Quem inventou o Nordeste? (por Antonio Samarone)

Redação, 20 de Julho , 2021

“Tempos virão, que o Norte vai virar Sul, e o Sul, Norte. Quando esse tempo chegar, em vez de vocês irem para lá, eles é que virão para cá.” – Padre Cícero.

“Talvez não haja região no Brasil que exceda o Nordeste em riqueza de tradições.” Manifesto Regionalista de 1926.

O Nordeste é um estado de espírito, uma criação coletiva. A identidade nordestina, cultural e emocional, tem raízes profundas.

Quais são essas raízes?

O Manifesto Regionalista de 1926, liderado por Gilberto Freire, pode ter sido o primeiro grito do Nordeste. O sergipano João Ribeiro contribuiu.

O Manifesto procurou reabilitar os valores do Nordeste, defender esses valores e essas tradições do perigo de serem de todo abandonadas, pela imitação cega da novidade estrangeira, de modo particular, das novidades do Rio e São Paulo.

O Manifesto é a defesa dos sequilhos pernambucanos, das rendas alagoanas, das redes cearenses, da moqueca sergipana e da carne de bode do Uauá, no sertão baiano. A defesa de Conselheiro, Padre Cícero, Lampião e Luiz Gonzaga.

Para evitar aborrecimentos, não é a defesa do “cangaço” como modo de vida, mas da marca cultural deixada por Lampião, bem registrada por Frederico Pernambucano de Mello, entre outros.

“Outra inovação contra a qual se levantou o regionalismo de 1926: a horrível mania que nos persegue de mudarmos os mais saborosamente regionais nomes de ruas e de lugares velhos - Rua do Sol, Beco do Peixe Frito, Rua da Saudade, Chora Menino. Sete Pecados Mortais, Encanta Moça - para nomes novos: quase sempre nomes inexpressivos de poderosos do dia. Ou datas insignificantemente políticas.”

O Manifesto de 1926 defendeu os maracatus, bumba-meu-boi, mamulengo, coco, fandango, xangô e a nau-catarineta. Foi a defesa do arroz doce, do peixe frito, da tapioca molhada servida em folha de bananeira, do sarapatel das feiras, do mingau de puba e do bolo de aipim.

Gente, sem cuscuz não existe qualidade de vida!

Hoje, 20 de Julho, se comemora 87 anos da morte do Padre Cícero. Ninguém conhece o Nordeste sem ter ido ao Juazeiro, numa romaria. A alma do Nordeste não se encontra nas belas praias do turismo.

Viva o Padre Cícero!

O meu pedantismo intelectual ignorou o Padre Cícero por muito tempo, até a leitura do livro de Lira Neto. Fui ao Juazeiro, e senti a força do espírito nordestino. É a emoção que não precisa de discurso explicativo. Se sente.

Outras exigências para formação da alma nordestina é visitar Canudos, Exu e Serra Talhada. É o que eu acho.

Depois da quarentena pestosa, que já tomou mais de um ano e meio de minha vida, vou replanejar a reta final. Se Deus permitir, volto ao Juazeiro do Norte, Canudos, Exu e Serra Talhada.

Se tiver folego, ainda vou conhecer Quixeramobim, onde nasceu Antonio Vicente Mendes Maciel (o meu herói brasileiro).

Antonio Samarone. (médico sanitarista).


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