TEIMOSIA ETERNA

José de Almeida Bispo, 26 de Março, 2022 - Atualizado em 27 de Março, 2022

Cobrem tudo de concreto, de asfalto? Não tem problema: a velha criatividade de fazer traves para o gol com alpercatas (e tamancos, quando existiram) permanece. (Detalhe, mais claro na foto inteira)

Estavam em repouso, não deu pra saber se pré-jogo ou intervalo; a bola em repouso na calçada, mas as traves estavam devidamente assinaladas, demarcadas para no momento certo, do vacilo de um lado ou de outro a bola por ali passar para júbilo de quem chutou e do seu próprio time. No asfalto. Duro e ainda pouco quente do sol vespertino a cair rumo ao horizonte para fechar mais um ciclo diário.
A geração dos seus pais, certamente usou o campinho formado por uma franja de solo, parte coberta de grama, parte na areia. Porém eles tiveram a sorte atropelada pelo progresso, da religião, inclusive, que usando o espaço que sempre lhe pertenceu, doado por D. Caçula Teixeira, em 1999 inviabilizou completamente o futebol infantil com a grande ampliação da capela. E o encanto ficou prejudicado.
Porém hoje, os filhos daquela geração, garotos entre oito e doze anos no máximo, mesmo preocupado com o trânsito, teimaram em sonhar com as grandes jogadas. No asfalto. Além da perda do terreno adjacente à capela de São Luiz, fora da rua, portanto. Itabaiana em 1999 tinha pouco mais de sete mil veículos motorizados; hoje são sessenta e três mil. Sem sossego, pois, nas partidas de rua.

Rumino meus parcos pensamentos e continuo descendo a rua, fazendo o pequeno trecho que há séculos atrás viajores faziam as longas jornadas para Salvador ou “cidade de Bahia” - como assim se referiam os antigos - desembocando no estacionamento do Estádio Etelvino Mendonça.
O Estádio está em uso: tem partida de futebol profissional.
Desligado do futebol desde que os eventos de entretenimento se tornaram... “profissionais” demais, com algumas exceções, mas vejo que no estacionamento de pouquíssimos veículos há um ônibus que mais se parece de uma banda dessas popularescas que pululam por aí, que enverga a grife FALCON (Não é Falcão; português). Uma rápida consulta na internet vi que está sediado na Barra dos Coqueiros. Time forte: aplicou uma goleada de seis no oponente Freipaulistano. O futebol, adotado pelo povo se transformou numa máquina de fazer dinheiro, inclusive de modos suspeitos. De repente nomes consagrados, times do futebol nacional estão virando empresas privadas de novos-ricos, sabe-se lá de onde ganhou tanto dinheiro.
Mas a gurizada das ruas São Luiz da vida vai continuar a teimar em fazer traves de “japonesa” e bater aquele bolão. Mesmo que cubram tudo de concreto. 

Eu adoro teimosos. Por uma boa causa.

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