ELEOTÉRIO

A IMPACIÊNCIA EM PESSOA

Jerônimo Nunes Peixoto, 23 de Dezembro, 2019 - Atualizado em 23 de Dezembro, 2019

ELEOTÉRIO, A IMPACIÊNCIA EM PESSOA

Mulher alguma pariu criatura mais rude, estúpida e intolerante do que Eleotério. No lugar aonde chegava, metia medo em todo mundo, só por causa da grosseria com que tratava os amigos e vizinhos. Em casa, a coisa era ainda pior. Na realidade, era um frouxo, pois nunca se ouviu dizer que tivesse dado em alguém ou que se tivesse metido em briga.

Quando via que a situação começava a ficar na zona de perigo, dava um jeito de se esquivar e, sorrateiramente, desaparecia, pondo fim ao desentendimento que poderia gerar desgraça própria ou alheia. Só era bruto!

Do Município de Itabaiana, Eleotério vivia no Povoado Cajueiro. Era honesto e trabalhador, mas impaciente em demasia. Por vezes, era flagrado brigando consigo, ou com o vento, pois esbravejava sem ter qualquer companhia.

Certa feita, ele veio à feira, como fazia todos os sábados. Resolveu comprar um par de sandálias de sola. Era o calçado melhorzinho à época em que viveu. A sandália de sola possuía duas correias que se entrelaçavam e, por trás do tornozelo, amarravam-se uma à outra. O solado era de couro duro. Era um calçado rústico.  Mas era o que o pobre podia comprar.

Naquele fatídico sábado choveu demais e o terreiro da casa em que residia, virou um mar de lamas. Era comum sair da feira por volta as onze horas, para se ter tempo maior de prosear com os amigos, no caminho de volta, sobretudo nas bodegas, onde havia uma pinguinha à espera. De bodega em bodega, uma talagada das boas, prosa, umas baforadas de cachimbo e o caminho ficava curto.

Eleotério chegou ao seu sítio e, quando sua mula pisou no terreiro, ficou atolada, com a barriga rente ao chão. Eleotério tinha exagerado na pinga, mas conseguiu desmontar, atolando-se também. Como já estava calçado com as alpercatas novas, essas ficaram sepultadas na lama. Ele esforçou-se por sair dali, mas não conseguiu retirar as sandálias.

Nervoso, com o prejuízo revoltou-se com Deus. Entrou em casa, pegou o bacamarte, olhou para o céu e esbravejou: “E! Aquele homem, de tão sabido que é, foi morar numa altura da peste dessa. Ninguém o vê! A gente querendo lhe dar um tiro, não sabe onde ele está”!

Noutra ocasião, sua santa mãezinha estava agonizando e Eleotério arrumou um bom cavalo para ir à cidade buscar o vigário, para oficiar a Unção dos Enfermos. Ao chegar à casa paroquial, foi informado de que o capelão havia saído cedinho para um povoado que ficava no outro extremo do município, para atender a uma agonizante. Naquela hora, seria impossível o padre acompanhá-lo.

Irritado, ele gritou: “Tenho fé em Deus que minha mãe morra daqui para amanhã. E, quando o enterro passar na frente da igreja e o padre perguntar quem morreu, vou responder: Foi a seiscentas mil Peste”!

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