Aids: o mais difícil de suportar é o preconceito, dizem mulheres soropositivas

O preconceito maltrata, isola e até influencia no tratamento do paciente, levando muitos a desistirem

Redação, 16 de Dezembro , 2020

O gerente do Programa IST/Aids da Secretaria de Estado da Saúde, Almir Santana, destaca a importância do Dezembro Vermelho como mais uma oportunidade para chamar a atenção da sociedade para o fim do preconceito contra os soropositivos. Há mais de 30 anos atuando no enfrentamento ao HIV e Aids, no apoio às pessoas com a patologia, na orientação aos municípios quanto aos cuidados com a pessoa vivendo com o HIV, na realização de ações de incentivo à testagem, ao diagnóstico precoce e tratamento oportuno, Almir Santana sabe que o preconceito maltrata, isola e até influencia no tratamento do paciente, levando muitos a desistirem.

Mas há histórias de superação. Como as de M.F., 62 anos, e de G. M., 58 anos, ambas converteram o diagnóstico desfavorável em missão de vida e se engajaram na luta contra a Aids, no trabalho educativo e no enfrentamento ao preconceito e apoio às pessoas vivendo com o vírus. “Todos os dias acordamos para uma nova batalha e no fim do dia agradecemos pela vitória porque viver com o HIV é descobrir que a gente pode viver com ele. O que não podemos é viver com o preconceito”, declarou M.F..

Consultora de vendas na área de produtos de beleza e soropositiva há 10 anos, ela garante que muita coisa mudou em sua vida desde que recebeu o diagnóstico da patologia, precisando se adaptar à nova realidade, o que lhe exigia mais cuidado com a alimentação, hábitos e tratamento para ter qualidade de vida. Rigorosa em relação à medicação, segundo conta, atualmente é considerada indetectável, ou seja, possui uma carga viral tão baixa que não é detectada nos exames.

Ainda assim sofre preconceitos, até entre familiares, embora afirmem que a apoiam. “Eu não posso falar sobre a infecção ou orientar meus netos sobre a Aids que me pedem para eu esquecer. Só que se eu esquecer que tenho o vírus, vou esquecer também de continuar com meu tratamento e em pouco tempo a carga viral voltará crescer, então eu concluo que esse apoio tem restrições”, declarou a consultora de vendas, salientando que já não recebe muitos convites para festas em família e o que cozinha para esse tipo de evento sobra na mesa. “É muito triste, mas vamos vencendo os desafios”, completou.

G.M., 58 anos, descobriu que tinha a Aids há 22 anos. A infecção já tinha se instalado quando foi detectada pelo oitavo clínico que a tinha atendido. Muito debilitada à época, ficou oito meses internada no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) em recuperação. Ao sair, soube que não poderia mais voltar para a sala de aula. Viúva, recebeu os cuidados da filha de 11 anos, que precisou deixar a escola para dar suporte à mãe.

Em 2002 G. M. fundou o núcleo sergipano do Movimento Nacional das Cidadãs Positivas, com o objetivo de trabalhar o empoderamento delas, melhorar a qualidade de vida dessas mulheres, combater a inércia e o preconceito. “Viver com HIV não é fácil, até porque tenho uma experiência viva na minha vida. Não posso mais voltar para a sala de aula. O que mais me dói é o estigma, porque isso já levou muitas cidadãs a óbito, a desistirem do tratamento”, disse.

Indetectável, a professora lembra que não é só de medicamentos que a pessoa soropositiva vive. “É fundamental que tenhamos uma vida digna. Precisamos de respeito, de nos alimentar, de termos acesso aos serviços. Estamos sofrendo com a retirada da cesta básica há quase três meses e tem pessoas soropositivas que dependem dessa ajuda. É bem difícil viver com a patologia, mas somos mais fortes e estamos sempre nos superando, respirando e seguindo em frente”, concluiu.


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