Uma Crônica sobre a Arte (Tácio Brito)

Colocações sobre a descoberta da arte num mundo acinzentado pelos receios

Tácio Brito, 20 de Janeiro, 2021

Sugestão de música para este texto.
 
---
 

O tempo passa e ele esfria nosso coração. As relações tornam-se formalizadas conforme avançamos pela roda do tempo. O encanto que arrebata mente e coração, quando se manifesta, se faz por um breve período, o qual parece diminuir a cada vez. Tudo fica tão mais difícil de ser sentindo, pois medos e receios se antecipam aos sabores da vida impondo uma falsa prudência, dolorida e violenta em holocausto de nossa emoção. Envenenados pela a apatia, nos colocamos em uma busca suplicante de nos afastar de nós mesmos. Afastamo-nos dos sentimentos dando lugar a uma lógica tétrica que assume o controle das cordas do titereiro no teatro da vida adulta.

Em oposição a essa dolorida realidade, um fôlego de esperança surge transmutado em arte. Ela se desvela como uma brecha ao racionalismo estranho e tal qual o brilho do fogo emanando através das brechas de uma parede sólida, deixa escapar nossas oprimidas sensações.

As emoções arrebatadoras deslisam por nossa alma cansada tal qual seiva que brota no tronco de uma árvore ferida e escancaram a nossa primeva capacidade humana: a de sentir.

Todavia, sozinha, a arte é apenas uma escapadela que ora ou outra surge pra dar respiro às nossas almas agonizadas neste mundo letárgico. Sua natureza plena exige inesperada coragem para que os frutos de sua luz quente possam florescer. É preciso trabalho braçal. É preciso uma certa violência contra a parede fria. É preciso que os punhos sangrem, que os ossos apareçam. O dor fará com que você se ponha em dúvida, perguntando o porquê de estar fazendo aquilo? O porquê de se submeter a uma dolorida caminhada em busca de emoções? Apresentando-lhe a atração sedutora da prudencia obediente ao acomodar-se na apatia sórdida.

Entretanto, optando por seguir o caminho de quem enfrenta a caverna platônica, o buscador se descobre vivo. Se descobre sentindo! E ao fechar os olhos é capaz de sentir na pele o calor da luz, o vento doce da brisa, os cheiros sutis de mil sensações. Suas mãos ainda sangram, a dúvida não foi embora dúvida, o medo e a insegurança espreitam aguardando um lapso nesse admirável mundo, mas a arte está lá, como uma sentinela. Não para ser apenas o vento cálido, mas para ser também tempestade. Para ser. Para viver além das cordas do titereiro. Cavando verdades e desnudando mentiras em conflito em nossos corações.

“A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida, portanto fazer com que nós próprios nos tornemos suportáveis e, se possível, agradáveis uns aos outros.” — Friedrich Nietzsche

O que você está buscando?

google-site-verification=GspNtrMqzi5tC7KW9MzuhDlp-edzEyK7V92cQfNPgMc api.clevernt.com/3ed9a8eb-1593-11ee-9cb4-cabfa2a5a2de/ google-site-verification=GspNtrMqzi5tC7KW9MzuhDlp-edzEyK7V92cQfNPgMc