CLANDESTINIDADE DO NOVO MOVIMENTO DE EXTREMA DIREITA

Manoel Moacir C. Macêdo; Manoel M. Tourinho; Gutemberg A. D. Guerra

​O avanço da extrema direita na Europa, nas recentes representações no Parlamento Europeu e antes no Brexit, ruptura da Inglaterra na Comunidade Europeia, não foram ações espontâneas, mas estimuladas por estratégias que envolveram sofisticados atores e grupos de interesses. Não faltaram relevantes atores e recursos de vultosas grandezas.

​Importante assentar que a maioria dos nazistas e fascistas não foi destruída, e nem os seus ativistas punidos após a II Guerra Mundial. Principalmente, aqueles que pela via econômica, ocuparam posições no Estado e escaparam da justiça. Os proprietários das empresas que financiaram os campos de concentração e o holocausto, nunca sentaram nos bancos de réus e nem foram submetidos a julgamento. A história registrou que “o conflito armado acabou, mas a ideologia democrática humanitária não obteve uma vitória evidente”.

​Contingências, que estimularam o surgimento de organizações de extrema direita, em sua maioria clandestina e infiltrada em partidos políticos. A democracia possibilitou a sua própria contestação pelos fundamentos de liberdade expressão, ir e vir, votar e ser votado e acumulação de capital. Relevante nesse sentir, as influências da globalização, do neoliberalismo e da crescente desigualdade entre Nações e povos. Merece atenção a narrativa antimulçumana e racista, alimentada pelo medo das migrações em massa na Europa e América do Norte. A guerra na Europa, ultrapassou a geografia da Rússia e Ucrânia, para alcançar a OTAN – Organização do Tratado Norte, do tempo da Guerra Fria e liderada pelos Estados Unidos. Conflito transformado entre Ocidente versusOriente, com potencial abrangência mundial.

​O pesquisador especializado em grupos de extrema direita, o inglês Joe Mulhall, no livro “Tambores à distância: viagem ao centro da extrema direita mundial”, relata com coragem investigativa “a ameaça que a extrema direita impõe a todos nós e explica o que está acontecendo no Brasil e em outros lugares do mundo”. O alcance de sua pesquisa-ação, pois ao mesmo tempo atuou comopesquisador e participante, no interior dos partidos políticos e grupos de protestos de extremistas de direita. Nas ações pela internet em sua diversidade de mídias, identificou o The Daily Stromer como o maior site neonazista do mundo. 

​No curso de sua investigação, se infiltrou no movimento miliciano norte-americano e na Ku Klux Klan. Participou de reuniões de fascistas extremistas e de eventos de extrema direita na Suécia, Dinamarca, Polônia, e República Tcheca. Acompanhou o governo de extrema direita no Brasil e as revoltas antimulçumanas na Índia. “Para entender a Índia é preciso entender o RSS -, supostamente o grupo mais poderoso e violento da extrema direita no mundo”. Viveu em comunidades afetadas por políticas de extrema direita no Reino Unido e no Cinturão da Ferrugem nos Estados Unidos. Sobre o Brasil, relatou “que a posse de armas aumentou 98% em abril de 2022 [e que] um governo ancorado na violência policial, no chauvinismo nacional e na glorificação pessoal, têm características essencialmente fascista”. 

​Os resultados da pesquisa, possibilitou entender a ascensão do movimento da extrema direita no mundo. Citando registros históricos, mostrou as ondas que alimentaram esse extremismo:  – o neofascismo (1945-55); o populismo de direita (1955-80); – a direita radical (1980-2000); e o período de 2000 até os dias atuais. Enorme desafioestá posto perante a humanidade. De um lado, os objetivos claros e contaminantes da extrema direita, e do outro à ausência de um projeto alternativo dos democratas de uma nova ordem mundial. Ao final, como publicou em recente artigo, o escritor Frei Beto: “será que haverá tempo para implementar medidas antes que irrompa um novo conflito mundial? O tempo dirá”. 

[MULHALL, J. Tambores à distância: viagem ao centro da extrema direita mundial. São Paulo:  Le Ya Brasil, 2022].

Os autores, são agrônomos e respectivamente PhD pela University of Sussex, Inglaterra; University of Wisconsin, Estados Unidos; e École des Hautes Études, França.

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