Coisas de Sergipe. (por Antonio Samarone)

Redação, 18 de Agosto , 2021

Stanislaw Ponte Preta escreveu em seu Febeapá: “Em Sergipe, quem entende de teatro é a polícia”. De onde ele tirou isso, para nos expor a esse constrangimento nacional?

Nos idos de 1965, “Arena da Ilha”, um grupo carioca de teatro, montou “Joana em Flor”, um poema de Reynaldo Jardim, musicado por Gonzaguinha, com críticas a “redentora”. Foi um sucesso nacional.

O grupo possuía um elenco de iniciantes, que depois se destacaram nacionalmente: Bemvindo Sequeira, Reinaldo Gonzaga e Lia Matos. Sem contar o gênio musical de Gonzaguinha.

O grupo veio à Sergipe, a convite de Luiz Antonio Barreto, para uma apresentação no Cine Rio Branco. Devido ao sucesso, Luiz Adelmo improvisou outra apresentação na Boate da Iara. Foi um rebuliço na pacata Aracaju.

Escreveu o Jornalista Osmário Santos:

“O grupo ficou hospedado, com dois atores, na casa de Luiz Antônio Barreto, uma mulher na casa de Ilma Fontes e mais dois no Hotel Madri, situado na Praça da Estação Rodoviária Velha.”

“Devido ao sucesso do Rio Branco, Luis Adelmo que escrevia coluna social, contratou o espetáculo para a Boate Yara, vendendo ingressos, conseguindo casa cheia. Após apresentação do espetáculo todo o elenco foi preso.”

Amedrontada, as autoridades locais se sentiram incomodadas. Aquilo era um abuso perigoso, criticar os militares em terras sergipanas. O Secretário de Segurança do Governo Celso de Carvalho, José Graciliano do Nascimento (General Cazuza), tomou providências enérgicas: deu voz de prisão aos artistas.

Como se não bastasse, os livros de poesia de Reynaldo Jardim, que o grupo trazia, foram queimados em Praça Pública, em Aracaju.

A peça foi proibida em solo sergipano e os artistas presos no quartel da polícia militar, na Rua Itabaiana. Não se falava em outra coisa na cidade, com repercussão nacional.

Artistas e intelectuais sergipanos, tendo à frente o professor João Costa, reagiram, alegando ser uma violência a censura injustificada. A peça não tinha subversão, apenas arte poética. Foram tentar convencer o General Cazuza para libertar a turma, aquilo seria um escândalo nacional.

A peça era um poema musicado.

No calor das argumentações, o General José Graciliano do Nascimento encerrou as conversas com uma sentença: “aqui, quem decidi se a peça é ou não subversiva sou Eu”.

Essa extravagancia autoritária rodou o país, chegando aos ouvidos do famoso jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que incluiu o dito como gozação, em seu “O Festival de Besteira que Assola o País” (Febeapá).

“Em Sergipe, quem entende de teatro é a polícia.”

O General José Graciliano do Nascimento (Cazuza) faleceu à 10 de março de 1977. O General foi Comandante do 28 B.C., Secretário de Segurança em Sergipe e Chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI).

O Senador Lourival Batista prestou-lhe homenagem, por ocasião do seu óbito, com um discurso no Senado:

“Patriota e militar exemplar, o General José Graciliano Nascimento se caracterizou, sempre, por seu imenso amor a Sergipe, jamais se descuidando de sua terra natal, a que procurou servir com dedicação inexcedível.”

Antonio Samarone (médico sanitarista)


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