ITABAIANA – 350 ANOS. A GUERRA COMERCIAL.

Itabaiana – 350 anos. A guerra comercial.
(por Antonio Samarone)

A luta política em Itabaiana, entre 1945 e 1964, tinha como pano de fundo uma guerra comercial: a luta pelo domínio do abastecimento regional. A cidade voltada para a agricultura de subsistência e o pequeno comércio, com a chegada da BR-235 (1953) e do Ginásio Murilo Braga, teve um surto de crescimento. Virou um polo mercantil.

O abastecimento das feiras municipais, sobretudo Aracaju, dependia do transporte em lombo de burros e saveiros; com a BR – 235 chegou o caminhão, elevando a escala da economia.

Os tropeiros viram caminhoneiros; e os pequenos feirantes cresceram e montaram suas lojas. A base econômica de Itabaiana (a partir de 1950), comércio e transporte, teve a sua origem com a chegada da BR-235 e do Ginásio Murilo Braga.

Antes, camponeses e tropeiros dominavam a vida econômica do agreste sergipano. Uma particularidade, parte desses camponeses exercia algum tipo de comércio, como complemento da renda familiar.

Era comum se possuir um sítio em Itabaiana e uma grade no mercado de Aracaju ou uma banca em qualquer feira de Sergipe, para se comercializar farinha, grãos, galinhas e ovos, e todo o tipo criação.

Itabaiana ganhou fama de cidade celeiro, abastecendo a população de Aracaju e alhures de farinha, feijão, galinha e ovos, hortaliças e frutas. O povoado caraíba dominava a produção de galinhas. Até hoje, compro galinha de capoeira a Gilmar, um caraibeiro, na feira do Augusto Franco.

Os tropeiros transportavam em lombo de burros as mercadorias dos sítios de Itabaiana até Roque Mendes, pequeno porto do Rio Sergipe, em Riachuelo, e através dos veleiros, chegava-se ao mercado do Aracaju.

Os mesmos tropeiros abasteciam as demais feiras de Sergipe, no retorno, trazia sal, açúcar, óleos, produtos industrializados, em geral, para os armazéns locais de secos e molhados e pequenas bodegas.

Com a mudança na base econômica, a disputa política passou a ser pelo comando do comércio, dos armazéns de secos e molhados (futuros supermercados), dos centros de distribuição de mercadorias, numa cidade tida como celeiro.

O poder político era decisivo para o sucesso econômico. A meta era controlar a exatoria e a polícia. Quem estava autorizado a passar o contrabando? Quem mandava prender e soltar e podia acobertar os malfeitores? Essa era a essência do poder no interior de Sergipe.

Em Itabaiana, o embate político entre Manoel Francisco Teles (PSD) e Euclides Paes Mendonça (UDN) foi violento e apaixonado. A população dividiu-se de forma irreconciliável. A luta principal, era pelo direito de passar contrabando, de mandar no fisco e na delegacia.

Manoel Francisco Teles, nasceu a 11/11/1899, filho de José Francisco Teles e Dona Maria da Graça Bomfim, oriundo de família de baixa renda, começando a trabalhar logo cedo. Em 1937, monta sua primeira Casa Comercial, depois expandindo filial em Carira.

Torna-se um pecuarista de porte médio, e com a herança pela morte do sogro, torna-se um homem rico. Casou-se com Maria Mendonça Teles (Dona Pequena), filha única do Tenente Honório Francisco de Mendonça.

O casal teve apenas um filho, o Dr. Airton Mendonça Teles, nascido em 07 de outubro de 1924, formado em medicina em Salvador, em 1947. Manoel Francisco Teles foi assassinado em 31 de agosto de 1967, na porta de sua residência.

Euclides Paes Mendonça nasceu a 16 de novembro de 1916, filho de Eliziário Paes e Maria da Conceição Mendonça, no povoado Serra do Machado, à época, território de Itabaiana.

Chegou a Itabaiana por volta de 1941, aos 25 anos, maduro e já casado com Dona Sinhá, uma matriarca da importante família Barbosa, das Candeias.

Euclides encontrou uma cidade pobre, acanhada, habitações precárias, sem água e sem luz elétrica. A população residente no núcleo urbano não passava de cinco mil almas. A população, em sua ampla maioria, era rural.

Ele montou uma revendedora da Chevrolet e Oviedo Teixeira uma da Ford. Passaram a vender caminhão com notas provisórios. Eles financiaram a chegada dos caminhões.

Euclides teve dois irmãos famosos, Mamede Paes Mendonça (1915 – 1995), que veio com ele para Itabaiana, e montaram como sócio uma padaria, no Beco Novo, esquina com a Rua da Pedreira; e Pedro Paes Mendonça (1900 – 1978), optou por estabelecer um comércio em Ribeirópolis.

Mamede construiu a rede de Supermercado Paes Mendonça, a maior da Bahia; e Pedro a rede de Supermercado Bom Preço, a maior de Pernambuco. Convenhamos, não é pouco. Hoje, um filho de Pedro, João Carlos, é um mega empresário.

Nesse período onde o comércio de Itabaiana expandiu-se. Itabaiana deu ao Brasil, além dos irmãos Paes Mendonça, Oviedo Teixeira, Gentil Barbosa, Noel Barbosa e Albino Silva da Fonseca, empresários de grande sucesso em Sergipe, e na região Nordeste.

Ganhamos a fama de grandes comerciantes. O que você precisa e não encontra, tem em Itabaiana, e mais barato. O grande comerciante Eliseu Oliveira (Arrojado), dizia de boca cheia: “de tudo o que existe no mundo, em Itabaiana tem, pelo menos dois.”

Essa guerra comercial acabou há muito tempo.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

A foto é de Manoel Teles. Acervo de Robério Santos.

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