LIDERANÇA CARISMÁTICA por Manoel Moacir Costa Macêdo

Manoel Moacir, 17 de Junho, 2022 - Atualizado em 17 de Junho, 2022

 


Expressivas lideranças nascem no ambiente estudantil, com realce na universidade. A idade universitária junta a adolescência, a juventude, o conhecimento, a coragem e a utopia. Condições para enfrentar as contradições sociais, principalmente em sociedades desiguais. Não foi diferente na geração universitária dos anos setenta. Líderes afloraram na música, no teatro, na ciência, na literatura, nos negócios e na política. Uma porção significativa foi abortada, censurada e oprimida pela força do arbítrio. A “década que desmoronou o mundo”, “é proibido proibir” e “faça amor, não faça guerra”. Debates, festivais, guerra, feminismo, revolução, conquista espacial, agricultura orgânica, entre outros movimentos, inspiraram a contestação.

​No curso de agronomia da Universidade Federal da Bahia - UFBA, no campus de Cruz das Almas, o ambiente não era na capital, mas no interior, isolado e rural. A sociedade brasileira atrasada, engatinhava nos valores civilizatórios. Época de estímulos à acomodação, ao individualismo e ao silêncio obsequioso do “com quem está falando”. Mesmo na adversidade, riscos e medos, surgiram lideranças que ultrapassaram os tabuleiros arenosos do recôncavo baiano, para alhures. Lideranças na política foram visíveis e destacadas. Humanos são gregários e prescindem uns dos outros. “Não há existência solitária”.

​Passados quase cinquenta anos, entre outras lideranças que foram manchetes em jornais e televisão, lembrança de um líder do curso de agronomia, nos chamados “anos de chumbo”. Ismar Pires Maciel, interiorano de Central, Bahia, região semiárida, da seca e da cerca dos latifúndios improdutivos, sofrimento e miséria. Plantas, animais e humanos sobrevivem precariamente num bioma rico em vida, mas explorado inadequadamente, as criaturas carecem de comida, educação, saúde, terra e água até para matar a sede. Nas inovações do iluminismo, o secular carro-pipa da indústria da seca permanece como a única fonte de água para essa gente simples, trabalhadora e fiel, enganada pelos poderosos e mistificadores da boa-fé alheia. No paradigma da pós-materialidade, “a desigualdade social não é uma lei natural -, é obra do homem e não de Deus”.

​Ismar nasceu no ambiente da caatinga e da política do “toma lá e dá cá”. Presenciou o declínio econômico de seu genitor, pelas práticas da política do clientelismo. No curso secundário na capital da Bahia, ainda juvenil, deu guarida à liderança. Eleito como dirigente no concorrido centro cívico do colégio. Primeiro sinal do que estava por vir. Na universidade, a liderança aflorou. Agregou de chegada ao redor de sua voz afinada e acordes no violão, às vezes de lamentos e sentimentos da juventude, e outras tantas, de protesto político e social de uma geração de “quem sabe faz a hora, não espera acontecer” e o “galo já cantou, coró, coró, có, có”. Sabia conciliar os deveres acadêmicos, a política e a convivência com as diferenças.

​Eleito por uma expressiva maioria dos seus colegas à presidência do diretório acadêmico, representação estudantil consentida, mas vigiada pelos órgãos de informação e repressão do governo militar. Ismar agregou clandestinos, independentes, CDFs, esportistas e o respeito da direção, dos docentes e funcionários. Acolheu com moderação o contexto das vozes universitárias. Liderança hábil num tempo que exigia coragem para participar e protestar. A trajetória profissional, não foi distinta da liderança universitária. Optou pelo magistério em seu lugar de origem, até à fatalidade de um acidente, que o afastou temporariamente da rotina do “ensinar e aprender”. Adiante retornou em novos desafios e com o mesmo entusiasmo.

​Ismar jamais esquecido por seus colegas, admiradores e reverenciado pela sociologia clássica que classifica a liderança como tradicional, racional e carismática. Recolhido na merecida aposentadoria e humildade dos bravos e fortes, “pede desculpas pelo pouco que fez e o muito que deixou de aprender e fazer para o seu próprio bem e dos outros”.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo

 

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