NA VITÓRIA OU DERROTA.

A expressão contida no título aplica-se ao sentimento e ao apego com que o torcedor tricolor vive essa paixão.

É um fenômeno que começou a surgir, em 1959, quando o time de futebol, ainda amador, da Associação Olímpica de Itabaiana, sagrou-se Campeão da Zona Centro; um feito inédito, para uma cidade, que há dez anos despertava de um sono profundo de quase três séculos de existência. 

Finalmente, algo do que se orgulhar, além de sua serra, que a época já tinha boa parte sob domínio do seu antigo povoado de Riachuelo, quando foi Rio de Sergipe (e antes de ser Os Pintos), na passagem de São Gonçalo. Hoje, a perda da área foi ampliada com o surgimento do mais novo município de Areia Branca.

Em 1959, a cidade tinha ganhado acesso aos maiores mercados do país; e por ele, a sua frota de caminhão não parava de crescer. Também tinha ganhado uma escola graduada, com normal e ginasial; vira chegar a energia de geração hídrica e ostentar orgulhosamente a distribuidora dela, para boa parte do estado, e para o Recôncavo baiano; e a efetivação de um centro de apoio agrícola na Fazenda Grande; seu clube de recreação ia de vento em popa. 

Mas todo esse clima de otimismo ceboleiro, já era amplamente ameaçado. E desabou numa torrente de violência com apogeu em 08 de agosto de 1963, quando foram assassinados o piloto dessa nau e seu filho. A desgraça teria eco, visto como natural, em 31 de agosto de 1967, quatro anos depois. A cidade quedou-se acéfala; violada no seu amor-próprio. Não retroagiu de imediato, por força da inércia; que leva os corpos a nunca pararem, exatamente onde foram travados; especialmente se em média e alta velocidade. 

Mas ia parar. Sinais eloquentes disso é o seu crescimento urbano, que despencou dos 93,7% da década de 1950, para 48,2% da década de 1960. Detalhe: o crescimento rural também foi reduzido. Nunca tanta gente foi embora, da cidade; e do interior, ou zona rural.

Porém, no finalzinho da década de 1960 os ventos voltaram a soprar favoravelmente. Uma turma de novos empresários, todos pequenos, resolveu retomar o caminho de crescimento da Associação Olímpica de Itabaiana. Entre eles, ainda na condição de bancário, contudo, ingressando no mundo empresarial no ramo dos serviços, José Queiroz da Costa. Uniu-se o útil ao agradável. Queiroz da Costa, o intrépido empresário de uma máquina de fazer dinheiro que foi o cinema em Sergipe, nas décadas de 60 a 80, a garantir a parte financeira; Mozart Fonseca de Oliveira a gerenciar os contenciosos de ordem político partidária, já que de família longeva na política itabaianense; o industrial Azer dos Santos, Jose Gentil e Francisco Tavares da Costa, o Fefi, arrebanhando os outros entusiastas, cuja lista, já citada por Aelson Gois, é muito extensa para ser delineada aqui, sem cometer injustiças.

Estava formado o escrete que conquistaria o vice-campeonato em 1968, e que levou o time ao título máximo do estado em 28 de agosto de 1969. À glória máxima: Campeão Sergipano.

Doravante Itabaiana não seria mais a patinha feia de Sergipe, que quase todo o estado olhava por sobre os ombros – ou sequer isso – apenas se incomodando com seus decididos negociantes de feira, ou odiando seus “pernósticos e mal educados” políticos, ao ponto de ter permitido a chacina supracitada, promovida pela força de segurança do Estado.

E Itabaiana virou “a capital do futebol”.

Campeão do Nordeste, em 1971, é até hoje o único time sergipano a ter em seu portifólio um título de envergadura nacional. E o futebol virou uma religião.

Na vitória, ou derrota, como reza seu hino, composto no auge da sua ascensão, em 1972, pelo professor e poeta Alberto Carvalho, o time é muito mais que um time: é Itabaiana que se apresenta ao Brasil e ao mundo, glorificando a cidade e seu povo; e levando o estado de Sergipe às boas páginas noticiosas de além rios Real e São Francisco. Mesmo quando o time perde uma partida.

A catarse presenciada aqui no último domingo, e replicada com a chegada da equipe, na segunda-feira, 02, depois da ascensão garantida à série C, frente ao 13 de Campina Grande-PB, demonstra que o torcedor tricolor é mais que um torcedor. Porque seu time é mais que um time: É Itabaiana para exportação. Do que há de melhor em nossa gente: “A disputa com luta, e o abraço de irmão”.

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