MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO E ALMAS - A MÃE DA CIDADE DE ITABAIANA

José de Almeida Bispo, 29 de Abril, 2022 - Atualizado em 29 de Abril, 2022

Recebi uma mensagem de uma amiga solicitando subsídios em forma de fotografias acerca da trissecular igreja matriz de Santo Antônio da Itabaiana. O que naturalmente me é um grande prazer colaborar, e não somente por ser católico; mas também por ser apaixonado pela história da nossa urbe e sua formação.
O trabalho, mais um a ser produzido pela excelente ilha de produção da TV ALESE, me adiantou ela será sobre o histórico da velha matriz; deduzo que para exibição durante a festa de Santo Antônio, daqui a um mês.
Aqui cabe um parêntesis para falar da excelente qualidade das TVs públicas sergipanas, e, justiça seja feita, na medida do possível até das TVs comerciais, limitadas, naturalmente pelas leis de mercado, além das regras das redes das quais fazem parte. Mas o pouco que tenho acompanhado da pioneira e cinquentona TV Sergipe também é bastante satisfatório, mormente na sua produção jornalística local.
Bem, mas voltando à nossa matriz principal, ela simboliza Itabaiana e toda a mesopotâmia, entre os rios Sergipe e Vaza-Barris. Jamais existiria hoje Itabaiana; talvez fosse mera lenda motivada pela lembrança, não fosse a presença da nossa matriz a congregar ceboleiros, da Cotinguiba ao Cansanção; do Sergipe ao Vaza-Barris.
Ponto de cuidados dos portugueses, desde que foi avistada por Américo Vespúcio por volta dos dias oito a dez de outubro de 1501, e por ele batizado de Santa Maria da Graça, as “Serras Moradas dos Homens de Onde os Rios Vêm”, ou resumido, Itabaiana, em tupi continuou no imaginário de reis, exércitos e piratas europeus até o século XVIII, primeiro como uma grande mina de prata; e logo a seguir, de ouro.
Mas foi caindo em desencanto à medida que os minerais não apareciam. Primeiro perdeu metade do gado com a invasão holandesa, de 1637; e a seguir com a Rebelião dos Curraleiros, de 1656. Depois, com a descoberta do ouro de Minas Gerais, as atenções mudaram todas para lá e todo o Sergipe aguardou a próxima onda de crescimento com a proliferação dos engenhos de meados do século XVIII em diante. Mas dessa fase, Itabaiana só lucrou com o nascimento de tímido comércio em outros centros surgidos, na área do Cotinguiba, onde o caso mais notável foi o de Laranjeiras.
Ironicamente foi a última expedição oficial, empreendida por D. Rodrigo de Castelo Branco que sepultou a ideia da prata em Itabaiana e provocou a descoberto do ouro em Minas Gerais por Manuel Borba Gato, que quebrou a resistência do Bispado da Bahia e a completa aversão do pároco de São Cristóvão, Sebastião Pedroso de Góis, em criar mais uma paróquia em Sergipe, além da Nossa Senhora da Vitória de São Cristóvão; a segunda, portanto de Sergipe.
Isso já havia sido tentando pela vaqueirama no início do século XVII. Antes mesmo de existir a Matriz de Nossa Senhora da Vitória, já existia a igreja de Santo Antônio, hoje ruínas da Igreja Velha. Mas nem a paróquia de São Cristóvão nem o bispado de Salvador deram prosseguimento; reconheceram-na. Porém, em 16 julho de 1674 D. Rodrigo aqui chegou com a ordem de fundar uma cidade fortificada, desde que encontrasse a prata. E isso tornou obrigatória a instalação de uma paróquia, que foi feito no ano seguinte, em 30 de outubro de 1975.
Nove anos antes, em 1665, diante do rescaldo da Rebelião dos Curraleiros, desta vez com epicentro no Distrito de Lagarto, o padre Sebastião Pedroso de Gois fundou em São Cristóvão a Irmandade das Santas Almas dos Fogo do Purgatório, uma meia sola para conformar os vaqueiros restantes de Itabaiana. Patrono? São Miguel Arcanjo; que ainda hoje está sua imagem à esquerda da de Santo Antônio no altar da matriz. Mas em 1674 o rei queria soluções firmes na questão da prata, e, além de obrigar a instalação da paróquia deve ter encorajado o padre a fazer as pazes com os vaqueiros. Assim, intui o historiador Wanderlei Menezes, com quem concordo integralmente, teria juntado o útil ao agradável e migrado a supra citada irmandade, não só fisicamente de São Cristóvão para o novo povoado, como nominalmente para SANTO ANTÔNIO E ALMAS.
E foi a IRMANDADE DAS ALMAS, provedora e administradora a grande responsável pela permanência da cidade. Durante dois longos séculos a Matriz de Santo Antônio foi o único traço de unidade, referencial de civilidade... único motivo de se vir à vila “nas sete festas do ano”, como diz o ditado. Em 1908, meio século depois de ter surgido a Feira, o outro traço de civilidade que por aqui surgiu, Miguel Teixeira da Cunha fotografou a cidade, usando para isso pouco mais de quatro tomadas: a cidade era minúscula. Mas a matriz, construída “em pedra e cal e óleo de baleia” lá estava imponente. Único edifício de presença na vila ainda paupérrima, apesar de um dos municípios mais ricos do estado.
Hoje, a matriz de Santo Antônio e Almas é irrelevante até para a maioria dos seus ainda pouco mais de dez mil paroquianos, restritos ao Centro da cidade e algumas franjas de bairros adjacentes; mas já foi referência única e imprescindível para uma área cuja população ascende a 250 mil habitantes, distribuídos por 17 municípios e mais de 25 paróquias filhas, a começar pela de Nossa Senhora da Boa Hora do Campo do Brito, de 1845 e a de São Paulo de Frei Paulo de quatro décadas depois.
Abro aqui outro parêntesis para saudar a excelente iniciativa do atual pároco, padre Marcos Rogério Vieira em comemorar a data em grande estilo: há dois anos, diante da comoção provocada pela primeiro ano da atual pandemia que se está indo, graças a Deus; também aproveitando uma data emblemática, 3-4-5, ou seja o tricentésimo quadragésimo quinto aniversário, o operoso pároco celebrou a data de forma especial.
Em 2025, daqui a três anos Itabaiana, sua paróquia e sua cidade completam três séculos e meio de efetivamente fundada. Faço votos que não somente a paróquia comemore como a própria municipalidade a nossa fundação oficial.
A matriz de Santo Antônio e Almas é o maior traço de itabaianidade que temos. E, diferente da serra, o único que de dela não nos deixaram deserdados: a serra hoje é quase que integralmente do município de Areia Branca, que é da grande Itabaiana; mas não mais dentro do município-base.

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