SETENÁRIO DAS DORES DE NOSSA SENHORA

Jerônimo Peixoto, 07 de Abril , 2020 - Atualizado em 07 de Abril, 2020

SETENÁRIO DAS DORES DE NOSSA SENHORA

A Piedade Popular, ao longo dos séculos, desenvolveu formas próprias de se comunicar com a divindade, através de devocionais, que são expressões nem sempre apoiadas ou aprovadas pela Igreja. A devoção mariana cunhou as Sete Dores de Maria, todas elas com fundamentos bíblicos, e aprovadas pela autoridade eclesiástica.

Trata-se, na verdade, de um sentimento solidário e inspirador. Solidário, porque, ao reviver as sete dores de Maria, os cristãos e voltam para a centralidade dos Mistérios de Cristo, vez que tudo o que Maria viveu foi em função de seu Filho Jesus. Além disso, trata-se de oração que se pode estender aos sofredores do mundo inteiro, sobretudo às mulheres, cujos filhos estão em situações desafiadoras, como a prisão, a doença, as drogas etc. Inspirador, por ser este devocional um mar de espiritualidade concretizada nas dores e nas angústias de todos os povos e nações, de sorte que se podem encontrar nele os mais brilhantes gestos e atitudes cristãos que edificam e fortalecem a vida em comunidade.

Passemos a examinar cada uma das sete dores. Lembremo-nos de que o numeral sete, na numerologia bíblica, significa totalidade, completude. Ao estabelecer sete dores supostamente sofridas pela Mãe de Jesus, desde a infância até o sepultamento de seu Filho, os cristãos desejaram dar sentido à totalidade das dores por que passa o mundo inteiro. Cristianizar a dor não significa ser masoquista, mas é um modo de conviver melhor com ela, quando não se pode afastá-la. Não é um ato de apequenar-se e de autocompaixão. Antes, é uma busca pelo sentido da vida, mesmo estando imersos na dor, no sofrimento, nas desilusões da vida. Iniciemos nossa reflexão:

PRIMEIRA DOR: A PROFECIA DE SIMEÃO: UMA ESPADA DE DOR TE TRASPASSARÁ A ALMA (Lc 2, 33-35)

No contexto da apresentação do Menino ao Templo, no famoso relato da Purificação de Maria, para obedecer a uma norma da Lei, toda mulher que desse à luz um filho, deveria apresentá-lo ao Templo e oferecer uma oferenda, para o resgate. Maria não oferece nada, pois ela não consegue resgatar o menino. Ele não lhe pertence. É Deus de Deus! O velho Simeão toma o Menino nos braços e bendize a Deus: “Agora, Senhor, podeis deixar vosso servo partir em paz, pois meus olhos viram a vossa Salvação, que preparastes ante a face das Nações, Luz e Glória do Vosso Povo, Israel”. O homem de Deus, que representa o pequeno resto de Israel que se mantivera fiel à aliança, reconhece na criança o Salvador.

Convém esclarecer que Lucas, e os demais evangelistas, narra os fatos bem depois dos acontecimentos. No evangelho da Infância de Jesus, há um paralelo entre o nascimento e a morte. O menino fora envolto em faixas, na manjedoura, do mesmo modo como o será, ao ser deitado no sepulcro. Nesse paralelo, despontam as dores que Maria haverá de sofrer, para ser fiel ao projeto de Deus. Sendo o Menino causa de contradições e de quedas, uma espada vai penetrar o mais recôndito de Maria, que é a alma maternal, da mãe que, mesmo sem entender o que se passa, sofre porque ama e ama mais ainda, por ver o filho sofrer. Esta dor se estenderá por toda a vida de Maria como força motriz para cada uma a seguir. Maria, ajuda-nos a suportar nossas dores e nossas espadas diárias. Amém.

SEGUNDA DOR: FUGA PARA O EGITO (Mt 2, 13-15)

Agora, estamos em companhia de Mateus. Apenas ele e Lucas narram os acontecimentos da infância. Mateus estabelece um paralelo entre Jesus, o Mestre da Justiça, e Moisés, o grande Líder que retirou o povo hebreu da escravidão do Egito. Por isso, ele coloca a fuga de José, Maria e o Menino para o Egito, para se cumprir a profecia: “do Egito, chamei o meu filho”.

Mesmo que seja só uma fuga figurativa, a piedade popular, não sabedora dessa teologia de Mateus, associou a Maria as inúmeras fugas que os pobres têm de empreender, para conseguir uma casa, conseguir se livrar da fome, da morte, das inúmeras cenas de espancamentos domésticos. Novamente, a solidariedade mariana invade a esfera existencial de cada um dos filhos de Deus.

Quantas mães, neste Nordeste imenso tiveram de fugir, para não ver seus filhos morrerem de fome? Quantas não tiveram de deixar seus filhos em orfanatos, só para não os ver morrer? É um ato desesperado que soa como fracasso. Mas, por vezes, é a única possibilidade que se abre. Entre se criar sem a mãe biológica e morrer de fome, prefere-se a primeira opção. Oh, Mãe de Jesus, senhora fugitiva, por proteção e por amor, invade nossos lares e nos ampara em nossas situações miseráveis. Amém.

TERCEIRA DOR: A PERDA DE JESUS, NO TEMPLO (Lc 2, 42-52) Os judeus piedosos tinham o ingente dever de, uma vez ao ano, subir a Jerusalém para a festa da Páscoa. José e Maria vieram para cumprirem seus preceitos religiosos, trazendo o menino Jesus. As caravanas andavam separadas; a dos homens à frente e a das mulheres, em seguida. As crianças poderiam escolher entre uma e outra. De volta para Nazaré, José pensava que Jesus estivesse com Maria. O mesmo imaginava Nossa Senhora. E Jesus está no templo, dialogando com os Mestres da Lei. Aqui reside a aflição de muitas mulheres que, em meio a multidões, perdem-se de seus filhos. Quase todo mundo já passou por um momento assim. É Maria na nossa vida, na nossa história, sentindo conosco os desafios de ser mãe e de cuidar da vida de seu filho. Mãe amada, toma em teus braços, nossas crianças, livrando-as da perdição, sobretudo do mal do Coronavírus, a fim de que nossas famílias sejam totalmente de Deus, como teu Filho, que discutia as coisas de Deus, entre os Mestres, porque é todo de Deus. Amém.

QUARTA DOR: ENCONTRO DE MARIA COM SEU FILHO JESUS. Os evangelistas todos narram a presença de mulheres que acompanharam Jesus, desde a Galileia até aquele momento de Cruz. João (19, 25-17) afirma que Maria estava de junto à Cruz de pé. A piedade popular, entretanto, vê Maria entre as santas mulheres referidas pelos evangelistas e descrevem o encontro entre ela e Jesus, com a cruz às costas.

Trata-se de apresentar a sensibilidade maternal, na esperança de aliviar as dores do filho. Já presenciei muitas mães desejosas de se entregar no lugar dos filhos; mães que deixam de comer para alimentar os filhos, que deixam de dormir, para acalentar seus filhos imersos na dor. Maria, ao se encontrar com Jesus, no caminho do Calvário, representa todas as mulheres que lutam até o fim para salvar seus filhos. E, quando não podem mais fazê-lo, tornam-se presença edificante na vida deles, presença carinhosa e maternal que alivia as dores, mesmo se condenados à morte. É a força materna que, apenas olhando o filho, torna-o aliviado pela força de um amor puro e sem exigência alguma. Maria, mãe terna e solidária, vem em socorro dos que padecem neste instante de agruras e incertezas, e dá-nos o teu maternal alívio. Amém!

QUINTA DOR: A MORTE DE JESUS, NA CRUZ

A citação bíblica para a quarta dor serve para todas as demais, como conclusão lógica. Quem se fez presença edificante durante toda a vida, agora, na hora da morte, está intrépida, como uma fortaleza edificada para a proteção. É assim que vemos a Mãe de Jesus, no episódio do Calvário. Assim, enxergamos tantas mães nas filas dos hospitais, nas cenas de assassinatos, nas salas de espera de UTI, na hora derradeira de seus filhos. A mãe não entende o porquê, mas sabe que é essencial ser presença de afeto, embora sua alma esteja estraçalhada. Agora, vê-se mais evidente a espada de dor que lhe atravessa a alma. Agora, cumpre-se o que falara o Velho Simeão: O filho tornou-se a maior contradição da história, dividiu povos, assanhou guerras e espalhou confusão onde só havia convicções meramente humanas.O Projeto de Deus é fazer com que o ser humano tenha Nele sua força e sua certeza . Maria, cuja alma está abatida, mas imersa em Deus, vem em socorro das mães que recebem, agora, a notícia da morte de seus filhos e não podem sequer sepultá-los, neste momento histórico de tantas incertezas. Amém.

SEXTA DOR: MARIA RECEBE O FILHO MORTO EM SEUS BRAÇOS

Amparados na narrativa de João e na criatividade popular, contemplamos agora Maria recebendo ao colo Aquele que se fez carne em seu ventre. Nenhuma dor é tão grande quanto a de sepultar o filho ou a filha! Quem passou por essa experiência amarga, mesmo tendo inimigos, não lhes deseja tamanha tormenta. Na fé e na esperança, Maria tem o corpo sem vida daquele que é a Vida do Mundo, a Fonte de Água Viva que jorra para a Vida Eterna. Enquanto ser humano e mãe, seu amor é provado, sua fé testada e seu sim a Deus é confirmado. Ela é mãe de Deus, mãe de um “malfeitor” morto. Só lhe resta a esperança em Deus, que tem sempre a última Palavra. Saber esperar por Deus é a grande lição que Nossa Senhora dolorida nos ensina, naquele instante brutal. Maria, mão lacrimosa, acolhe nossa esperança e transforma-a em Vida. Amém.

SÉTIMA DOR: MARIA SEPULTA SEU FILHO E VAI PARA A CASA

Ao terminar tudo, no sepulcro novo, Maria retorna a sua casa. Estava em Jerusalém; sua casa ficava em Nazaré, mas Lucas vai nos afirmar, em Atos 1, que Maria estava com os Apóstolos reunidos no Cenáculo, em Jerusalém... onde é a casa de Maria? Onde residem a Fé e a Esperança em Deus, onde a Igreja de Jesus, alicerçada na Fé e na Esperança, mesmo amargando a dor do sepulcro, estiver, Maria aí estará. “O discípulo a recebeu em sua casa”. Casa sem endereço, sem nome, sem chefe de família, para indicar: a humanidade que crê é a habitação da mãe do Filho de Deus.

A Dor de Maria é aquela sensação de tantas mães: tudo acabou, ou deve-se esperar algo ainda? Qual é a última palavra sobre nossa história? Nossos títulos? Nosso cobre? Nosso prestígio? Nosso poder? A arrogância que não permite enxergar os pobres? Não! Definitivamente não! Deus, Senhor da Vida, tem a última palavra, o último gesto, o derradeiro Sinal. Para quem sabe esperar, Ele se doa por inteiro e conduz à Felicidade Verdadeira. É a grande mensagem da Páscoa; é a experiência dolorida de Maria que o confirma: Cristo venceu a morte!

Assim, não se celebram as dores da Mãe de Jesus, como um fato histórico do passado. Devemos referendá-las para que nossas dores e sofrimentos, nossas angústias e esperanças tenham sentido profundo em nossa história. Rezemos, ao menos, uma dezena do Rosário e ofereçamos a Deus, por intercessão de Maria, a fim de que as dores de todas as mulheres sejam revertidas em alegrais eternas. Amém


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