PAPA FRANCISCO E A POLÍTICA DAS VANTAGENS

Jerônimo Nunes Peixoto, 17 de Fevereiro, 2020 - Atualizado em 17 de Fevereiro, 2020

O PAPA FRANCISCO E A POLÍTICA DAS VANTAGENS

 

Ao se encontrar com Pedro, Jesus lhe dirige, por três vezes, a pergunta: “tu me amas”? E, após a tríplice resposta do pescador, Jesus o confirma na coordenação do grupo que fundara: apascenta a minhas ovelhas! (Jo 21, 15-23). Esse encontro entre Jesus e Pedro está registrado no último capítulo do Evangelho de João, um acréscimo da comunidade que o engendrou, possivelmente. Por quê?

Certamente, conforme a teologia do quarto evangelho, Pedro é alguém que encontrou sérias dificuldades para aprender quem, na realidade, era Cristo. Para ele, o Messias esperado por Israel não poderia fazer as coisas humildes que Jesus fazia; deveria ter mais “status”, um prestígio bem maior, colocando-se entre os príncipes do mundo então conhecido, e não andar como um pobretão nas mais baixas classes econômicas. Ainda, não poderia sentar-se à mesa e lavar os pés aos discípulos.

O Evangelho joanino faz um paralelo, desde cedo, entre Pedro e o Discípulo Amado, que nunca teve nome naquele escrito, mas que fora identificado com o apóstolo João. Na verdade, todos os homens e mulheres são chamados a ser o Discípulo Amado, independentemente de gênero, de etnia, de cultura. Basta fazer-se discípulo! Eis o grande desafio nos tempos atuais.

Pedro está acostumado com uma sociedade de desiguais, onde uns poucos mandam e a maioria esmagadora obedece e serve, com um serviço subserviente. Jesus, ao invés, vem propor um projeto de vida partilhada, em comum, em que todos devem ser iguais, sem privilégios de qualquer espécie. Daí a dificuldade de compreender Jesus. Pedro está sempre em desvantagem – em relação ao discípulo amado, ao longo do escrito joanino – pois lhe custou caro aprender o sentido do discipulado.

É no AMOR A JESUS que se pode fazer discípulo(a)! Sem esse amor que leva às últimas consequências - amou-os até o fim (13, 1), não se pode chegar ao discipulado, pois ser discípulo é seguir o Mestre. Jesus amou a humanidade a ponto de, em obediência o Pai, livremente entregou-se à morte de cruz. Sob a ótica político-histórica, ele foi entregue pelos sacerdotes e doutores da Lei. Mas, livremente entregou-se, por Amor. É esse mesmo amor que ele exige de quem deseja se fazer discípulo dele. Por isso, ao fim do evangelho, a comunidade quis registrar o amadurecimento de Pedro e o seu árduo papel de coordenar, sob a ótica do amor.

A partir da polarização política que se arrasta pelo Brasil a fora, muita gente está sendo manipulada para encabeçar uma onda de críticas desrespeitosas ao Papa Francisco, por sua postura de servir e de ir ao encontro dos esquecidos pela sociedade. Em nome da fé católica, muitos estão se levantando e agredindo o Papa, pois deseja que ele seja um Rei Político e não um servo de Deus. Pior! Muitos políticos de extrema direita – em conluio com autoridades eclesiásticas que entendem o cargo como mero “Status” desejam desqualificar o Papa. As artimanhas do poder envaidecem e destroem a pessoa. Muitas pessoas que se dizem católicas querem o fim do Papa.

Não é preciso dizer que essa atitude não é cristã! Onde se encontra – na Tradição da Igreja – já que são tradicionalistas, ou nas sagradas páginas, fundamentação para tirar o Papa? Somente na velha politicagem das vantagens e da subserviência estão os fundamentos para um grupinho insatisfeito com o Papa dos pobres e marginalizados agir de forma tão anticristã.

Por trás de muitas atitudes está a ideologia da extrema direita que não deseja perder seus privilégios. Estes são construídos sobre a miséria dos povos que vivem à margem da sociedade. Esses falsos católicos nem está aí para o que o Papa pensa. Eles não querem perder sua posição de donos do pedaço! Quando se trata de defender seus umbigos, eles saem atirando para tudo quanto é lado, inclusive fazendo alianças espúrias, em nome da Moral e dos bons costumes. Bons costumes? Atingir o Papa não seria um péssimo atentado aos bons costumes?

Está na hora de nos perguntarmos a nós mesmos? Nós amamos Jesus Cristo, do jeito que Ele é? Nós queremos o bem do próximo ou só defendemos nosso interesses? Como defender bandeiras tradicionalistas, sem buscar a unidade na Igreja? Como afirmar que somos católicos, sem comunhão com o Papa? Como querermos defender a doutrina tradicional, sem lhe dar contornos atuais, frente à dura realidade de fome, de miséria e de exclusão social? Afinal, qual foi a atitude de Jesus, no Templo, onde a liturgia triunfalista exigia o cobre dos pobres, até o último centavo, para engordar sacerdotes e mestres da Lei? Deixemo-nos guiar pelo Amor a Cristo e rezemos pela unidade da Igreja, a fim de que ela seja servidora da vida, sacramento de salvação e sinal de esperança para a gente sofrida e espoliada. Abaixo as políticas da baixaria e da mesquinharia. O Reino é para todos. Ninguém pode-se considerar melhor ou pior. Pedro, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas!

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