ITABAIANA – 350 ANOS. RIACHO DOS NEGROS

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Itabaiana – 350 anos. O Riacho dos Negros.
(por Antonio Samarone)

Após meio século, voltei ao Riacho dos Negros, com a família e uns poucos amigos. Banhei-me na principal nascente do Parque Nacional Serra de Itabaiana, no seu lendário banho, no Poço das Moças. Chegamos ao nascer do sol. O Parque já estava tomado, gente por todo lado.

Tive a impressão que aquela água é fabricada no interior das rochas. Ela sai borbulhando, a 13 graus Celsius. Não sei por que sai tão fria. Se fosse água acumulada em lenções freáticos, sairia quente ou morna. Ao contrário, sai gelada!

Na Sala dos Negros, nas profundidades da nascente, no oco da Serra, a água jorra fria e limpa, nascendo para o mundo dos sedentos. Depois, logo depois, o homem a emporcalha.

Eu, aos 70 anos, intoxicado pelos medos das redes sociais, senti um raio de esperança invadindo a minha alma. Não entendi. A razão foge ao irracional, ao transcendente e ao metafísico.

As redes sociais transmitem compulsivamente um cenário apocalíptico, de medos e desilusões. O medo da Terceira Guerra (que será nuclear). Os medos da Pandemia, do aquecimento global, do fascismo e da inteligência artificial. Os medos do ódio, da barbárie, do negacionismo e do colapso da civilização humana.

O medo espanta a esperança. O neoliberalismo é um regime de medo, ao conduzir o ser humano ao um isolamento narcisista. Consumidores não tem esperança.

A esperança não se vê, ela é um estado de espírito. A caixa de pandora precisa ser reaberta, para libertar a esperança. O presente sem sonhos não produz nada novo.

Esperança não é otimismo, pensamento positivo (desses vendidos em consultórios), nem auto-ajuda. Esperança é o devir. A falta absoluta de esperança é o inferno.

Deixei o Parque Nacional Serra de Itabaiana invadido por um sentimento de esperança.

Esperança em quê, perguntou-me um burgues empoeirado? Esperança no desconhecido e no improvável! “A esperança que se vê, não é esperança.”

Exatamente agora, quando o mundo desmorona, a esperança de faz necessária.

Do Riacho dos Negros fui ao Alto dos Ventos, saborear uma panela de vaca atolada. O meu amigo Alberto Nogueira, vive no Alto dos Ventos, no pé da serra, só e sem medo.

Eu, contaminado pela pandemia de medos, achei aquilo uma aventura arriscada. Ele riu e sentenciou: – “quem tem medo não se submete a liberdade.”

O medo não cria narrativas, não cria comunidades, não traz um nós. Nele, cada um está isolado.

O medo suprime a esperança. O que fazer, para não deixar essa esperança efêmera escapar e retornar a caixa de Pandora?

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

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