Eleições 2020 : O Teatro das Tesouras em Itabaiana (Por Mateus Melo)

Artigo de pura opinião e fruto de análises da realidade.

Mateus Melo, 09 de Setembro, 2020 - Atualizado em 17 de Setembro, 2020

 

O teatro das tesouras em Itabaiana.

 

 "O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol." Eclesiastes 1:9

 

A política de Itabaiana tem diversas particularidades e uma, das que mais me chamam a atenção, é a sua capacidade de conversar com os temas universais, com os pensamentos e  as ideias que perpassam as mentes políticas em todo o Mundo. De estratégias a técnicas de manipulação em massa dignas de campanhas presidenciais, com debates acalorados e que trazem todos os discursos à mesma fonte de interesses.

Exemplo disso é a atuação, nesse "Teatro das tesouras", entre personalidades de dois agrupamentos políticos de Itabaiana nas eleições para prefeito de 2020. O agrupamento dos Teles de Mendonça encabeçado, desde que a herança do poder caiu às suas mãos, pela Deputada Estadual Maria Mendonça, nutriu sempre aversão e inimizade pelo agrupamento de, também Deputado Estadual, Luciano Bispo. Maniqueístas por natureza. Dois lados, como a luz e as trevas (sem dar aqui o valor da analogia a qualquer dos lados), que se digladiam nas arenas das urnas a cada eleição e em seus entremeios. O fato estranho, que dá o tom dessa tragédia grega, apresentada nos palcos da mídia e das aparências sociais na cidade, é que o atual prefeito do município tem sofrido ataques conjuntos e coordenados dos dois agrupamentos.

Ao contrário do que muitos pensam e, sobejamente, espalham por aí, não somos tábuas rasas, nem muito menos folhas em branco à espera de que a tinta nos molde da forma como imaginamos. Nascemos imersos em diversas circunstâncias, desde a infância que carregamos, nos ombros, milênios de influência e de história que unem a humanidade nesse conjunto tão disforme e, ao mesmo tempo, com a capacidade paradoxal que lhe é inerente, tão homogêneo.

As mentes que hoje encontram o caminho do pensamento e da ação, invariavelmente, não conseguem navegar por mares nunca dantes navegados. Todos nós sofremos as influências das ideias de várias mentes que, ao longo do decurso do tempo, esmeraram-se no trabalho de pensar e de observar a realidade na busca pelo conhecimento. Auguste Comte, idealizador e pioneiro do Positivismo científico, já dizia que "os vivos são sempre, e cada vez mais, governados pelos mortos". Ou seja, as ideias, costumes, hábitos culturais, tendências pedagógicas e tutti quanti, são frutos de mentes que já se foram, que já deram a sua contribuição ao curso da espécie.

Para voltarmos ao que tem motivado a escrita deste texto, como expressão de uma análise cuidadosa e interessada pela verdade, devemos lembrar de quem forjou essa estratégia política e a nomeou de "teatro das tesouras", que pode ser identificada nas ações externas dos agrupamentos dos Teles de Mendonça e de Luciano Bispo, destinadas ao público, que diferem daquelas forças que atuam, para usar um antigo ditado português, por baixo dos panos do Rei. Pois bem, vamos a ele, o criador desse método.

Vladimir Ulianov, que você deve conhecê-lo pela alcunha de Lenin, foi um revolucionário que atuou na tomada e na manutenção do poder da ditadura comunista na Rússia a partir de 1917. No intento de minar as forças de outros partidos políticos existentes no país, que concorriam e atrapalhavam os planos da tomada do poder pelos comunistas, ele percebeu uma forma de manipular a incauta massa da população russa. Para isso, seria necessário que dois partidos, ambos comandados por baixo dos panos pelos comunistas, aparentassem rivalidade e, juntos, atacassem e minassem os outros partidos. A ideia é simples: ocupar a maior quantidade de espaços no debate público e, no momento certo, atacarem juntas o outro partido que despontasse. Dessa forma os dois saíam ganhando enquanto revezavam o protagonismo de fachada nos palcos da mídia e do poder.

Por mais que, talvez nenhum dos políticos itabaianenses tenham tido o conhecimento dessas ideias ou até mesmo do próprio Lenin, (que eu, por afeição patriótica à terrinha, quero acreditar que sim) é até fácil identificar o uso desse método no cenário político de Itabaiana. Os analistas políticos e filósofos das ruas e grupos de Whatsapp, já deram novo nome à essa estratégia, nome por sinal carinhoso: Conexão MariLu. Mesmo que, como disse no início do texto, eles não saibam das raízes dessas ideias e estratégias, tem sido fácil identificar que há algo estranho dando as caras no debate público referente às eleições deste ano.

Há, em Itabaiana, rádios que são estandartes e verdadeiros bastiões desses agrupamentos. É como se a voz dos líderes ecoasse por essas ondas até os ouvidos da cidade. Os programas "jornalísticos" são o instrumento de propagação de vontades, desejos e ataques aos adversários. Fato atípico tem sido notado nas falas dos respectivos apresentadores desses programas, a similaridade de pautas, a participação de quase os mesmos ouvintes, as cobranças ao poder municipal sendo sincronizadas e outro fato que, pela história desses agrupamentos, seria inimaginável, é o ato de dar voz a figuras tarimbadas do agrupamento adversário.

Para quem conhece um pouco da história política de Itabaiana e de seus trejeitos, ouvir a voz de Luciano Bispo na rádio dos Teles, seguido por elogios, seria, até poucos tempos, coisa de outro mundo. Assim como ouvir elogios à deputada Maria no programa que exalta a figura do presidente da Alese. A aparência que tem sido apresentada no espelho da opinião pública, é de que a consonância entre os agrupamentos se faz em virtude do único desejo de vencer o prefeito Valmir. E não se trata aqui ainda de "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Os ânimos ficam exaltados e a pressão costuma atingir seu pico sempre que qualquer insinuação desse concerto seja proferida por quem quer que seja. É fácil perceber as forças "contrárias" arregimentando seus exércitos para a peleja.

O mais engraçado, e nem por isso menos importante, é que atribuem ao atual prefeito de Itabaiana a alcunha de traidor dos Teles, traidor da história dos Teles. O que mais tem importunado os meus momentos de reflexão, na busca de um norte sobre tudo isso, é que Valmir não se juntou a inimigos antigos e conhecidos para "destruir" os Teles. Mas o contrário tem sido bem verdadeiro, a aproximação, mesmo que tímida e soturna, entre os Teles e Luciano é assunto certo nas rodas de análise e opinião na cidade.

Fico feliz que até aqui eu tenha conseguido encontrar um nó que amarre essas pontas que, até então, pareciam não fazer muito sentido se analisadas fora do escopo da história. Todavia, há algo ainda que, de acordo com todo o exposto (e, como vimos, o secreto também), não tenho conseguido achar uma resposta definitiva. O traidor é Valmir mesmo ou os Teles que traíram o seu próprio agrupamento ao se unir, mesmo que de forma furtiva, a Luciano Bispo, seu inimigo primordial?

 

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