ENCONTRO DE ENGENHEIROS AGRÔNOMOS

Manoel Moacir Costa Macêdo

​Vivemos tempos difíceis. Ódio, intolerância e violência. Quadra de “transição” com intervalos de “dores e expiações”. A ciência chamou de “mudança de paradigma”. O “normal” atravessa “crises e anomalias”, e o “novo substitui o velho paradigma”. Caminhada na rota da “regeneração” e do esperado júbilo em “outras moradas”. Inexoráveis reformas dos viventes terrenos.  

O cientista social Zygmunt Bauman, qualificouesse tempo, como “modernidade líquida”. Sociedade de consumo, valores efêmeros e descartáveis. Angústia, pressa e horror aos contatos humanos, moldam o modo de viver. Mídias virtuais mascaram as relações sociais, escondem a solidão e promovem um poder inexistente na concretude domundo real. Realidade virtual, na qual os excluídos desacreditam no Iluminismo e apostam nas estruturas totalitárias. A liberdade, é descartada em nome do arbítrio e restrições de ir, vir, pensar e sonhar. Algoritmos viróticos penetram na consciência dos humanos e causam doenças neurais de complexa terapêutica e difícil cura. As relações socais são pautadas pelos aplicativos e plataformas de alta performance tecnológica. A Inteligência Artificial – IA assombra a humanidade. O irreal confunde o real. A verdade manipula a mentira. 

​Nesse contexto de incertezas, um alívio são osanuais “Encontros de Engenheiros Agrônomos de 1973 e Contemporâneos”, da então Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia -EAUFBA, hoje, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Colegas, professores, familiares e amigos, reúnem em algum lugar da Bahia, para celebrar a amizade e a graça de viver. O próximo será no corrente mês de Novembro, na cidade, que nos acolheu e presenteou com o “Diploma de Engenheiro Agrônomo”: Cruz das Almas, no histórico recôncavo baiano. Três dias de festa. Cantorias, bebedeiras, homenagens, música, poesia, conversas, louvores aos que partiram e reverência aos presentes. Prestação de contas, sem explícita contabilidade dos deveres da profissão e da existência. Encontros entre iguais. Todos contentes, felizes e realizados pelo que realizaram, e ainda estão realizando.

Espécie de divã coletivo de uma geração universitária ungida na ditadura militar, que ultrapassou mais de meio século de vivênciapessoal, familiar e profissional. Lapso temporal da passagem de um Brasil rural para urbano. Das restrições de liberdade para a democracia. A desigualdade, no entanto, acompanhou o progresso e o crescimento econômico. A pandemia mostrou, o valor do ir e vir, do abraço e do encontro. A moléstia, além dos sofrimentos, sequelas e mortes, deixou lições para o bem-viver tatuadas na alma.

O “Encontro da Amizade”, com múltiplos sentidos. Uns mudaram, outros nem tanto. Alguns retirados da oficialidade laboral, outros continuam. Cabelos grisalhos, carecas e abdomens salientes, definem o novo padrão de beleza dos homens. As mulheres continuam belas e joviais. Uma revelação merece destaque: o gosto do Encontro, o prazer da amizade, a reverência aos ganhos na ciência, ensino, extensão rural, assistência técnica, política e empreendedorismo. Aprendemos a gostar de nós e do outro. Shopping center e internet, não substituem o calor humano e nem produzem as enzimas da alegria e do prazer, ao contrário, mascaram os encontros e a sociabilidade entre as pessoas e o ambiente. 

Ao final, como escreveu a poetisa Cora Coralina: “o saber aprendemos com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende com a vida e os humildes”.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado.

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