O LADO ESCURO DO IDENTITARISMO.

José de Almeida Bispo, 13 de Abril, 2022 - Atualizado em 13 de Abril, 2022

A Alemanha suportou inflação de 25 mil cento, humilhações pós-Primeira Guerra, etc.; mas tudo veio abaixo quando tudo isso se juntou ao que para o cidadão médio significou as violentas quebras de costumes. A partir de 1935, imigrantes, os grupos identitários estavam em fuga ou em fogo: dos fuzis e dos crematórios. Selvageria.

A identidade é fator intrínseco ao ser humano. Por extensão, sua família, seu grupo parafamiliar, seja ideológico ou não, sua cidade, região, estado, nação; a identidade tem de existir. Do contrário, não passa de um indivíduo, inseguro e presa fácil dos próprios medos e de ameaças externas à sua própria existência.
A civilização é justo um mecanismo de sobrevivência macro, onde o ser se apoia em regulamentos ou convenções de grupos pluralizados, que se protegem; uma falange em quem os indivíduos se completam uns aos outros, em todos os momentos, gerando proteção geral e garantindo a sobrevivência.
Porém, quando grupos temáticos começam prevalecer prioritariamente, condenam-se eles e aos demais à extinção. Seja por aridez, esterilidade, improdutibilidade de suas ações limitadas e circunscritas a seus interesses reduzidos, naturalmente não absorvidos pelos demais; seja por naturais contrariedades destes. Questões até de vaidades. Daí a necessidade da política e dos seus agentes – os políticos - limitados nas suas ações por códigos de conduta, implícitos, através da educação social e seus efetivos costumes; e por explícitos, mediante leis e sistema de efetiva aplicação destas.
Sem os mediadores políticos a sociedade está perdida.
O Estado, que engloba todo o arcabouço é imprescindível e inevitável. Se um Estado é dissolvido, ou cai em desconfiança generalizada, gera insegurança e imediatamente outro, de qualquer natureza, até mesmo bandido assume o lugar. E aí, a sabedoria: o Estado não pode ser enfraquecido. Para evitar assaltes a seus tesouros.
O Estado é uma maldição/benção humana; mal necessário, eternamente. Sem ele está tudo perdido. Por isso não pode ser segmentado entre bandos ou grupos temáticos, sejam eles a princípio cheios das melhores intenções e projetos ou meros tiranecos a quererem abiscoitar o poder para suas restritíssimas finalidades.
A forma mais clássica de enfraquecer um tecido é desfiar-lhe fio por fio até que venha o grande rasgão. Irremendável. Numa nação, se a divide ocultando, sublimando todos os interesses gerais para concentrar-se nos mais egoístas, individualistas dos grupos temáticos que, mesmo que venham demonstrar zelo político pelo tema geral, isso mais servirá como justificativa dos antagônicos e respectivas resistências a qualquer formato comum, a bem de todos. São grupos condenados a vitórias mínimas ou nem isso; mas fator de derrota geral. Males necessários, portanto até certo ponto toleráveis; mas sempre mais males.

Políticos como meros bonecos.
Tem sido missão da banca, dos financistas, há dois séculos: substituir os Estados acabando com sua alma – os políticos – e deixando seu corpo íntegro, gerido por burocratas robotizados, os Boris Johnson da vida.
Começou justo pela Inglaterra, onde a ascensão da Alemanha, fornecendo poupança, e dos Estados Unidos fornecendo investimentos e a armas deu segurança ao sistema. Enquanto isso foi tomando a periferia mundial, a começar pelo Brasil, em 1822. Depois continuou no entreguerras (1918-1938) com o medo do sucesso momentâneo do projeto soviético; a seguir explorou o medo americano até também tomar a maior nação do mundo em 1972. Impressiona até hoje as imagens de um agricultor íntegro - Jimmy Carter - na presidência americana esboçando a todo o momento seu ar de impotência diante do descalabro financista que já dava seus primeiros passos de definitiva tomada do poder. Em 1990, com finalmente o colapso do regime de Moscou veio a vitória total. E a promoção “científica” do identitarismo mundo afora, deslanchou, sem gastar um tusta a mais, já que o sistema esteve o tempo inteiro no comando da imprensa mundial.
Como nada é para sempre, e como não se esconde rato deixando do fora o rabo, destruíram o projeto soviético, mas acordaram um dragão que dormia há um século e meio, vomitando fogo a três por dois.
O exacerbamento desse caldeirão de movimentos temáticos, especialmente os identitários – logo centrados, egoístas e estéreis - tem produzido medo nuns, desmobilização noutros e reacionarismo doentio em quase um terço da população, onde a imediata vítima foi a política partidária, mas que não para aqui. Como dito, “A cadela do fascismo está sempre no cio”.
E esse grupo, o do fascismo, mesmo não englobando todos os outros, mas, empoderado é muita vezes maior.
Ah, o fascismo não é política; em contrário, é a negação dela. Por espertalhões e pelas legiões de desesperançados, apressadinhos ou preguiçosos que pensam ser possível a omelete sem ovos; a vida social sem dar trabalho.

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