DISCO VOADOR Manoel Moacir Costa Macêdo; Gutemberg Armando Diniz Guerra & Renato Brasileiro Júnior

Manoel Moacir, 11 de Março, 2022 - Atualizado em 11 de Março, 2022

A vivência universitária na década de setenta, quase meio século passado no campus isolado da Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia - EAUFBA em Cruz das Almas no recôncavo baiano, ultrapassaram o estrito calendário escolar e cursos profissionalizantes. As disciplinas básicas eram cursadas na Capital, nos campi da UFBA no Canela, Federação e Ondina. Apesar das limitações, explodiram expressões artísticas, politicas, acadêmicas e profissionais que ultrapassaram os limites dos tabuleiros arenosos e deixaram inesquecíveis lembranças.

A vida no campus de Cruz das Almas, era restrita ao ambiente universitário interiorano.  Isolados no sentido geográfico, social, político e acadêmico. As comunicações eram restritas aos correios, rádio e rudimentares telefones. O transporte era o rodoviário pelos ônibus da “Breda Turismo”. Não existiam internet, nem mídias sociais e a informática era iniciante. O único escape eram as idas e vindas ao centro da cidade no final da tarde no velho ônibus dirigido pelo paciente Chico Banha, as bebedeiras nos finais de semana no bar do Barrão, na Pérgola e na lanchonete de Samuca. Acudiam o furor da juventude com as restrições de liberdade, o teatro amador, os saraus musicais, as modestas experiências científicas, a acanhada participação política no Diretório Acadêmico Landulfo Alves - DALA e os amores com colegas e nativas.

Os dois iniciais semestres, eram concentrados nas disciplinas básicas e atendidos na Capital, muitas delas comuns a uma variedade de cursos. Na mesma sala, estavam estudantes de distintas profissões. As relações sociais e universitárias não tinham a unidade da turma de engenheiros agrônomos. A formalidade dos cursos nessa modelagem, impediam o conhecimento e a partilha de experiências entre os colegas aprovados no anual Vestibular da UFBA.

Um caso marcante e jamais esquecido foi o do “disco voador”, apelido que grudou e nunca mais saiu no estimado colega Antônio Jorge de Menezes. Ele não vinha do interior profundo, mas do bairro negro e cultural de Salvador, a Liberdade. Como outros colegas, a sua trajetória e biografia passaram despercebidas, a exemplo da permanência por mais de dois semestres em Salvador e as dificuldades de sobreviver e manter na universidade. Nessa época, inexistiam as bolsas para os estudantes carentes, mas apenas as cotas para os familiares dos proprietários rurais ingressarem na universidade pública pela chamada “Lei do boi”.

A trajetória de Antônio Jorge não foi fácil, ao contrário exigiu persistência e determinação. No seu dizer, passou por “sofridas dificuldades” no prolongado tempo dos semestres básicos. As reprovações na “escorregadia matemática” retardaram a passagem para o campus de Cruz das Almas. Para continuar estudando, ele foi “vendedor de livros e de tradicionais coleções em residências e ônibus nos trajetos para as aulas nos campi da UFBA”. Também foi “comerciante da caderneta de poupança ‘Tradição’, cadastrando interessados e remunerado pelo volume de depósitos”. Em suas palavras “o período em Salvador, foi uma experiência inesquecível pela convivência e experiência de viver”. Os muros não foram barreiras, mas pontes para alcançar o campus de Cruz das Almas, onde o cenário foi animador, pelos incentivos do iniciante “crédito educativo”.

Antônio Jorge, colega dedicado, conciliador, esportista e prestativo, são algumas de suas virtudes. Mas foi com a foto de um “suposto disco voador” que nunca mais foi esquecido, mesmo no lapso temporal de quase meio século. Na versão contada, ele estava tentando finalizar um filme fotográfico, a fotografia era um dos seus hobbies, e deslocou para o terraço da residência para aproveitar a luz do dia, pois ainda era um final de tarde. Ao se acomodar, observou um gato e mirou na direção do felino que escapou. Olhou para o céu e visualizou o contraste das nuvens com um clarão, imediatamente fotografou sem saber exatamente o objeto da foto. Concluído o filme, retirou da máquina e enviou para a revelação, como de costume. Ao receber as fotografias em preto e branco, o responsável pela revelação questionou: “estás louco fotografando nuvens?”. Antônio Jorge conteve a curiosidade, nada respondeu e com o pacote lacrado em mãos, sorriu discretamente por nada entender. Ao chegar em casa, ansiosamente abriu o pacote com as fotos reveladas e verificou alguma coisa estranha na última foto. A surpresa foi enorme ao enxergar com os seus próprios olhos a foto com um “disco voador”. Na linguagem dos letrados os chamados “objetos voadores não identificados - UFO ou OVINs”, clicados pela habilidade de um colega muito próximo e querido. A extraordinária descoberta ao ser divulgada no ambiente estudantilcravou no querido colega o apelido de “Disco Voador”, que o acompanha até hoje. A sua conquista ultrapassou o ambiente local, estadual, nacional e alcançou o mundo. Os seus colegas admiravam com orgulho o espetacular feito.

A sua brilhante trajetória profissional de mais de quatro décadas em vários municípios da região cacaueira, ainda continua na distinguida Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLAC. Destaque como extensionista rural no município de Ibirapitanga onde encontrou a sua esposa Nilda e formaram uma bela família. Antônio Jorge não ficou silencioso perante à comunidade, o que mereceu o título honorífico de “Cidadão Ibirapitanguense”. Exerceu a meritória função de professor na Escola Média Agropecuária Regional da CEPLAC - EMARC em Uruçuca, Bahia. Não olvidar na sua trajetória a dedicação com a apicultura, a liderança em representações profissionais no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia - CREA e no Conselho de Diretores Lojistas - CDL da progressista Valença na Bahia, onde reside. Uma trajetória profissional excepcional, mas não conseguiu apagar a proeza da fotografia dos supostos seres extraterrestres que o cunhou para sempre como “Disco Voador”.

Esperamos que essa distinção esteja gravada nos anais da ciência e na história dos caçadores de seres de outras moradas do universo sideral. Para os seus colegas e contemporâneos da EAUBA a alcunha continua como uma maravilhosa tatuagem.

 

Manoel Moacir Costa Macêdo; Gutemberg Armando Diniz Guerra & Renato Brasileiro Júnior são engenheiros agrônomos.

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