COLHEITAS FARTAS E INCERTEZAS TAMBÉM [II] por Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Costa Macêdo
No contexto das incertezas pela rota dos grandes produtores de grãos e carnes no Brasil, os investimentos estão centrados linearmente em tecnologias para o aumento da produção e produtividade da terra e da mão-de-obra. Fatores de produção intensivos em capital.
Externalidades sociais, demanda por alimentos saudáveis e sustentabilidade ambiental, condicionantes do mercado global, influenciam e até direcionam os sistemas de produção agrícolas. Entretanto, ainda, não compõem como prioridade a equação básica do modelo agrícola em curso. Predominam a linearidade produtivista, desvinculada das demandas de esclarecidos consumidores, a exemplo dos cuidados ambientais e da “saúde única”. A mudança climática e os seus efeitos estão visíveis no aquecimento global, nas enchentes, furacões, desertificações e migrações.
Na perspectiva das políticas públicas, os investimentos no setor agrícola devem incorporar as tecnologias sustentáveis e a diversificação da produção. Partilhar a produção de commodities com a produção de alimentos básicos advindos da agricultura familiar. Ao invés de competição, complementariedade. Nesse cenário, a fruticultura em sua diversidade, carece do apoio, à sua inserção no comercio internacional. As exportações de uva, melão, manga e mamão, produzidas preferencialmente no Nordeste, áreas com produtividade superior aos concorrentes internacionais, ultrapassaram um bilhão de dólares. Valores expressivos, que tendem a prosperar e crescer.
Outras produtos agrícolas, a exemplo de ovos, tem potencial para reduzir os riscos e as ameaças à produção agropecuária, mas, nada se compara às oportunidades que a transição energética e os biomateriais oferecem. A economia verde, a exemplo dos biocombustíveis e do hidrogênio verde, realçam o enorme o potencial do Brasil, como referência no cenário mundial. Energia limpa, floresta tropical, sequestro de carbono, água doce e abundância de terra agricultável, projetam o Brasil, além de produtor e exportador de alimento, mas como uma inigualável potência ambiental.
O governo federal no “Plano Nova Indústria Brasil”, entre as suas missões, prevê investimentos prioritários em atividades estratégicas da produção. Cadeias agroindustriais sustentáveis, digitais, segurança alimentar, nutricional e energética estão no seu portfólio. Bioeconomia, descarbonização, transição e segurança energética são fundamentais para garantir os recursos finitos às gerações futuras. Oportunidade ímpar para agricultura brasileira, mas, dependente da integração entre as premissas do referido Plano e as políticas agrícolas,
Caminho a ser trilhado com sabedoria à prosperidade, pela agregação de valor e mitigação do risco da produção. Arte em que o Estado brasileiro não tem sido pródigo, mas, somente assim, teremos colheitas fartas e menos incertezas.
Pedro Abel Vieira e Manoel Moacir Costa Macêdo, são engenheiros agrônomos.
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