O URBANO E O RURAL NO GLOBO Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho

Redação, 09 de Julho , 2021 - Atualizado em 09 de Julho, 2021


As transformações na “aldeia global” têm sido profundas e estratégicas ao capital. Abruptas e velozes rupturas acontecem no cotidiano, a exemplo das novas mídias, as móveis e as alternativas. Ascensão da horizontalidade nas comunicações. Revoluções nas conexões humanas, da produção ao consumo Tudo em tempo real. Internet das coisas, webs, “nuvens”, globalizações, algoritmos, inteligências artificiais, entre outras. Disruptivas inovações, com consequências na sociabilidade das pessoas, no estilo das corporações, na velocidade dos negócios, enfim nos modos de produzir e consumir. Zygmunt Bauman chama de “modernidade líquida”, porque tal estado “nunca-não-fixada”, termina gerando um exército de párias, excluídos, incrementando exponencialmente a desigualdade.

Nas últimas quatro décadas, predominam fartas transformações nas relações rural-urbanas e na produção e consumo, alimentadas por parceria behaviorista de fontes distintas, mas com propostos afins. A primeira delas é a geração de tecnologia agropecuária, a cargo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA; e a segunda fonte é o programa televisivo, o “Globo Rural”, eficaz “influenciador”, Skineriano por excelência na mídia do “estímulo - resposta”. Ao tempo que difunde, a tela do “Globo Rural” também serve para um marketing de amplos interesses comerciais favorecido pela audiência da TV Globo.

Essas produções para adoção televisiva, contudo, se contextualiza em um cenário de modernização globalizada do tipo “centro- periferia”, sob os efeitos da caótica migração rural-urbana, sem precedentes na nossa história. Para alguns, experimentamos nesse lapso temporal uma “mudança de época”. No caso em apreço, o objeto-alcance está limitado a divulgação da tecnologia agropecuária e outros merchandising pelo “Globo Rural”, programa da TV Globo, vigente há 41 anos.

A opinião aqui manifesta é fruto de levantamento exploratório, calcado na observação do programa, sem aquele rigor metodológico e, portanto, suscetível aos vieses do envolvimento do observador e do objeto observado. Foram observações e sondagens para prospectar tendências e estimular posteriores estudos entre a frequência da tecnologia agropecuária desenvolvida pela EMBRAPA e a difusão na pauta do “Globo Rural”. Importante responder à questão: porque está ocorrendo a substituição da tecnologia agropecuária gerada pela EMBRAPA no programa “Globo Rural”, mostrando evidências de que a matriz pública geradora parece deixar de ser a fonte supridora dominante?

Para estimular a heurística na pesquisa, os dados foram selecionados de janeiro a junho de 2021, tempo de pandemia e compulsório isolamento social, contingência adequada à audiência televisiva. Foram anotadas as tecnologias nas múltiplas expressões: “entrevistas, referências, citações, processos e publicações”, enfim tudo que citasse a marca EMBRAPA no “Globo Rural”. O fundamental era prospectar os sinais de deslocamento do conhecimento agropecuário oriundo da EMBRAPA. Não foram sistematizados o padrão da tecnologia, nem as inserções nos sistemas produtivos, mas a simples identificação das tecnologias divulgadas e oriundas da EMBRAPA.

No período de seis meses, foram observados 26 (vinte e seis) programas do “Globo Rural” que chegaram aos domingos na casa dos brasileiros e brasileiras. Não foram efetuadas comparações, mas o registro das tecnologias da EMBRAPA pautadas no referido programa. A marca EMBRAPA foi anotada em 13 (treze) programas. Em apenas 02 (dois),programas, foram registradas 02 (duas) reportagens com tecnologias geradas pela EMBRAPA como matéria principal, conteúdo e tempo robustos e ao final do programa, local que transmite emoção no telespectador. Outra tendência, foi a substituição das tecnologias da EMBRAPA no programa rural da filiada estadual da mesma TV, que vai ao ar no mesmo dia e horário anterior ao “Globo Rural”. No caso, a “Estação Agrícola” da TV Sergipe, há 21 anos no ar. Nesse caso, somente em 02 (dois) programas foram anotados a marca EMBRAPA, num deles, a unidade de pesquisa da EMBRAPA de Minas Gerais e não a unidade de pesquisa da EMBRAPA localizada em Aracaju, capital de Sergipe, que possui no seu portfólio de pesquisa, produtos agropecuários de interesse estadual, como os citros, coqueiro, mangaba, mandioca, ovinocultura e piscicultura. No plano local, foi registrado a tendência da substituição da EMBRAPA por organizações do terceiro setor, a exemplo do SENAR - Serviço Nacional de Aprendizado Rural, vinculado à CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, organização patronal dos produtores rurais.

Nos seis meses da exploratória observação, dominaram na pauta do “Globo Rural” os comerciais de empresas automotivas, insumos agropecuários e tecnologia da informação da chamada Agricultura 4.0, numa região onde quase um quatro da população adulta residente no meio rural é analfabeta. Mudou a pauta e a EMBRAPA tende a ser substituída, mas os comerciais continuaram os mesmos. É provável que continuará a máxima global: o “agro é tec, agro é pop, agro é tudo”. Até quando? Uma pergunta que merece sistemáticas e robustas respostas.

Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho são engenheiros agrônomos e respectivamente PhDs pela University of Sussex, UK e University of Wisconsin, USA.

 


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