DELIRAR É PRECISO!

José de Almeida Bispo, 22 de Julho, 2022 - Atualizado em 22 de Julho, 2022

A cidade de Itabaiana começou como um puxadinho da estrada das boiadas, também chamada de Caminho do Sertão do Meio, pouco depois deste cortar outro tão antigo quanto, a estrada real de São Cristóvão aos Sertões do Jeremoabo.
Aqui, no sítio chamado Caatinga de Aires da Rocha Peixoto é que forçado pelo rei, querendo resultados com a história da prata, o pároco de São Cristóvão instalou a nova paróquia, desmembrando da sua; então única no estado. Não houve prata; não houve de imediato cidade, porém foi assim que começou: a beira de duas BRs da época.
O Caminho do Sertão do Meio era, como dito, uma BR da época; uma da principais, no ainda nascente Brasil. Por ele trafegavam pedestres e cavaleiros, tropeiros, vaqueiros e suas boiadas, comerciantes de fumo do Lagarto e de vez em quanto índios acorrentados para manter a vergonhosa e desumana escravidão.
Acerca do tráfego de escravos, o trecho da estrada real de São Cristóvão aos Sertões de Jeremoabo foi aberto por Fernão Carrilho, logo após a expulsão dos holandeses, apesar de iniciado por Simão Fernandes Madeira, um pouco antes, exatamente nas chamada “entradas”. Para capturar índios para a escravidão. Motivados pelo subterfúgio da fuga de negros da serra da Barriga para os sertões, da Serra da Guia, inclusive. Cemitérios ao longo dela podem ter sido iniciados pelos infelizes, mortos, durante o trajeto, tais como o caso do cemitério Cruz da Mata, extremo noroeste de Itaporanga d’Ajuda e por trás da Serra da Cajaíba; do povoado Flechas e São José, em Itabaiana; Alagadiço no município de Frei Paulo, da cidade de Carira, etc..
Seguindo o rumo da Estrada Real de São Cristóvão aos Sertões do Jeremoabo, há setenta anos começou a se materializar a estrada que faltou a Sergipe, ao menos até o Registo do Juazeiro: a BR-235, que hoje nos liga aos altos sertões, bem além do Jeremoabo.
E é sobre a passagem urbana do BR-235 por Itabaiana que teci primeiramente esse monte de letras, buscando contextualizá-la na História.
Fui provocado por declarações recentes do folclorista Vicente José, de que está deixando o projeto que pilotou por mais de sete anos o alegre e típico ambiente de feira no Loteamento Luiz Gonzaga, um dos empreendimentos do Ethos Incorporadora que também patrocinou dois outros importantes eventos culturais permanentes, como seja o Cultura na Praça, dos dias 14, em todos os meses, e o grupo teatral E-Teatro, nos revelando excelentes talentos entre nossa garotada. Religiosamente em todos os domingos rolou muita comida típica e muita cultura, especialmente forró. Uma pena. Faço votos que de alguma forma o belo projeto não sofra solução de continuidade.
A cidade precisa não só trabalhar e vender; é necessário cultuar a alma; além da religião, mesmo que a essa ligada. Cultura.
Bem, e como uma coisa puxa outra, ao pensar no Luiz Gonzaga, e toda a enorme extensão urbana de oito quilômetros em que a BR-235 atravessa a cidade, desde o Bairro Queimadas ao ponteão da nascente do riacho Canabrava, na ponta Sul do Distrito Industrial, uma constatação: estamos gerando duas cidades, dividida ao meio pela rodovia. E só há um meio de reintegrá-la: tirando a rodovia.
Ocorre que isso tem sido recorrente em todos os sítios urbanos ao longo do tempo: muda-se o curso da rodovia para tirá-la dos núcleos urbanos, mas logo estes crescem até os novos cursos das rodovias.
A Rodagem Laranjeiras-Itabaiana, inaugurada em 1927, depois sequenciada até Frei Paulo e Carira, em Itabaiana pouco alterou. Porém em 1953, ao ser construída a BR-235, ela já passou “fora” da cidade, desde os Eucaliptos, ainda pequenos sítios ao Alto da Boa Vista, hoje epicentro no encontro da Rua Boanerges Pinheiro com Avenida Carlos Reis; esta, o antigo leito de 235.
Aí veio o asfalto, em 1973, e que fez uma volta “longe” da cidade, pelo miolo do antigo povoado Campo Grande, onde a urbanização mais próxima estava na avenida Walter Franco, a mais de 600 metros em linha reta (a cidade toda, de leste a oeste tinha 1.100). Quinze anos depois, entre oficinas de autos, depósitos e médios centros comerciais, metade do percurso já estava tomado de lado a lado. Hoje, já há 900 metros de área urbanizada além, a oeste da rodovia em alguns trechos, incluindo o Loteamento Luiz Gonzaga.
Sem uma boa logística de coexistência da rodovia com a cidade, de fato, essa área é, como dissemos, uma cidade à parte. Área que no Censo de 2010 já respondia por 7.721 habitantes urbanos (Bairro José Milton Machado, 2 918; Oviêdo Teixeira; 1 319 Queimadas; 2 190 e Riacho Doce, 1 294), hoje já deve estar por volta de 20 mil, dado à vigorosa expansão desde então
Como preventivamente o administrador nacional da rodovia providenciou espaço entre o leito original, ainda em uso, e suas margens um grande espaço, vemos como prudente o retirar da estrada de dentro da cidade, sem movê-la. Por engenharia de renivelamento, uma vez que a topografia permite. Com lucro para ambos os lados
Duas marginais simples – duas pistas de rolagem e acostamento – uma à direita e outra à esquerda, com seis ou oito passagens superiores/inferiores, distribuídas ao longo do trecho, priorizando os atuais mais frequentes cruzamentos, além dos atuais trevos, mais o devido isolamento por muretas ou grades, onde necessário, e a rodovia permanecerá onde tem sido interagindo sem ser prejudicada ou prejudicar o trânsito urbano.
Delirar é preciso!
Quem sabe, né?

Medidas: Censo IBGE 2010 e GoogeEarth

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