OURO DE TOLO

José de Almeida Bispo, 14 de Agosto, 2022 - Atualizado em 14 de Agosto, 2022

 

 

A Globo vai acabar. Fiquei esperando a Globo acabar. Apesar de apostas temerárias de “guetagem” - se tornar gueto do identitarismo em geral - em que ainda permanece, a vênus platinada resiste.

A Record vai engolir a Globo. Parecia, ao início. Com capitais fartos, investindo horrores em parque tecnológico, a emissora eminentemente paulista prometeu; mas eu sabia que por natureza seria voo curto: a Record é uma emissora religiosa, acima de tudo. Sua fonte de financiamento é a religião que a embasa e ela é naturalmente limitante como emissora plural; para todos. Dentro da mesma lógica, nenhuma outra rede, de qualquer religião jamais sonhará em ter um quinto do que teve a Rede Globo com a novela Roque Santeiro, mesmo que a reedite, no mesmo padrão. E a Record se revelou tal como é: uma emissora focada na religião a que pertence. Grosso modo comparando, tal o SBT, que feito para dar suporte a jogatina nunca foi além disso.


Neste interim, a Rede Globo também caiu na armadilha da “fonte segura” de financiamento ao mudar seu núcleo de produção praticamente para São Paulo e ser capturada pelo velho provincianismo paulista. Deixou de ser nacional para ser paulista. Todavia, como preserva boa parte da estrutura de quando era uma emissora carioca, ainda contaminada com o federacionismo da ex-capital da República, vem se mantendo.


O rádio acabou? Diluiu; enfraqueceu; mas os prefixos que se mantiveram fiéis de algum modo ao estilo anterior permanecem vivos; e se não guinaram-se ao topo com antes, deve-se menos às adaptações à era do streaming e da maciça interação via redes sociais que às leituras apressadas de seus gerentes, quase sempre atabalhoadas e movidas pelo medo da anunciada queda iminente do que à materialização desse cipoal de maus agouros, quase sempre alarmistas.

Universo: razão e ordem
“Reparem, a multidão precisa de alguém mais alto a lhe guiar”. Verdade maior que essa, expressa por José Domingos de Morais, o grande Dominguinhos (In Quem me levará sou eu), impossível.
Por mais que o espírito rebelde da humanidade se debata, se rebele, mas o líder – pessoa, empresa ou instituição – sempre será indispensável. Logo, o mangue que aparentemente se formou com o advento da internet (todo mundo falando com todo mundo ao mesmo tempo) tende a se organizar. Sob outro nível, mas a busca por algum ordenamento é líquida e certa.
Em artigo de hoje, em sua coluna no Uol, Guilherme Ravache, (em “Porque a Netflix perdeu a liderança e a era de ouro do streaming acabou”) dá uma pista, não do fim; mas da necessária rearrumação no mercado de vídeos (filmes e documentários, p.e.), e também aponta os motivos dela estar ocorrendo como ora ocorre.

A qualidade sempre em primeiro.
Ao apontar que apenas em dois anos a Disney+ ultrapassou em assinantes a Netflix, de quinze, Ravache traz para o debate a velha pendenga entre qualidade versus quantidade. Enquanto a Netflix investiu em milhares de produções com sérias deficiências de qualidade, enchendo sua plataforma de tro-lo-lós (tenho enorme dificuldade em achar alguma coisa que preste) a Disney, dona de um portfólio invejável de produções antigas, e ainda mais com a aquisição da Fox Filmes passou rapidamente a oferecer qualidade, a maior parte dela já testada e aprovada. Um banho.
Dias atrás contei: 37 filmes iniciados na Netflix com imediata desistência de assistir aqueles xaropes. A maioria de claro baixíssimo orçamento; mas de principalmente baixo talento. Apesar de em boa parte se notar boas interpretações. E olha que pouco assisto filmes.
Na sopa, quase sempre indigesta que se tem transformado o mercado artístico fica parecendo que acabou a qualidade; e que o mundo atual detesta qualidade. Porém não é bem assim. Se se está a consumir produto de péssima qualidade é porque tradicionalmente a massa sempre foi refratária a ela; pouco exigente. E, ora empoderada, sem “alguém mais alto a lhe guiar” e sim a apenas surfar em marolas de questionáveis resultados tem restado isso.
Eu creio que essa maré de detritos vá passar.
Tomara, meu Deus tomara.

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