REGINALDO TUDIM por Manoel Moacir Costa Macêdo

Redação, 18 de Junho , 2021 - Atualizado em 18 de Junho, 2021


O curso universitário é um marco na existência. Projeções para o futuro. Maravilhosa aventura. Limite entre sonhos e realidades. Mistura de valores, sofreres, expectativas e estratégias. Exposições de histórias, frustações, , afirmações, rebeldia e contestações. A velocidade não possibilita o amadurecimento para apreender a verdade nua e crua. Impossível compreender tantas contradições no tempo real. Ambiente de relacionamentos, camaradagem, política e conhecimento. Adiante, por um olhar amadurecido a complexidade é abstraída numa síntese madura de reencontros e labores. Um espelho na história entre o passado e o futuro. Esse o sentido das reminiscências universitárias vividas na Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia - UFBA na década de setenta.  

O tempo de estudante e o labor profissional é um contínuo, as separações são tênues. Início e fim unidos. Assim comprovam os fatos. Um acontecimento de triste lembrança. Protagonista, o colega Reginaldo Fernandes Silva, Reginaldo ou Tudim. Pouco conhecia a sua história. Participava do Núcleo de Estudos e Pesquisa - NUCEP e fizemos algumas viagens. Fomos jogados num campus do interior no início dos anos setenta. Inexistiam mecanismos de integração. Sabia que era maranhense. Cabeleira avantajada. Macacão jeansdesbotado. Passos medidos. Violão como companheiro. Inquilino do alojamento chamado de “Frigorífico”. Compenetrado nos estudos. Curso encerrado e caminhos dispersos. Passados uma década e meia da conclusão do curso, um casual reencontro. Eu trabalhava em Brasília, centro político e de poder. Era o Chefe de Gabinete da Presidência da EMBRAPA. Na estrutura burocrática da organização, uma função estratégia, ademais era “amigo-irmão” de seu Presidente, amizade oriunda do curso de mestrado, que persiste até hoje.

Num dia seco e quente, típico do Cerrado, fui chamado para atender um telefonema da Bahia. Alegria. Ouviria vozes baianas. Era Reginaldo, baiano adotado. Estava trabalhando na CEPLAC, no sul da Bahia. Concluiu o mestrado no mesmo curso que eu e Nando na Universidade Federal de Viçosa - UFV. Passadas as alegrias do “reencontro pelo fio do telefone”, ele foi direto ao assunto. Disse que desejava retornar ao Maranhão, sua terra natal. Não comentou as razões, nem perguntei. Pensei, deve tratar da transferência do trabalho. No Maranhão, não tem cacau e nem CEPLAC. Imaginação confirmada. Solicitou um adjutório. Mudar de ambiente, mas continuar vinculado à CEPLAC. Uma disponibilidade à EMBRAPA.

Complexa mobilidade. Da CEPLAC para o Ministério da Agricultura, desse para a EMBRAPASede, dessa para a EMBRAPA Soja e ao final para à Estação Experimentação de Balsas, vinculada à EMBRAPA Soja, a única estrutura da EMBRAPA no Maranhão. Combinamos as ações. Anos noventa, governo federal recém empossado. Restrições às movimentações de servidores públicos. Não esmoreci. Mãos à obra. Legalmente, as providências estavam fora do meu alcance de poder, mas não podia decepcionar o colega. O importante, era o “de acordo” do Ministro da Agricultura na cessão da CEPLAC e no aceite da EMBRAPA, ambas a ele subordinadas. Convenci o Presidente da EMBRAPAdessa incomum transferência e roguei para agir perante o Ministro da Agricultura. O único pedido pessoal que lhe fiz e com emoção. Pressão do tempo. Reginaldo, demonstrava pressa. Ao final, transferência concluída. Reginaldo feliz pelo retorno a terra natal. Eu, contente em ter ajudado o colega. “A vida é muito melhor quando os outros estão felizes por nossa causa”.

Nessa mesma estação experimental foram iniciadas as pesquisas de introdução da soja no Nordeste liderada pelos pesquisadores da EMBRAPA, a chamada “tropicalização da soja”. Feito relevante da pesquisa agropecuária brasileira. Antes, a soja era um cultivo de clima temperado no sul do Brasil. Hoje, uma das principais culturas do “MATOPIBA”, território dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Acompanhei a transferência e acolhida de Reginaldo na EMBRAPA em seu Maranhão, com as recomendações do amigo-Presidente. Proteger e integrar o colega no novo ambiente de trabalho. Poucos meses adiante, numa manhã seca, fui informado do falecimento de Reginaldo. Acidente de carro em missão da EMBRAPA. Trágico acontecimento. Doeu por muito tempo essa tragédia. Tanto esforço para realizar o desejo do colega pela vida, que o levou à morte. Creio no consolo da pós-materialidade: “a vida futura é uma realidade que se desenvolve incessantemente”.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo


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