Pular para o conteúdo

Morre Raymundo Luiz “Silêncio: Gênio Pensando”

Compartilhe

Morre Raymundo Luiz, aos 95 anos. Quando alguém morre nessa idade, mesmo que não se lhe conheça a história, pensamos em heroísmos.

Envelhecer não é fácil, viver tanto é um ato de heroísmo.

Era uma criança, trabalhando na rádio Cultura em programas infantis, ao lado de Aglaé Fontes e nas radionovelas da rádio Cultura de
Sergipe, a rádio que o Arcebispo Dom José Vicente Távora construiu na sede da Ação Católica, onde também funcionava o jornal A Cruzada, e entregou aos artistas e intelectuais de Sergipe.

Ali, os talentos se somaram e tivemos uma grande emissora de ação cultural e educativa. Com a Rádio Cultura e as escolas radiofônicas, uma grande parte de Sergipe foi alfabetizada.

Muita gente que viria a fazer história na arte e no pensamento de Sergipe foi convidada por Dom Távora para compor a equipe da Cultura. Clodoaldo de Alencar Filho, Hugo Costa, Sodré Júnior, o Ribeirinho (Jose Ribeiro Filho), o jovem Reinaldo Moura, que era o grande leitor e intérprete das belas crônicas de Hugo Costa, Acácia Maria, e muitos mais. Entre eles, um homem moreno, de nariz muito afilado, com muito senso de humor mas era reservado, que escrevia a crônica esportiva: era Raymundo Luiz. Fazia questão do Y de Raymundo.

O Falando Francamente de Raymundinho, como todos os chamavam, inclusive a menina eu, era aguardado diariamente. Uma crônica direta, inteligente, sagaz.
Quando eu entrava na rádio, e ele lá estava, ocupado, fazendo a crônica diária, eu sempre dizia algo como “Está falando francamente, Raymundinho?” E ele sorria, me acolhia e chamava de Clarinha.

O tempo passou. A vida seguiu em frente. Sai do país, voltei anos depois e reencontrei Raymundo Luís. Dessa vez era Secretário de Comunicação do governo de João Alves Filho. Continuava discreto, sagaz e estabelecia limites com autoridade. Mas quando eu abria aquela porta onde se lia o anúncio “Não entre – Gênio pensando”, ele me recebia com um sorriso enorme e um abraço. Eu dizia qualquer coisa como “Vim trazer um raio de sol pra você, Raymundinho”. Riamos de muitas coisas. Ele tinha uma senso de humor crítico e refinadissimo.
Usava bem da palavra, que lhe podia servir como uma flor ou uma espada. Via por trás das palavras, das comunicações não verbais, era uma águia. Gostávamos de conversar e falávamos de negócios também. Eu o ouvia bem, pois sabia que era importante ouvi-lo e compreender todas as entrelinhas.

Raymundo Luiz foi um excelente funcionário do Banco do Brasil, um excelente jornalista, pai e marido amoroso. Amou e cuidou da sua Lourdinha até o fim. E começou a fenecer depois que ela se foi. Foi bom em tudo o que fez. Foi bom amigo também. Era um homem que sabia dizer não e cujo sim era muito valorizado. Ajudou muitas pessoas nas quais via talento, e não esbravejava poder. Ajudava discretamente, abria caminhos.
Para mim, ele foi mais do que o grande jornalista, ele foi um amigo que fiz na minha infância, quando ele já começava a trilhar o caminho profissional bem sucedido.

Tínhamos um grande carinho um pelo outro. Jogávamos loas nas trocas em midia social e ele me chamava de anjo.

Vai-se Raymundo Luiz, mas pessoas que vivem como ele, não se vão nunca. Deixam muita vida por trás. E a gente nunca esquece.

Ultimas notícias

Estudantes são esfaqueados na porta de escola pública em Ara...
Horóscopo do dia: previsão de hoje 06/05/2025 para seu signo
Vander Costa é o novo Coordenador Estadual do DNOCS/SE
Senar Sergipe abre seleção para enfermeiros e técnicos de en...
UFS abre concurso para professor com 11 vagas e reserva para...
Sergipe perde Raymundo Luiz da Silva, ícone do jornalismo e ...