CARREGADORES DE PIANO(*).

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As mudanças tecnológicas, aceleradas com o advento das comunicações eletrônicas, especialmente o rádio, definitivamente pôs o mundo de perna pro ar, e começou a sepultar velhas tradições, ou forçar a adaptação de outras, para sobreviver.
A bandinha de música municipal foi uma delas.
Antes, divertimento clássico, meio de propaganda política e, no caso de Itabaiana, a única escola profissionalizante, a Lira Filarmônica Nossa Senhora da Conceição foi frontalmente afetada com a nova era. Não desapareceu graças à tenacidade de uns pouquíssimos componentes, que lhe seguraram as colunas.
Lembrei disso ao ontem passar em frente à antiga residência do saudoso maestro Antônio Melo, desde a sua morte, adquirida pela professora Edezuita Araújo Noronha (outra gigante no mundo cultural Itabaianense), que recentemente trocou de endereço, vendendo-a a empresário local que a está pondo abaixo, e a substituirá por um estabelecimento comercial.
Antônio Melo foi o teimoso que resistiu; e só deixou de teimar quando encontrou no atual maestro Valtênio Souza, a pessoa certa para dar a continuidade.
A Lira, atualmente está entre as instituições que representam Itabaiana aonde quer que chegue. Uma das vitrines da cidade.
A Academia Itabaianense de Letras guarda certas semelhanças com a Nossa Senhora da Conceição, apesar de ainda ser um bebê, frente aos mais de dois séculos e meio da grande instituição musical.
Para começar, a Academia apareceu num momento difícil, de radicalização da cultura “fast-food” da internet, e suas redes sociais. Mesmo que paradoxalmente, seja um momento de rara produção literária, com proliferação de obras.
Em seguida, em plena ressaca da sua instalação, que é quando se desvanece todo o brilho mágico de qualquer começo, vieram dois anos de pandemia, na qual, alguns dos seus membros foram vítimas, dois deles, fatais; e um, quase; porque perdeu a dileta companheira da fase mais rica e marcante da sua vida. O sodalício saiu com graves lesões, pois.
Mas não arrefeceu. A tenacidade e resistência de parte volumosa de seu quadro de componentes, fê-la sobreviver. Para isso, além da subscrição de valiosos companheiros, contou a intrepidez de uma gestora pública de mão cheia na presidência da instituição, que enfeixou nos braços, acolheu e conduziu, na difícil tarefa dar-lhe travessia em tempos trevosos, desanimadores, incertos.
Não foi fácil. Mas, depois de um ano de passados os piores momentos da pandemia, a Academia Itabaianense de Letras se prepara para fazer jus ao nome Itabaiana, no tricentésimo quinquagésimo ano de fundação, o sétimo jubileu de ouro, da Paróquia e cidade de Santo Antônio e Almas. De Itabaiana.
Parabéns à presidente da Academia Itabaianense de Letras, a confreira, historiadora, professora Josevanda Mendonça Franco, pela firmeza à frente da arcádia serrana. E por mais uma primavera nesse dia 10 de janeiro.

(*) “Carregador de piano”, era uma atividade de dificílima execução pois que o instrumento era transportado na cabeça, em grupo, em geral de cinco, onde todos deviam ter a mesma altura, andar no mesmo ritmo. Serem esmerados com instrumento tão nobre, caro, refinado e ao mesmo tempo, frágil.
A expressão é usada pelo patrimônio serrano, que responde pelo nome de Francisco Tavares da Costa, o Fefi, para denotar coisa difícil ou tarefa duríssima de realizar, só comumente abraçada pelos loucos. Ou pelos idealistas; que no fundo, no fundo, são a mesma coisa.

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