
Mais um amigo cumpre seu tempo – breve – e se vai: faleceu Valfrando Gomes da Mota, popular Nem de Abdon, meu amigo e comparsa de rock e demais estilos musicais que a minha geração teve o privilégio de com eles se deliciar.
Que a flecha do tempo não para; isso está mais que consagrado. Porém, como diz meu também amigo, Dr. João de Oliveira, o João de Benício, a gente docemente se engana, os jovens sem na morte pensar; ou se desespera – os maduros e velhos – com a certeza de que a hora, cada vez mais próxima, vai chegar.
E, enquanto isso, inundamos nosso conhecido vale de lágrimas com nossas dúvidas, mesmo que sobre as certezas.
Conheci Nem, por acaso, 1980, com minha estreia de discotecário-programador na velha Rádio Princesa da Serra. Nem de Abdon, queria trocar vinis, coletâneas “da Parada”, por raridades da MPB e de rock, especialmente country, em duplicidade (a emissora tinha dois), ou descartáveis, por estar muito acima da média da audiência da emissora. Negócio da China, já que as coletâneas, em geral, eram de temas de novelas, da Som Livre (Sistema Globo) que não distribuía gratuitamente às emissoras. Sucesso garantido, quando já não estourando nas paradas. Juarez Ferreira de Góis, meu chefe, autorizou
Foi empatia imediata. Com pequenas – e às vezes profundas – diferenças, ali fizemos amizade, que adormeceu nos últimos trinta anos, já com ambos casados e pais de família, como quase todos demais do grupo que veio depois; mas aquele tipo de amizade, focada, máxime na música, onde a cada vez mais raro encontro, vinha uma resenha acerca de novas obras, novos artistas, e toda a plêiade dos veteranos, que embalaram nossas vidas, “na alegria e na tristeza”, enfim, na vida vivida, arrisco, esplendorosamente.
Vai com Deus, amigo; é tudo posso dizer agora.
E, se lá existir essa cópia daqui, como insinuam, vai preparando um novo Arizona(*), porque, já foram outros, antes de você, e até eu por lá chegarei, entre agora e mais uns cinquenta anos, não sei; mas que irei, irei.
Adeus, sujeito!
(*) Arizona era o apelido da tenda de Nem, onde trabalhava, pondo fotos e gravuras em quadros para vender, na Rua São Paulo, aqui em Itabaiana. O nome pegou porque até o sábado, ao meio dia, era lugar de trabalho, de negócios; apesar de já se ensaiar um Jimmy Hendrix, Bob Dylan, Belchior, Alceu Valença, Heart, Creedence, Dire Strais, Quinteto Violado, Xangai, etc., etc., e etc.; mas no sábado à tarde, e domingos e feriados… de clássico a rock pauleira, rolava tudo. regado a cerveja, claro. E só juntava marmanjo. Por isso Arizona: “Onde os homens se encontram”, como na propaganda do cigarro de mesmo nome, da Souza Cruz.