ANTÔNIO DE DEJANIRA, VENDEDOR DE AMENDOIM
Por Jerônimo Peixoto
ANTÔNIO DE DEJANIRA, VENDEDOR DE AMENDOIM
Um homem franzino, de média estatura, semianalfabeto, pobre ao extremo. Um aventureiro que, a maior idade feita, decidiu ir para São Paulo, objetivando arranjar a vida. Passado um período por lá, tendo experimentado coisas do arco da velha, desiludiu-se e veio embora. Para pobre e analfabeto, tanto faz o Nordeste, o Sul ou o Norte: só vislumbra a morte, sem amparo e sem sorte. a vida lhe seria inclemente.
Nascido na Igreja Velha, em era dificílima, tinha uma irmã por fortuna, um pai ausente e uma mãe batalhadora que o ensinou a sapecar a enxada no chão, para fazer a terra ressequida germinar, após um março de chuvas, uns pés de aipim, de batata roxa e de mandioca. Era preciso encher o bucho de farinha molhada, única sustança de que se valia para driblar a aspereza da vida. Quando até a farinha mostrava seus últimos grãos, no fundo do saco de pano branco, o remédio era se valer na vizinhança de boa natureza, que lhe dava uma mão cheia de farinha ou uma raiz de aipim. .
Na casa de Pedro Corisco, encontrou a suavidade de um perfume que lhe inebriaria a alma, acalentando-lhe a pesada passagem pelo rio de amargura que eram seus dias. Mas, ao juntar os trapos, apareceram mais desafios. Ainda mais para piorar o “impiorável” dever de existir, vieram os achaques do vento (epilepsia), que tornavam mais angustiante o seu penar.
A "fulô" de Francisquinha de Pedro Corisco começou a lhe dar filhos, uma carreirinha se seres que teriam a mesma tosca sorte, não fossem a coragem e o engenho que rondavam o miolo desse amalucado Antônio. Montou-se num caminhão e foi para o Aracaju, vender amendoim, e o que mais lhe aparecesse sob o signo de oportunidade para ganhar os trocados endereçados a matar a fome da filharada, que insistia em crescer. Numa atitude de extremada coragem, jogou todo mundo num carro e levou a família para a Capital.
Um balaio sobre a cabeça, do Matadouro ao mercado central a pé, dali para a Atalaia, para onde houvesse ajuntamento, ele rumava esperançoso de fazer as custas e o minguado lucro com que traria para casa o engana-tripa. Certa feita me confidenciou: "meu filho, eu tive tudo, todas as razões para pegar no que era alheio, mas nunca o fiz. Chegava em casa, após um dia inteiro de idas e vindas com o balaio no casco, e não jantava, fingindo estar sem fome, para meus filhos forrarem o estômago"! (Sic!)
Belo exemplo para uma turma nova, desavisada, deseducada e desleixada, mais afeita às coisas indecentes. Magnífico exemplo aos políticos que pouco fazem, esbanjando dinheiro alheio, sem valorizar os pobres, como Antônio de Brasilino “Cabeio”! Educou os filhos, aposentou-se e continuou trabalhando, pois era como bicicleta: parada, ou encostada ou caída!
Aos 84, foi derrubado por uma motocicleta, cujo ronco do motor a surdez não lhe permitiu ouvir, e deitou-se, definitivamente, nos Braços do Pai Eterno, onde não há balaios de amendoim para vender, nem ruas a subir a descer, nem fome a driblar. Faz dois anos que se foi, mas está muito vivo na memória deste filho de seus compadres que, lá na família dele, tiveram quatro afilhados.
Deus o acolheu, Cabebio! O Senhor venceu, com um balaio à cabeça, a transitar pelos quatro ventos do Aracaju que o acolheu como filho. Pasmem! Ainda conseguiu duas casas com dignas condições de moradia; viveu numa delas e alugou a outra, para reforçar a compra dos remédios para si e para Maria do Carmo, sua “fulô” perfumada. Ali, viveu as mais favoráveis épocas de sua passagem entre nós.
Tenho saudades de ouvir suas encrencas e seus famosíssimos: " é porque..." Saudades de um homem de bem que honrou o nome, a família e os amigos. Tenho orgulho de tê-lo conhecido e admirado, de perto, o seu exemplo de vida. R.I.P.
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