Mudanças climáticas já interferem no consumo e na demanda de energia elétrica

Redação, 10 de Abril , 2024

Os efeitos mais visíveis das mudanças climáticas já começam a ser percebidos inclusive na produção e no consumo de energia elétrica. As ondas recentes de calor do último mês de março, que fizeram as temperaturas baterem ou passarem dos 40ºC em estados do centro-sul do Brasil, deram o mesmo ritmo ao nível de demanda máxima registrada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Na tarde do último dia 15 de março, a demanda máxima de carga de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN) chegou a 102.478 megawatts (MW) e foi atendida por 92,5% de energia sustentável. Este número superou os 101.860 MW alcançados em 7 de fevereiro e os 101.475 MW de 14 de novembro de 2023, que também eram recordes do sistema.  

Estas ondas de calor, e as quedas repentinas de temperatura (causadas principalmente pelas chuvas e frentes frias), provocam aumento da demanda de energia porque as pessoas recorrem mais aos sistemas de aquecimento ou resfriamento. “Se houver uma onda de calor ou uma queda repentina de temperatura no final do verão, isso pode levar a um aumento na demanda de energia. As pessoas podem recorrer mais aos sistemas de aquecimento ou resfriamento, dependendo das condições climáticas ”, diz o professor Cristiano da Silva Vieira, dos cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecatrônica da Universidade Tiradentes (Unit).

O calor extremo é apenas um dos fenômenos climáticos provocados pelo aquecimento da temperatura média do planeta Terra. Eles vêm acompanhados por secas prolongadas ou eventos de vento, enchentes e tempestades, que podem não apenas aumentar o consumo dos sistemas de aquecimento ou resfriamento, mas também afetar e interromper as redes de transmissão e distribuição de energia. Foi o que aconteceu recentemente em cidades como São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS), que enfrentaram falta de energia por mais de 100 horas em alguns bairros - e cuja atuação das empresas distribuidoras foi bastante criticada. 

“Diante desses desafios, é crucial investir em infraestrutura resiliente, tecnologias de armazenamento de energia avançadas e estratégias de gestão de energia flexíveis para lidar com a variabilidade crescente na geração e na demanda de energia. Além disso, políticas de mitigação das mudanças climáticas, como a redução das emissões de gases de efeito estufa e o aumento da eficiência energética, são fundamentais para enfrentar os desafios associados ao aumento dos efeitos das mudanças climáticas no setor de energia”, orienta Cristiano.

Ainda de acordo com o professor, a interação complexa entre esses fatores pode variar dependendo da região e das condições específicas do mercado de energia, além de fatores como a retomada das operações normais de empresas e escolas, o crescimento econômico de determinada região, aumento da atividade industrial e mudanças nas preferências dos consumidores, como o aumento no uso de eletrônicos, veículos elétricos ou a adoção de novas tecnologias que consomem energia. Isso também passa pelas condições de geração de energia solar ou eólica, que dependem das condições climáticas de cada dia. 

“Se houver uma alta dependência de fontes de energia renovável, a demanda de energia pode variar dependendo das condições climáticas que afetam a produção dessas fontes de energia. Se houver uma escassez temporária de vento ou luz solar, a demanda por energia de outras fontes pode aumentar para compensar essa lacuna”, detalha Vieira. Este ramo de fontes renováveis registrou um grande crescimento na matriz energética nacional, chegando a responder por quase 29% do total produzido, segundo a ONS. 

‘Excesso’ dispensado

É aqui que entra uma situação contraditória, mas cada vez mais frequente  no sistema elétrico, que também preocupa os especialistas: o “excesso” de produção de energia elétrica, que muitas vezes precisa ser “jogado fora” porque não consegue ser distribuída ou armazenada. O próprio ONS prevê que, em 2028, o Brasil terá uma oferta de 281,56 gigawatts, contra uma demanda 2,5 vezes menor: de 110,98 gigawatts. 

O professor da Unit sugere a adoção de várias estratégias para um melhor aproveitamento do excesso de energia elétrica. “São ações como o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia mais avançadas, a expansão da capacidade de transmissão de energia, o incentivo ao uso de veículos elétricos e a implementação de políticas que promovam a flexibilidade na geração e no consumo de eletricidade. Embora o sistema elétrico brasileiro tenha capacidade para suprir a demanda de energia em muitas circunstâncias, é importante continuar monitorando e investindo na infraestrutura para garantir a segurança e confiabilidade do fornecimento de energia”, afirma.

A situação também gera dúvidas sobre a real capacidade do sistema elétrico brasileiro de suprir a demanda de energia, Vieira explica que ela varia ao longo do tempo e depende de vários fatores, incluindo a disponibilidade de recursos energéticos, capacidade de geração, eficiência da infraestrutura de transmissão e distribuição, políticas energéticas e condições climáticas. “O Brasil possui um mix diversificado de fontes de energia, incluindo hidrelétricas, termelétricas, eólicas, solares e biomassa. As hidrelétricas historicamente têm sido a principal fonte de geração de energia do país, respondendo por uma parcela significativa da capacidade instalada. No entanto, a dependência das hidrelétricas torna o sistema elétrico brasileiro sensível às variações climáticas, como secas prolongadas, que podem afetar a disponibilidade de água para geração de energia”, analisa.

Asscom Unit

com informações de G1 e Agência Brasil


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