UMA DATA MEMORÁVEL.

José de Almeida Bispo, 22 de Fevereiro, 2022 - Atualizado em 22 de Fevereiro, 2022

Das querelas políticas do Império Romano, uma, em especial, entre os civilistas imperiais de Gaius Otavianus e militaristas de Iulius Gaius Caesar sobrou para os bissextinos nascidos a 29 de fevereiro: só de quatro em quatro anos são levados a comemorar seus aniversários no “dia certo”, devido a tunga de um dia de fevereiro para acrescentar ao “mês do divino Augustulus” ou mês de agosto. O princípio vale para tudo; inclusive para emissoras de rádio. Para a Rádio FM Itabaiana, que completará 30 anos no último deste fevereiro, que neste ano será dia 28, segunda-feira.
Em fins de 1991 fui convidado pelo colega radialista e amigo, mestre e uma lenda do rádio sergipano, João Batista Santana, para aquela que seria minha última aventura no rádio.
A equipe se baseava num núcleo já de boa experiência, onde João era a estrela maior. Ao contrário das duas experiências anteriores na cidade, a FM Itabaiana já nasceu com a cara da maturidade profissional, recheada de recursos técnicos e um excelente time para os operar.
Havia cinco anos que a mídia eletrônica, o CD tinha suplantado o vinil e a fita cassete. Os computadores ficavam cada vez mais robustos e já se falava na massificação da internet, algo ainda distante diante da obsoleta tecnologia analógica de transmissão de dados via telefonia fixa. O Windows 3.0 acabava de dar uma virada na história dos computadores pessoais; porém, ainda uma ideia distante, eu não tinha a dimensão do quanto o chão tremia sob os meus pés; nem que minha atividade precípua, qual seja a de programador musical havia acabado.
O mundo se tornava cada vez mais rápido; as músicas agora estavam sendo editadas e reeditadas em formato digital e cinco anos depois, a popularização do computador pessoal, e da gravadora particular de CD promoveria uma revolução acabando o relativo monopólio de escolhas e condução da sociedade frente a musicalidade; democratizando-a, ao mesmo tempo derrubando a qualidade e, por fim, com a tecnologia do mp3, popularizada no finzinho do século com a entrada em 1999 do Napster, à pirataria geral e irrestrita, com consequente quebra das grandes gravadoras. Foi o fim do jogo. Dez anos depois o sistema criado desde que o primeiro vinil foi prensado tinha ruído, evaporado, e isso afetava diretamente as emissoras de rádio, canal por excelência de popularização da comunicação de massa; no modo como passaram a operar. E minha profissão-base no rádio caiu na total obsolescência.
Também não houve como expor a minha pouca criatividade na programação geral da emissora, para a qual verbalmente eu havia sido convidado. As minhas intervenções na área se limitaram a participar da escolha do reforço de pessoal na locução, e voto de minerva na escolha do excelente jogo de vinhetas encomendado pelo então dirigente máximo, José Carlos Machado. Para não ficar completamente de marajá passei a produzir um texto cultural de vinte segundos, soltos na programação, nos intervalos comerciais, e que desapareceria com a chegada da campanha política daquele ano, a partir de julho. Ao fim do ano me desliguei da emissora.
Terceira emissora de rádio a ir ao ar em Itabaiana, a Itabaiana FM chegou diferente das outras duas anteriores e da outra FM que foi ao ar um ano depois.
Também ligada à política – José Carlos Machado está na política desde a primeira administração João Alves Filho na Prefeitura de Aracaju – contudo, a FM Itabaiana não veio compromissada com o resultado imediato, mesmo sendo inaugurada em ano eleitoral municipal, e Machado firme partidário de então sainte prefeito Luciano Bispo e, abraçando, como o fez a candidatura que seria vitoriosa de João Alves dos Santos, o João de Zé Dona. É que além de Machado em pessoa ter outro estilo, menos direto, mais sutil, não havia a necessidade de centrar fogo pesado nos adversários. Modéstia à parte, fruto da minha intervenção junto a Luciano Bispo, intermediada pelo saudoso José Américo Teixeira Lobo, aquele tinha virado o jogo em 1989, ao levar Gilmar Carvalho, hoje seu colega na Assembleia Legislativa para a novíssima Rádio Educadora de Frei Paulo, com óbvia penetração em Itabaiana, retirando-o da então ferozmente opositora Capital do Agreste e tornando-o aliado. Machado tinha, portanto, folga para impor qualidade total em sua emissora sem perda do viés político. E assim foi feito.
Foram tempos de acentuadas transformações no município. Fruto dos últimos suspiros do Nacional-Desenvolvimentismo que começaria a morrer em meados da década, estava a se colher safras e mais safras de hortaliças nos perímetros irrigados; a já centenária indústria cerâmica estava dando mais um salto com a transformação das simples olarias em imensas fábricas da blocos, melhoria geral na infraestrutura, a Constituição de 1988 redistribuiu o bolo, levando a Prefeitura a mais poder de investimento e até o Estado.
A Rádio FM Itabaiana simboliza a consolidação de transformações que ocorridas em Itabaiana na década de 1980 e com repercussões até os dias de hoje.
E eu também estive lá no seu nascimento.
Meus parabéns à jovem senhora!

Que venham outros 30 e mais.

P.S.: Alertado pela colega radialista Lenildes Mota, corrigi a antiga denominação, "Itabaiana FM", por nós usada pela nova, "FM Itabaiana". A medida é para a diferenciar com a emissora da homônima cidade paraibana. Peço desculpas pelo lapso. Infelizmente o Decreto-Lei 311/38 do Estado Novo não está mais em voga; e mesmo que estivesse só valeria para desambiguar topônimos municipais; não para empresas.

O que você está buscando?

google-site-verification=GspNtrMqzi5tC7KW9MzuhDlp-edzEyK7V92cQfNPgMc api.clevernt.com/3ed9a8eb-1593-11ee-9cb4-cabfa2a5a2de/ google-site-verification=GspNtrMqzi5tC7KW9MzuhDlp-edzEyK7V92cQfNPgMc UA-190019291-1 google-site-verification=GspNtrMqzi5tC7KW9MzuhDlp-edzEyK7V92cQfNPgMc