ANIVERSÁRIO DA EMBRAPA: CRISES, CRÍTICAS E CONTRADIÇÕES Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 22 de Abril, 2022 - Atualizado em 22 de Abril, 2022

 


A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA, está aniversariando. No corrente mês de abril, ela completa 49 anos de existência. Criada em 1973, como uma empresa pública de direito privado, sob o pragmatismo da ditadura militar, pessoa jurídica ágil na operabilidade e eficiente na gestão.

O objetivo foi substituir o “modelo difuso” de pesquisa agropecuária desenvolvido por institutos regionais de pesquisa distribuídos pelo País, por um “modelo concentrado”, lastreado em pesquisadores treinados em centros de pós-graduação nacionais e internacionais, financiados por organizações internacionais a exemplo do BID, BIRD e Banco Mundial, focado em específicos produtos agrícolas com potencialidade de exportação e processamento agroindustrial, a exemplo da soja, trigo, milho, algodão e carnes. O articulado discurso de quase cinquenta anos passados era a “modernidade versuso atraso”, “a eficiência pela burocracia” e a “EMBRAPA é a maior”. O recrutamento de seus membros privilegiou os egressos da classe média, do status quo vigente, dos crentes na neutralidade da ciência e a verticalidade organizacional.

No tempo do “milagre brasileiro e do nacionalismo militar”, os recursos financeiros foram abundantes nos orçamentos iniciais da EMBRAPA, favorecendo a coordenação do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária - SNPA, um aglomerado institucional de universidades e organizações estaduais de pesquisa agropecuária. A transferência de recursos ao SNPA e os resultados dos primeiros vinte anos da pesquisa desenvolvida pela EMBRAPA nos referidos produtos, foram relevantes para a economia nacional e o equilíbrio da balança de pagamentos. Consolidou a imagem da EMBRAPA no cenário nacional e internacional. Similares prioridades não alcançaram o meio ambiente, a agricultura familiar e as sociabilidades rurais brasileiras. O foco foi o produto e não o produtor. Inspirações advindas da Revolução Verde. Mudanças climáticas, alimentação saudável, sociologia rural, ética e justiça social nos sistemas produtivos, não constaram como prioridades nos portfólios da EMBRAPA. O SNPA tem se revelado uma figura de retórica, desacreditado e inoperante.

A acelerada globalização econômica após os anos noventa, quando a soja, o milho, o algodão e as carnes foram incorporadas no mercado internacional como commodities agrícolas, oportunizou ao agronegócio brasileiro, o investimento massivo em inovações tecnológicas intensivas em capital e poupadoras de terra e trabalho. Estratégia que não tardou a colher os recordes anuais de safras agrícolas e os lucros bilionários. A EMBRAPA não acompanhou essa transformação e nem se constituiu na fonte estratégica de geração de tecnologia, evidências constatadas nas sementes transgênicas das safras agrícolas, dominadas exclusivamente pelas corporações multinacionais.

A EMBRAPA tem pouco a comemorar nesse aniversário. Ela está imersa em continuadas crises. As suas debilidades tardam a chegar em amplitude na sociedade, que continua anestesiada pela EMBRAPA do passado e de sua história, quando foi chamada a “Joia da Coroa”. É mister reconhecer que “lei de patentes e proteção de cultivares” nos anos noventa, favoreceu a iniciativa privada e esvaziou o papel estratégico da EMBRAPA na posse e domínio do melhoramento genético das espécies. Outras mudanças em pauta ao longo dos últimos anos, algumas além do mundo da agropecuária, como os consumidores, os ambientalistas, os políticos e as relações internacionais, também não foram por ela acolhidas. Ao completar 49 anos, a EMBRAPA está precocemente envelhecida. Evidências não faltam, a exemplo da carência de expressivas lideranças, desarticulação do programa de treinamento, precariedade na manutenção e aquisição de equipamentos, descuido e abandono dos campos experimentais e os baixos indicadores da ciência, tecnologia e inovação em publicações e patentes, particularmente no contexto internacional.

Raras as aleluias e os “parabéns pra você” do agronegócio globalizado. Ao contrário patrocina ameaças à privatização de parte de suas funções e reduzem a sua atuação no território nacional. Urge colocar a EMBRAPA no seu devido lugar, como uma estratégica organização pública de ciência, tecnologia e inovação para o Brasil, antes de completar meio século de vida no ano vindouro. No próximo aniversário, é esperado uma manchete distinta da recentemente divulgada por um notório periódico brasileiro: “Prestes a completar 50 anos, Embrapa vive crise de identidade”.


Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra.

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