
Em artigo deste domingo, o médico, atual secretário de Cultura de Itabaiana, Antônio Samarone de Santana, aborda, com propriedade, um aspecto do carnaval no Brasil: um superferiado para 99 por cento, enquanto o 1 por cento se esgoela em avenidas, ruas e vielas, país afora.
É interessante: o São João, inventado pelos jesuítas no afã de atrair a indiada aos cultos e à civilidade, mesmo sendo originalmente uma festa nacional, porém, ao ser estigmatizada de “nordestina”, perdeu o brilho no sul maravilha, ao sul do paralelo 20; e jamais foi içada ao status do carnaval, que nunca atingiu mais do um por cento já dito.
Pegadinhas segregacionistas à parte, como diz o Samarone, o carnaval é, sim, uma festa pra poucos. Porém, para o país, sem decretar feriado, por quatro e até cinco dias, já que seus efeitos começam na sexta-feira, e só vão terminar na quarta-feira, ao meio-dia.
Afinal, este é um país eternamente protocapitalista, desde os holandeses em Pernambuco (os holandeses foram os inventores do capitalismo), e dominado pela cultura bancária (é só ver as filas). E os bandos, digo, bancos (desculpem a contaminação com o boquirroto Berthold Brechter), só abrem ao meio-dia da Quarta-Feira de Cinzas.
E voltamos ao início da civilização.
No Egito dos faraós, o ano foi medido com precisão espantosa, para algo feito há cinco mil anos atrás: 365 dias.
Eles criaram as três (e não quatro) estações; os dozes meses de três semanas de dez dias.
Mas o ano, propriamente, era contado pelos dias comuns, que era 360 dias. Tecnicamente havia mais cinco, perfazendo 365; mas que não eram computados, porque em festa aos deuses Osíris, Ísis, Set, Néftis e Hórus; os deuses mais importantes naquela terra encharcada de deuses.
No Brasil, nós reinventamos os cinco dias “que não contam”.
Não é preciso sambar, pular, ou participar de orgias e bacanais. É um superferiado não oficial, e pronto.
O comércio, sempre diligente em fazer seus comerciários trabalharem em jornadas de até dez horas, fecha, ovinamente; indústrias, também. Até certos serviços… até os bancos, os bancos! Esqueça-os no carnaval: está todo mundo celebrando Osíris, Ísis, Set, Néftis e Hórus.
(*) Título inspirado em “Faraó, divindade do Egito, por Banda Mel”.