Ontem, dia de São José, visitei o povoado Matapoã, onde as minhas raízes se encontram. Cheguei na Capela reivindicando a minha patente de matiaponense raiz. As mulheres presentes na Capela, quiseram detalhes.
Encontrei um povoado fofo, carinhoso, cheio de vida. Não vi pobreza. Pequenos sítios, com casas confortáveis, plantando couve. Não sei os motivos, mas lá só se planta couve.
Não fizeram um arruado, com armazéns e bodegas. A Matapoã continua sítios. O único prédio público é uma Associação Comunitária. A escola fica em um povoado próximo e a Unidade de Saúde Djalma Lobo, fica às margens da BR – 235.
A Matapoã faz limites com os povoados Sambaíba, Cabeça do Russo, Tabuleiro do Chico, Vermelho e Gameleira. O tanque ao lado da Capela é o século XIX. A linda e bem cuidada Capela (foto), tem quase 80 anos.
As mulheres na Capela quiseram saber se o doutor Luiz Carlos Andrade, o engenheiro José Carlos Machado e Oviedo Teixeira eram do tronco da Matapoã. Eu confirmei. Aliás, dois filhos de Oviedo, Tarcísio e Luiz Teixeira, criaram uma Matapoã em Aracaju, onde hoje os ricos fizeram as suas casas de praia, às margens do Vaza Barris.
Contei o que sabia por ouvir dizer. Muitos dos nossos, foram morrer em Canudos. Mamãe contava estórias de Conselheiro com intimidade, como se o tivesse conhecido. O mais interessado foi o menino.
Na Capela, além das mulheres zeladoras, estavam um menino muito inteligente, cheio de curiosidades, e o competente Almir Andrade, implantando as poderosas antenas da Itabaiana FM, para retransmitir a festa de São José.
Em Itabaiana os povoados possem histórias e especificidades. A Matiapoam é a comunidade onde os traços dos índios matiaponenses são mais fortes. Se conhece se o sujeito é da Matapoã de longe, sem muito esforço: gordo, baixo, pescoço atarracado e batatas das pernas acentuadas. O modelo de Dom João VI.
O meu tataravô, João José de Oliveira, migrou para “Maitapam” (como o povo chamava), em meados do século XIX (1849). Foi parte das últimas levas de migrantes portugueses para o Brasil. João José, exímio ferreiro, chegando a São Cristóvão, quis saber onde a sua profissão era necessária. Instalou-se em Matapoã.
Um detalhe: o meu Avó,Totonho de Bernardino, possuía uma pequena imagem de São José, que ele dizia herdada de João José. Não sei se o santo tornou-se padroeiro da Matapoã, por conta dessa imagem.
Para manter a tradição, o meu sítio no Povoado São José dos Náufragos, na Curva do Rio, em Aracaju, chama-se Solar São José.
A presença dos Oliveiras no século XIX, na Matapoã, foi constatada pelo grande historiador Sebrão, o sobrinho: “os Oliveiras eram altos, atléticos e bonitos, destoando com os matiaponenses originais”.
O ferreiro João José de Oliveira foi o Adão itabaianense. Criou uma prole de 10 filhos, quase todos ferreiros (alguns fogueteiros), onde o meu Bisavô, Bernardino José de Oliveira é um entre eles. Dessa família de artesões do fogo, chamados genericamente de ferreiros, descende a metade da Itabaiana original.
Disse no início do texto, que os povoados tinham bases culturais específicas. A Matapoã é tida com berço da intelectualidade itabaianense. Todos, são tidos e havidos como muito inteligentes. Pode até ser exagero, mas essa assertiva é senso comum.
Adorei a Matapoã, tive forte impressão que um sítio chamado de “Ranchinho São José”, foi do meu tataravô. Senti a presença dele, dos meus antepassados, a energia dos ferreiros, a sabedoria dos Oliveiras. Me senti voltando para casa.
Gente, quem souber e puder, tente voltar as origens. Sair rejuvenescido.
Antonio Samarone (ponte de rama dos Ferreiros da Matapoã)