ESPÍRITAS À ESQUERDA

                                   Manoel Moacir Costa Macêdo

​Estamos reencarnados como humanidade, numa simbiose divina entre espírito e corpo. Existência no universo infinito, identificado como Terra. Para a doutrina espírita, uma reencarnação de “provas e expiações”, na inexorável rota da evoluçãopelas sucessivas reencarnações.

​ Reza na “Lei Moral de Sociedade”, no “Livro dos Espíritos”, que “a vida social é natural, Deus fez o homem [a mulher e outros gêneros, pois o espírito não tem sexo] para viver em sociedade. O progressono meio social conduz a evolução e “o isolamento embrutece e estiola”. A vida terrena, está sob a “influência e direção” de espíritos reencarnados. Quereres e individualidades, no entanto, estão submetidas ao “livre-arbítrio”, com autonomia no pensar e no agir, como espíritos corporificados, proprietários do seu destino. A doutrina espírita, não acolhe dogmas, ritos, promessas, e nem hierarquia clerical.

​Entre as nobres atividades da vida social, destaque para a Política, no servir ao próximo, praticar a caridade, acolher a coletividade e atacar o egoísmo e o orgulho, chagas de reencarnações penosas. A compaixão com o próximo qualificam o ser cristão. A história do movimento espirita brasileiro, registra iluminados reencarnadosdedicados à “política para o bem de todos”, para a fraternidade e justiça, desvinculada da política mundana, de partidos indecentes, de desvios morais, da corrupção e da apropriação do público pelo privado. 

O espiritismo em sua contribuição à Política “oferece à sociedade [estrutura, organização e trabalho] alicerçada na verdade, na justiça e no amor”. Na reencarnação terrena, reluzem militantes espíritas nos diversos espectros ideológicos: “centro, direita e esquerda”. O anormal, é a neutralidade e o desprezo perante os sofreres de irmãos, filhos de mesmos pais, pelos vínculos espirituais. Os espiritas são cidadãs e cidadãos comuns e sem privilégios, mas devem participar dos problemas da sociedade, sob pena da omissão. Expressa o “Livro dos Espíritos”, que “pela fraqueza e timidez dos bons, os maus exercem maior influência sobre os bons”.

A sociedade brasileira é majoritariamente cristã, desigual e conservadora em valores políticos e costumes, e nesse sentir, rejeita uma reflexão atualizada do espiritismo, na perspectiva social e humanista crítica. Rotulam os que acolhem esses chamados, como “espíritas à esquerda” e militantes político-partidários, mas, na práxis, eles louvam as bem-aventuranças e o reino de Deus, como uma sociedade justa e acolhedora dos humildes, miseráveis e perseguidos -, os escolhidos de Jesus.Os fundamentos que alicerçam a doutrina espírita na essência de seu codificador Allan Kardec, destacamque “sob o aspecto filosófico, o Espiritismo tem a ver e muito com a Política, [como] a arte de administrar a sociedade de forma justa”.

Ser “espírita à esquerda”, é alimentar a “chama interna, do amor, do progresso e dos melhoramentos sociais que animam as almas generosas na esfera onde participam os deserdados do mundo”. Éinternalizar o escrito numa das obras básicas da doutrina espírita, que “a desigualdade das condições sociais não é uma lei natural, mas obra do homem e não de Deus”. É ser o fermento da “justiça, do amor e da caridade”. É cultuar uma fé raciocinada e abraçar o espiritismo como doutrina filosófica e científica [e] “se a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta avançará sozinha”.

Ao final, ser “espírita à esquerda”, ao invés de rejeitar, perseguir e discriminar, é acolher todos como filhos de Deus, na amplitude política, econômica, social, racial, sexual, e mais que tudo, transformar a Terra “em moradia do bem e dos bons Espíritos, [onde os reencarnados não mais serão infelizes] nesse mundo, que será um paraíso terrestre”.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo, advogado e militante do movimento espírita.

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