Levantamento encomendado pelo ICTQ revela que 54% da população apoia a prática e 64% acredita que ela pode reduzir a automedicação
Uma pesquisa Datafolha mostrou que 54% dos brasileiros confiam na prescrição de medicamentos por farmacêuticos e que 64% dos entrevistados diz acreditar que isso pode reduzir as chances de automedicação. O levantamento foi encomendado pelo ICTQ (Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade) e ouviu 2.009 brasileiros de todas as regiões com idades entre 16 anos ou mais e foi realizado de 1 a 7 de abril deste ano. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Dentre os participantes que responderam confiar na prescrição de farmacêuticos, 64% têm idades entre 16 e 24 anos e 57% são mulheres. Já a ideia de que a prescrição de medicamentos por farmacêuticos reduziria as chances de alguém se automedicar foi vista em mais da metade de todos os grupos entrevistados, com 67% daqueles que possuem ensino médio e 57% das mulheres.
No Nordeste, os números são expressivos: 56% confiam na prescrição feita por farmacêuticos e 66% acreditam que isso reduziria a automedicação. Esses resultados colocam a região entre as mais favoráveis à prática, empatada com o Sudeste no primeiro indicador e liderando, junto com ele, a percepção de impacto positivo na redução da automedicação. Isso pode refletir uma maior valorização do papel clínico do farmacêutico em áreas onde o acesso médico pode ser mais restrito.
O estudo foi realizado por meio de entrevistas presenciais em pontos de fluxo populacional, com margem de erro de 2 pontos percentuais e 95% de nível de confiança. O público entrevistado representa a população com 16 anos ou mais, conforme dados do Censo IBGE 2022.
Os dados vêm à tona em um momento controverso, em que a prescrição de medicamentos por farmacêuticos, instituída há 12 anos, está sendo questionada judicialmente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Três resoluções do Conselho Federal de Farmácia (CFF) que disciplinam a prescrição farmacêutica estão suspensas temporariamente por força de liminares judiciais.
O argumento acolhido para a suspensão das resoluções ignora os vetos à Lei do Médico, que RETIROU do rol de atividades privativas dos médicos prescrição e diagnóstico. E, conforme o resultado da pesquisa, ignora também a opinião do cidadão, que regularmente vai às farmácias de todo o país em busca de resolutividade para os seus problemas de saúde. Resolutividade que ele encontra cada vez mais qualificada.
Desde 2017, a formação dos farmacêuticos está voltada ao cuidado direto ao paciente e inclui o desenvolvimento de habilidades para a realização de anamnese, solicitação, realização e interpretação de exames, entre outras diversas atividades clínicas.
De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos já adotam a prática de prescrição de medicamentos por farmacêuticos.
Automedicação – Além dos dados de percepção, a realidade brasileira reforça a urgência da pauta: mais de 90% da população se automedica, segundo levantamentos anteriores do próprio ICTQ e do CFF. Importante ressaltar ainda que o SUS gasta aproximadamente R$ 62 bilhões por ano tratando danos provocados por uso incorreto de medicamentos, cinco vezes mais do que o sistema gasta provendo as farmácias públicas.
Outro dado preocupante: o tempo médio de espera por uma consulta no SUS é de 57 dias, podendo ultrapassar 150 dias no Distrito Federal (fonte: DataSUS/SISREG). Nesse cenário, o farmacêutico, presente em milhares de unidades básicas de saúde e farmácias em todo o país, representa um ponto de acesso imediato, qualificado e seguro.