Todo sergipano que sobe me leva consigo. E se for um ou uma itabaianense, aí nem se fala mais.
Definitivamente, o brega não é, nem nunca foi o meu estilo de música.
Aliás, o meu gosto brega sempre esbarrou nos antigos, tipo o cearense Zé Ribeiro; o goiano Lindomar Castilho e no baiano Waldik Soriano, construtor da pérola Tortura de Amor, que com Maria Creuza se tornou um clássico da música romântica brasileira. E claro, também naqueles pops, rotulados de “brega”, como José Augusto, Fernandes Mendes, Odair José… todos da época em que o pop nacional atingiu a maioridade, por volta de cinquenta anos atrás
Bregueiros? Está cheio por aí deles. Em geral, caracterizam-se por cantarem canções de temática romântica, em linguagem simples, e até simplória; com arranjos pra lá de econômicos; simplistas. Do mesmo modo a harmonia. Nada de grandes orquestras, ou mesmo caprichadas bandas-base, com sucessos daqueles que demoraram meses para atingir o nível de serem lançados ao público. Sem grandes produções. Mas sempre grande públicos.
A evolução do popular
Se a era da sanfona aposentou a rabeca e mais uma tralha de instrumentos, substituídos pelo fantástico “órgão portátil” – o acordeão ou sanfona, a do teclado eletrônico bagunçou o estilo consagrado de fazer música, bem trabalhada, e, portanto, relativamente cara. Difícil. É aí surgiu a enormidade de cantores-tocadores, a esmagadora maioria de harmonias e melodias sofríveis, quase sempre “samba de uma nota só”.
É sempre assim: democratizou? Enriquece-se o cenário com figuras mantidas o tempo inteiro no anonimato; porém junto, sempre vem uma torrente de aspirantes a artista, nem sempre de qualidade.
Um estágio intermediário para o brega atual, dito arrocha, se deu com a proliferação de serestas, comuns nas décadas de 1980 e 1990, voz, violão e bateria eletrônica. Pouco exigente, o conjunto era perfeitamente executado com uma mesa de som diminuta, um amplificador, e às vezes só uma simples caixa de som, já amplificada.
Mas na década de noventa, a popularização do teclado substituiu tudo, bateria, inclusive. Vez por outra alguém arrisca somar mais um violão, saxofone e até guitarra, elétrica, naturalmente; mas o que prevalece é o teclado.
A chegada pra valer da popularização de mídias digitais como o MD, o CD e o depois o pendrive, compôs com o teclado a grande virada. E o vem smartphone e sua proliferação. Só pra citar o caso nacional, o número de celulares excede em muito a população brasileira. Todo mundo conectado.
E assim o velho brega ganhou roupagem nova, e até titulação de “arrocha”. Mais pobre melodicamente do que as baladas, boleros, guarânias e até modinhas do brega clássico de outrora, o novo ritmo é monotônico; basicamente se sai de uma música e entra na outra sem que se altere muita coisa. Inexiste qualquer forma de interlúdio ou outro recurso antimonotonia, embelezador e enriquecedor. Tudo compensado pela comunicação do cantor, que muitas vezes age mais como pastor religioso nas suas pregações arrebatadoras. Neste caso, hoje se tornou comum. O axé, por exemplo, não sobreviveria sem o clássico “tira o pé do chão”; “mãozinha pra cima”. Naturalmente que ao vivo, real ou simulado, com direito a “BG” (back ground ou fundo) de assanhada plateia.
Com a destruição da indústria fonográfica pela era digital, cuja, por outro lado, favoreceu a que um simples celular se transforme num estúdio, começaram a pipocar os fenômenos, em geral muito mais baseados no talento comunicacional do artista que na técnica. Porém o meio extremamente confuso da internet, e da sua forma máxima de publicação – as redes sociais – que se tornou principal, ainda carece e carecerá de certos elementos, fundamentais na era analógica, organizadinha, da difusão musical, a era da indústria fonográfica. E o mais fundamental deles é o empresário; o cara que dá alguma organização.
Natanzinho
É nesse ambiente de corrida selvagem para se impor que surge Natã Lima Nascimento, itabaianense, talentoso, que parece ter encontrada o empresário e o meio certo, e juntando os fatores, aos meros 22 anos, tornou-se fenômeno nacional do “arrocha”.
Natãzinho faz o contraponto, na outra ponta do espectro musical brasileiro, ao outro itabaianense, Mestrinho, ganhador em novembro passado, do Grammy Latino, reconhecido mundialmente. Mestrinho, classe “A”; Natanzinho, povão. Incendiando o país, especialmente o Norte-Nordeste, com sua cativante presença, executando sua música para as multidões. Aos 22 anos apenas.
E o futuro, a Deus pertence.
Foto: À esquerda, acima, o casal Noel Rosa e sua esposa,a itabaianense, Lindaura Martins; embaixo, a itabaianense Josefa da Silva Rocha e sua famosíssima filha, Dolores Duran. No centro um dos inventores do chorinho, o itabaianense, (apesar de nascido em maternidade de Aracaju), Luiz Americano; e à direita, o fenômeno atual, Mestrinho, ganhador de Grammy Latino em novembro do ano passado.
Levando Sergipe e Itabaiana mais longe
Nada mal para uma cidade que indiretamente produziu Adileia da Silva Rocha, a Dolores Duran (filha da itabaianense Josefa da Silva Rocha); Luiz Americano, nascido numa maternidade em Aracaju, mas de família itabaianense, e aqui residente; e até casando uma itabaianense – D. Lindaura Martins – com o famoso Noel Rosa. (ver mais aqui)
Itabaiana esteve, pois, presente no cerne da formação da Música Popular Brasileira, com esses três nomes envolvidos. Nada demais que hoje tenha dois representantes máximos da música brasileira: um, classe “A”; e outro representante do povão: Natanzinho.
Vida longa aos nossos embaixadores culturais.