestres chamados de básicos, eram cursados no campus da UFBA em Salvador e os demais ditos profissionalizantes, no campus de Cruz das Almas no Recôncavo baiano. Os aprovados no “Vestibular de 1973” foram apartados dos veteranos. As evidências confirmaram que apenas um pequeno número de ingressos no mesmo semestre concluíram o curso por inteiro no prazo regular de quatro anos. Uns ficaram em Salvador, outros em Cruz das Almas e ao final a unidade de entrar e sair em única turma foi efetivamente quebrada.

Um exemplo dessa realidade é o caso do colega Luiz Coriolano Bahia de Souza, a quem homenageamos nesse escrito. Ele é capixaba de Barra de São Francisco no Espírito Santo, nascido em 12 de junho de 1955, filho dos zelosos pais Marcus Vinícius Oliveira de Souza e Bárbara Maria Oliveira de Souza ainda vivos e incentivadores do sucesso do filho querido. Casado com Maria da Conceição Oliveira de Souza há quarenta e cinco anos, tem sua paixão externada no dizer: “uma vida matrimonial de parceria, amor, cumplicidade e felicidade. Obrigado por você existir em minha vida e pela nossa família”.

Cori ou Curió para os próximos foi vítima da armadilha curricular semestral. Ele permaneceu quatro semestres no campus da UFBA em Salvador, metade do calendário do curso, em face do deslize em uma disciplina básica e muito mais pela carência de vagas nas matrículas semestrais pela “falta de sorte” de quem está no meio da ordem alfabética como os da letra “L”. Não se beneficiava nem no semestre em que as matrículas começavam pela letra “A”, nem quando iniciavam com a letra “Z”. Assim eram as matrículas numa época de uso restrito da computação e sofrível gestão universitária. Coriolano carrega um ímpar feito, ele desafiou a física. Foi o único ser humano a estar em dois lugares ao mesmo tempo. Dizia que se matriculava em duas disciplinas “chocando” os horários, ou seja em horários coincidentes. Gabava que era aprovado em ambas.

Possuidor na juventude de uma longa cabeleira, feição jovial, andar compassado, discreto e atento à vivência universitária, a exemplo da participação na política. Aluno dedicado às tarefas estudantis. Desempenho profissional exitoso na prestigiada Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC, o seu único emprego, onde desempenhou com galhardia a carreira de extensionista rural nos municípios de Ubaíra Ibicuí Ibicaraí e Mutuípe. Faz-se presente nos problemas do sociedade, ao dizer: “infelizmente a região cacaueira assiste o desmanche da CEPLAC e não faz nada. Triste de uma região que não reconhece o valor das suas instituições”. Exerce a cidadania política como membro do Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB.

Coriolano foi aposentado em 1996 por invalidez permanente, mas continua em atividade na sua propriedade rural em Mutuípe, no Vale do Jequiriçá. As restrições de saúde, não afetaram a inteligência, a amizade e a coragem de viver. É um exemplo de bom humor e energia positiva, animando com ponderações a unidade e a convivência dos contemporâneos. É um engenheiro agrônomo exemplar que merece os louvores dos seus colegas da EAUFBA de 1973 e contemporâneos, separados de sua companhia, ao menos por um ano no convívio universitário.  

Manoel Moacir Costa Macêdo; Gutemberg Armando Diniz Guerra & Renato Brasileiro Júnior são engenheiros agrônomos.

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