Cirurgias de escoliose transformam vidas de pacientes atendidos pelo SUS em Sergipe

Graças à parceria entre Governo do Estado e Hospital de Cirurgia, procedimentos complexos para corrigir deformidades severas da coluna são realizados gratuitamente

Pacientes com escoliose em Sergipe têm as vidas transformadas graças ao programa inovador oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Por meio da parceria entre o Governo do Estado e o Hospital de Cirurgia (HC), operações complexas que corrigem deformidades severas da coluna estão sendo realizadas de forma gratuita, devolvendo aos pacientes a esperança de uma vida sem dor e com mais qualidade.

A escoliose, caracterizada pela curvatura anormal da coluna vertebral, afeta não apenas o alinhamento corporal, mas também pode causar sérios problemas de saúde e impactar a autoestima. Desde agosto de 2023, o Hospital de Cirurgia realiza uma cirurgia de escoliose por semana, totalizando mais de 60 procedimentos em um ano do programa. Cada cirurgia, que pode durar entre 5 e até 10 horas, é realizada por uma equipe especializada, composta por neurocirurgiões, ortopedistas, anestesiologistas e outros profissionais de saúde.

De acordo com o líder do Ambulatório de Escoliose do Hospital de Cirurgia, neurocirurgião Ricardo Motta, o tratamento é vital para pacientes cuja curvatura ultrapassa os 45 graus, mas mesmo aqueles com curvaturas menores necessitam de acompanhamento e intervenções, como fisioterapia ou o uso de coletes.

“Não existe um perfil de faixa etária específico para a cirurgia de escoliose. Todas as idades podem ser acometidas. Isso porque, anos atrás, muitos não tinham acesso ao tratamento, o que atrasou o diagnóstico e o cuidado. No entanto, a população mais acometida são adolescentes, especialmente entre 12 e 14 anos. A principal queixa dos pacientes ao chegar aqui é a autoimagem. A percepção de que são diferentes dos outros pode gerar uma cadeia de problemas emocionais, como baixa autoestima, especialmente em meninas na puberdade. Já atendemos casos graves, inclusive com relatos de ideação suicida, devido ao impacto da escoliose na vida social e emocional”, revelou.

Serviço especializado

O serviço especializado em escoliose, viabilizado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), representa um avanço significativo na promoção da saúde pública em Sergipe. O programa, único no estado, garante tratamento integral e multidisciplinar, incluindo consultas, cirurgias e fisioterapia, possibilitando o acesso gratuito a procedimentos que antes eram inacessíveis para muitos. No Brasil, são poucos os centros de saúde que oferecem este tipo de serviço pelo Sistema Único.

Quanto ao procedimento cirúrgico, Ricardo Motta explicou que a cirurgia de escoliose é de alta complexidade. “Envolve uma estrutura hospitalar robusta, materiais específicos, e uma equipe médica qualificada. Somos quatro cirurgiões de coluna, com uma equipe de anestesia dedicada exclusivamente a esses pacientes. Nosso principal objetivo é melhorar a qualidade de vida dos jovens, e, por isso, cada detalhe é crucial para alcançar esse objetivo sem descuidos”, apontou.

O impacto dessas cirurgias na vida dos pacientes é notável. Suelen Vitória de Jesus Neri, uma jovem de 15 anos, teve a vida transformada após a cirurgia. Antes do procedimento, Suelen sentia-se profundamente desconfortável e insegura devido à curvatura da coluna. Hoje, com a coluna reta, ela recuperou a autoestima e confiança, algo que parecia distante antes da cirurgia. Sua avó, Maria Aparecida Santos, relembrou com emoção o dia da operação, um momento delicado, mas que trouxe uma nova perspectiva de vida para a jovem. Agora, a jovem segue em fisioterapia e se prepara para retomar as atividades diárias com mais liberdade e menos dor.

“Eu tinha 14 anos quando fiz a cirurgia, então tem uns cinco meses. O que mudou na minha vida foi enorme. Não só pela parte estética, de poder me olhar no espelho e ver minhas costas retinhas, mas também pela qualidade de vida. Antes, não cheguei a sentir dor, mas me incomodava muito depois que descobri que tinha a coluna curvada. Quando ligaram avisando que eu faria a cirurgia, pegou todo mundo de surpresa, mas, graças a Deus, ocorreu tudo certo. Primeiro, me consultei com um médico particular e ele me encaminhou pelo SUS, porque minha família não tinha condições de pagar por uma cirurgia tão cara. Eu não costumava fazer atividade física antes porque não podia, mas agora, depois da fisioterapia, vou começar a fazer pilates”, antecipou Suelen.

O diretor operacional da Saúde da SES, Waltenis Júnior, ressaltou a importância social desse serviço. “Para muitos, essa cirurgia representa uma chance de viver sem dor, sem limitações e com mais autonomia. É a concretização do direito à saúde e à dignidade, promovendo inclusão e equidade social. O impacto positivo dessa assistência é incalculável, transformando vidas e oferecendo um futuro com mais oportunidades e bem-estar”, enfatizou.

Esperança

A jovem Caroline Silva Santos, 16 anos, está se preparando para a mesma cirurgia que transformou a vida de Suelen. Com o apoio da mãe, Renata Silva Mota, Caroline enfrenta a ansiedade e os desafios de viver com escoliose, mas, agora, com a esperança de uma vida mais independente e saudável após a cirurgia.

“Hoje em dia, isso afeta bastante a minha vida. Eu sou muito dependente da minha mãe, o que me impede de fazer várias coisas sozinha. Às vezes, me sinto muito envergonhada de usar roupas que mostram a coluna ou de usar o cabelo preso, ou curto, então acabo evitando sair com minhas amigas porque me sinto diferente. Mas eu tenho esperança de que tudo isso mude com a cirurgia”, expressou Caroline.

A adolescente conta que está ansiosa com as mudanças que terá na vida após a cirurgia. Ela planeja finalizar o ensino médio e deseja estudar Medicina Veterinária. Caroline ressaltou a importância de a cirurgia ser oferecida pelo SUS. “É uma doença que, se for tratada de forma particular, é muito cara. Nem todo mundo tem condições de pagar, e essa oportunidade é fundamental para mudar a vida de pessoas como eu”, pontuou. 

Renata Mota acredita que a cirurgia trará mais autonomia e confiança para a filha. “A equipe médica é maravilhosa, e agora estamos na expectativa de marcar a cirurgia e fazer todos os exames. Eu converso muito com a Caroline para ela não se sentir mal, mas sei que essa cirurgia vai trazer mais autonomia e confiança. Estamos ansiosas para que tudo dê certo”, relatou a mãe de Caroline. 

Qualidade de vida

Além das cirurgias, o Hospital de Cirurgia mantém um Ambulatório de Escoliose que oferece atendimento contínuo a casos de deformidades na coluna, determinando a melhor abordagem para cada paciente. A fisioterapia pós-operatória, como a que Suelen realiza, é essencial para garantir que os pacientes recuperem a mobilidade e a força muscular, aspectos fundamentais para a funcionalidade no dia a dia.

O ortopedista Ricardo Motta enfatizou a importância de avaliação médica preventiva ao perceberem qualquer desvio na coluna ou assimetria no tronco, uma vez que isso pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. “É importante que, ao notar um desvio na coluna ou assimetria no tronco, os pais ou responsáveis procurem uma avaliação médica, pois isso pode impactar significativamente a qualidade de vida do paciente”, disse.
Foto: Erick O’Hara

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