A ARTE VENCEU E VIVA O ARTISTA Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 08 de Abril, 2022 - Atualizado em 08 de Abril, 2022

 


Dizem que a “arte é egoísta”, não sei se é verdade. Mas, com certeza ela é “bonita e é bonita”. Em conhecidas disputas, a arte venceu para o bem do artista e de todos nós. É difícil a convivência pacífica entre arte e a rotina dos comuns. Em alguma encruzilhada, cedo ou tarde, com amor ou com dor, a arte vencerá. Não existe vida sem arte

Assim foi o encontro com a arte do engenheiro agrônomo Roberto Pitombo, no meio artístico conhecido como “Beto Pitombo” de Feira de Santana, a “Princesa do Sertão”, onde “Pitombo” representa um ramo genealógico de tradicional prole. Um reencontro após mais de quatro décadas distanciados. Tempo além de “mudança de época”, mas de “época mudança”. Do rural para o urbano, da censura para a liberdade, da ditadura para a democracia e da agronomia para a música.

Em recente apresentação na bucólica “Varanda do Sesi” no boêmio bairro do Rio Vermelho, em Salvador, dia seguinte ao aniversário de 473 anos da primeira capital do Brasil. Para uns “o coração do mundo e a pátria do evangelho”, para outros “aqui plantando tudo dá” e “bonito por natureza”. Cidade que expressa na face a bela afro descendência tal qual a “Mãe África”. Fazia muito tempo que não víamos pessoalmente Roberto, mas sabíamos de sua fama e gosto continuado pela música, um cantor excepcional. Não fomos reconhecidos, sem ressentimentos, fazia quase meio século de distanciamento temporal. O foco do passado de adolescentes universitários foram os ensinos agronômicos, hoje amadurecidos é a música. Não significa apenas uma separação linear pelos anos, mas uma mudança profunda nos valores e modo de viver e sentir.

Pitombo, concluiu o curso de engenharia agronômica, uma exceção para os tragados pela arte, na década de setenta, os anos de chumbo da ditadura militar. Não foi um universitário militante na política e nos diretórios acadêmicos, possivelmente, trazia grudado no ser, a história familiar do “massapê colonial do recôncavo baiano” e das usinas de açúcar marcadas pela escravidão negra. O artista não atendeu e nem se curvou perante o esperado determinismo, ao contrário, registrou ainda na universidade, com letra inteligente, voz melodiosa e coragem, o hino de protesto à desigualdade e injustiça social na canção “Pau de cerca”, vencedora de festival universitário, sob os apupos de seus colegas de agronomia e dos medos da repressão. Uma ode às injustiças sociais no campo e na cidade.

Éramos presentes nesse emocionante e contemporâneo reencontro colegas e familiares, com olhares fixos no artista, aplaudido orgulhosamente, como um colega que a agronomia emprestou à música. A apresentação não poderia ter outro lema: “Natureza Viva”. Alusão a terra, as plantas, aos animais e ao meio ambiente, elementos da lide agronômica. Não faltaram assovios, aplausos, gritos e referências em tom maior a Roberto, que além de voz exuberante e repertório maravilhoso, era num só tempo e pessoa, “engenheiro agrônomo diplomado” como nós outros. Ambiente lotado, familiares, amigos e admiradores, mas orgulhosamente queríamos que todos soubessem que éramos colegas do cantor.

Os anos passados e não foram poucos, deixaram marcas menores na “face do artista, pois eles nunca envelhecem” e mais nos seus colegas penteados de branco e proeminentes abdomens. A agronomia não perdeu um engenheiro agrônomo, mas a arte ganhou um artista.

Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo.

 

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