ITABAIANA – 350 ANOS. ÁTALO CRISPIM DE SOUZA.

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Itabaiana – 350 anos. Átalo Crispim de Souza
(por Antonio Samarone)

A turma de 1963, do Ginásio Murilo Braga, foi excepcional: Átalo, Zé Carlos Machado, Nego Lima, Tutu, Angela Lobo, Angela de Dr. Pedro, Marilene de Carlota, Bosco Siqueira, Isabel do Galo, Neusa de Vieira Lima, Laudelina e Zoraide, esposa de Arrojado.

Átalo, Zé Carlos Machado e Elias Andrade, todos descendentes dos Ferreiros, da cepa de João José de Oliveira, da Matapoã, foram inteligências destacadas por onde passaram.

Átalo Crispim de Souza nasceu em 21 de março de 1949, na Rua das Flores, em Itabaiana. Filho de José Crispim e Dona Maria Lourdes. Irmão de Abrahão, Agda, Ada, Alteia, Amabel, Atenágoras e Tonho Grampão.

Zé Crispim é da cepa do Zanguê, filho de Antonio de Anjinho. Já esmiuçado em outro verbete. Zé Crispim saiu do Zanguê aos 19 anos, para ser aprendiz de alfaiate com o Mestre Órpilio Silva, num sobrado da Rua da Vitória.

O mestre Órpilio, avô do Doutor Carlos Umberto (China), era uma personalidade tradicional de Itabaiana. Durante a guerra da Coreia (1950/53), perguntaram o que o Mestre Órpilio achava da guerra: – “meu filho, do Rio das Pedras prá lá, ninguém nunca me encomendou um terno, portanto, nada me interessa.”

Zé Crispim montou a sua alfaiataria, na Rua do Cisco, defronte ao armazém de Filomeno. Foi lá que ele papocou um ferro de passar, no meio da rua. Conta-se, que ele tentava esquentar o ferro, aqueles de carvão, soprando pelo fundo. E nada! Talvez o carvão ruim. Ele se impacientou e atirou o ferro no chão.

Incontinente, dirigiu-se ao armazém de Filomeno, para comprar um ferro novo. O diálogo foi saboroso: – “Seu Filomeno, o senhor tem ferro de passar?” Tenho, respondeu Filomeno. – “Só com um detalhe, o ferro que eu tenho está mais frio do que o senhor acaba de atirar na rua.” Essa é a alma itabaianense.

Depois, Zé Crispim comprou um ponto na Praça da Feira e montou uma loja de tecidos, com um nome delicado: “A Sublime”. Zé Crispim não tinha jeito para o comércio.

A loja só prosperou quando comandada por Dona Lourdes. Os panos que Dona Lourdes comprava, vendia com rapidez. Ela possuia tino para o comércio.

Dona Lourdes, a mãe de Átalo, é filha de Josefa Monteiro (Dona Zefinha), irmã de Maria do Céu (minha avó), de Dona Melinha e Zezé do Fumo. Da família de Nicolau de Honorato, descendentes de judeus russos, do século XIX.

O pai de Dona Lourdes, José Francisco de Oliveira é filho de Francisco Antonio, do tronco central dos Ferreiros da Matapoã. Chico Antonio era irmão de Bernardinho, meu bisavô, atropelado por um trem, em 1936, no povoado Caititu, em Maruim. Fazem parte do troco central dos ferreiros da Matapoã.

Átalo Crispim de Souza faz as primeiras letras no Grupo Guilhermino Bezerra, nas escolas de Maria de Zizi e de Gabriel. Fez o exame de admissão ao ginásio, ainda no 3º ano primário. Gabriel deu um atestado falso, que ele tinha concluído. Passou! Com um detalhe, na prova de português, o professor Oliveira, botou uma pintura na frente e mandou que a turma descrevesse. Átalo já não enxergava bem naquele tempo. Descreveu sem ver.

Aos 4 anos, Átalo foi atropelado. O caminhão de Joãozinho da Padaria, sem freios, descia a Rua Manoel Garangau e passou por cima da barriga de Átalo. Deus sabe como, mas Ele está vivo. Esse foi o primeiro acidente de trânsito em Itabaiana.

Átalo, mesmo com as vistas curtas, jogava bola. Ele e professor Rivas se destacavam pela ruindade e Valter de Joãozinho Baú, era o craque.

Para estudar o científico, Átalo veio para o Atheneu, com dificuldades financeiras. Dividia a casa com o irmão Abrahão.

Átalo passou no vestibular de medicina em 1967, com a segunda maior nota. Nessa turma, tinha mais um ceboleiro, outro Ferreiro, Luiz Antonio Machado, que exerceu a medicina em Simão Dias.

Aqui em abro um parentese.

Dona Libânia, descendente direta dos Ferreiros da Matapoã, teve seis filhos: Antonio, muito conhecido, por possuir um bar; Nezídia, Zefinha, Lulu, Lilia e Nininha. Eras as famosas Vitalinas de Dona Libânia. Na verdade, vitalina mesmo só três. Nininha era casada com Machadinho, cobrador de ônibus em Aracaju, pais do médico Luiz Antonio Machado, citado acima. Dona Zefinha, era a mãe de outro médico, Luciano Alves dos Santos, o Dr. Luciano das Vitalinas.

Antonio de Libânia, o dono do Bar, é o pai do melhor guia turístico do Agreste, o meu amigo Marcos Mota. Segundo Marcos, no Mundo, três tipos de gente se destacam: – “os orientais, os africanos e o povo da Matapoã. Lá, nunca nasceu um burro.”

Átalo Crispim de Souza já entrou na Faculdade de Medicina, querendo ser psiquiatra. Durante o curso, caiu nas graças de Dr. Piva, que o designou monitor da patologia. Átalo se encantou com a patologia, mas o sonho era outro. Fez o estágio profissional no Adauto Botelho. Foi um choque: a psiquiatria à época, só dispunha de tratamentos cruentos e desumanos. Não era o que Átalo pensava.

Durante o curso, Átalo ingressou na AP (Ação Popular Marxista Leninista), pelas mãos de José Alves Neto e Moacir Mota. A AP era ligada a igreja católica. Átalo abraçou a militância comunista. Na Faculdade, tinha o incentivo de Vivaldo Lima, irmão de Rosalvo Alexandre, que era do PCB. Por conta, Átalo foi Presidente do Centro Acadêmico Augusto Leite.

Em 1972, no ano da formatura de Átalo, o Dr. Piva transfere-se para Brasília, visando organizar o departamento de patologia, do recém inaugurado Hospital das Forças Armadas. Átalo é convidado por Piva, para fazer residencia médica em patologia.

Átalo aceitou, com um pequeno reparo: vai fazer primeiro residencia em Clínica Médica. Ainda com a Psiquiatria na cabeça, Átalo faz dois anos de residência em Clínica. Deixou Brasília e foi viver em São Paulo.

Continuou com o projeto comunista na cabeça.

Em São Paulo, Átalo, inicialmente, exerceu a medicina clínica, mas buscando um caminho alternativo. Conheceu, no Hospital dos Servidores do Estado, um judeu homeopata.

Começou a fazer filosofia, foi aluno de Marilena Chauí. Finalmente, se matriculou num curso de Homeopatia, ofertado pela Associação Paulista.

Aconteceu um fato inusitado: a Comunidade Judaica de São Paulo, recebeu Átalo como um deles. Mesmo Átalo afirmando que não era judeu, eles não acreditavam. Como você não é judeu, tendo um irmão chamado Abrahão.

Fisicamente, Átalo parece de fato com os judeus, daqueles tradicionais, que oram no muro das lamentações.

Pelo sim, pelo não, Átalo foi acolhido pelos israelitas. Assumiu um consultório em Jundaí, deixado por um deles, e logo depois, estava instalado na Farias Lima, com um consultório homeopático, defronte ao Iguatemi. Os judeus, eram a garantia de uma clientela cativa.

Ele continuou comunista em São Paulo, inclusive, tentando criar um Partido revolucionário, com muitos exilados chilenos e argentinos.

Entretanto, dois fatos mudaram a sua militância vermelha: ele começou a ler as Obras Completas de Lenin, 20 volumes, uma publicação mexicana. No sétimo volume, ele descobriu que Lenin era portador de uma esquizofrenia leve. Foi o suficiente, suspendeu a leitura.

O segundo fato, foi um sonho. Átalo estava dissecando um cadáver, quando emergiu uma entidade, que realizou com ele um passeio pelo mundo. Fazendo grandes revelações. A dúvida, como ele, um materialista, conviveu com essas manifestações metafisicas. Ele percebeu possuir uma certa mediunidade. Começou a sentir presenças estranhas.

Átalo continua com o pensamento à esquerda. Só deixou a militância. Vê com pessimismo o horizonte político. O fascismo e a guerra estão a caminho. A esquerda tradicional foi derrotada e não surgiu nada novo. Assino embaixo.

Átalo se casou em São Paulo, com Elisabeth, e é pai de três filhos: Laura, Paulo e Carlos.

Em 1989, Átalo retornou definitivamente a Sergipe. Montou um concorrido consultório homeopático, aberto até hoje. Vive só, cercado de livros e boa música.

Em tempos de inteligência artificial, restam poucas inteligencias analógicas. Átalo talvez seja a maior erudição médica em nosso meio. Um herdeiro de Nestor Piva. Culto, ampla formação filosófica. Uma visão holística e profunda da medicina.

No momento, Átalo está escrevendo um tratado sobre os descaminhos da medicina.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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