“AGRICULTURA: FATOS E MITOS”(II) Manoel Moacir Costa Macêdo

Redação, 28 de Maio , 2021 - Atualizado em 28 de Maio, 2021

Em tempos turvos de negacionismo e obscurantismo, merece atenção a leitura do livro “Agricultura: Fatos e Mitos”. Lavra do professor e pesquisadores, respectivamente Xico Graziano, Décio Gazzoni e Maria Thereza Pedroso. Acadêmicos estabelecidos em organizações de ciência, tecnologia e ensino, acreditadas na comunidade científica.  No prefácio da obra eles afirmam: “Nós acreditamos na virtude do progresso. Nós confiamos na inteligência humana. A virtude está na Ciência”.

Não são apologias eivadas de interesses corporativos, como combustível para inflamar a polarização política e a radicalização entre esquerda versus direita. O objetivo, é reconhecer na produção agropecuária brasileira as referências do método científico, o paradigma de suporte à ciência, com contradições e anomalias, próprias das “revoluções científicas”. Para eles, a ciência valora os “fatos” e evidências, e rejeita os “mitos” e crendices.

A obra propõe qualificar o “debate racional sobre o agro brasileiro”, um setor relevante da economia nacional: produzir comida para alimentar uma população crescente. De um lado, louvores a uma atividade que dialoga num só tempo com a existência, isto é, a vida, e ao mesmo tempo com a natureza, a casa que nos acolhe como inquilinos. A grandeza da agricultura, vem de longe, ela é parte da evolução da humanidade, desde a era da “Revolução Agrícola, por volta de 12 mil anos atrás”. Do outro, os dilemas renovados entre a “produção e o consumo”, na rota desigual, onde poucos ganham e muitos perdem. Algumas perdas são irreparáveis, a exemplo das agressões ao planeta, das mortes pela fome e das perdas irreversíveis de biodiversidade. A pandemia da Covid-19, causada pelo “coronavírus”, constitui uma das evidências.

A produção agropecuária brasileira, incorpora as tensões, entre produzir para matar a fome dos seus naturais e exportar como commodities agrícolas no balcão da globalização. A opção política tem sido a segunda. O Brasil produz safras agrícolas crescentes a cada ano, vis-à-vis, a desnutrição e a fome aguda dos brasileiros e brasileiras. O País, saiu e retornou ao “mapa da fome”, prova que a fome não é um evento determinista. Na práxis humanista, “produção e consumo” são inseparáveis. A desigualdade social, não compõe a equação produtivista e nem é acolhida pelo fetichismo da ciência. Não é aceitável pelo senso comum as apropriações seletivas dos resultados da produção agropecuária. No Brasil, uma parte das contribuições científicas são patrocinadas pelo Estado, organização social, em sua gênese, igualitária para todos os cidadãos de determinado território. Esse não é o objeto da obra, mas para o pensamento dialético “tudo interfere em tudo”, assim como “a produção e consumo” opera num único sentido.

O livro está escrito em linguagem simples, concisa e com argumentos em “notas explicativas e referências bibliográficas”, das atividades dos sistemas de produção agrícolas. Os autores contestam os “mitos” e fortalecem os “fatos”, em temas como “agrotóxicos, transgênicos e recursos hídricos”, entre outros. Eles não fogem ao bom debate e nem negam as suas convicções. Eis alguns exemplos: - mito: “a maioria dos alimentos no Brasil, está contaminada com resíduos de agrotóxicos. O oposto é verdadeiro”; - fato: “os alimentos produzidos no Brasil são seguros ao consumidor”; - fato: as plantas “queimam” gás carbônico durante o período do dia, liberando oxigênio na atmosfera; - mito: não existem “evidências científicas suficientes para afirmar que os alimentos orgânicos são superiores do ponto de vista nutricional, aos alimentos oriundos da agricultura convencional; - fato: “a adubação orgânica somente se viabiliza na pequena escala de produção” e - mito: “efetuando uma análise aprofundada do tema, é lícito afirmar ser um mito que a agricultura gasta mais água que as cidades”.

 Ao final, os autores concluem que a ciência “é a condição técnica da produção e transformação agroalimentar”. “Achismos” não encontram acolhimento nos requisitos do paradigma positivista da ciência e “os mitos, permeiam inadvertidamente o senso comum das pessoas”. A obra merece ser lida e comentada, como “uma feliz simbiose da ecologia e agronomia”.

[GRAZIANO, X.; GAZZONI, D. L.; PEDROSO, M.T.Agricultura Fatos e Mitos:  Fundamentos para um debate racional sobre o agro brasileiro. São Paulo: Baraúna, 2020.].

 

Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e advogado


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