METAPOLÌTICA (I) por Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho
Foto: Governo Brasil
Na “modernidade líquida”, expressão cunhada pelo cientista social, Zygmunt Bauman, predomina uma multidão de párias, desiguais, relações sociais frágeis, fugazes e maleáveis, aparentemente normalizadas pela “cultura da sedução” O consumo é efêmero e tudo mais é impermanente. Na mesma perspectiva, no contexto da política e da governabilidade, surgiu com força a chamada “Metapolítica”.
A “Metapolítica” quer dizer uma “esfera do pensamento político centrada em ideias sobre a sociedade, o mundo e o ser humano”, ao que acrescentamos a centralização na desumanização dos fins à favor da individualização dos meios de controle. Uma tríade de riqueza, controle e poder, que fundamenta as ideologias e orienta as práticas governamentais. Ela está associada à teoria conservadora de René Guénon e Julius Evola e atualizada por Steve Bannon, Alksandr Dugin e Olavo de Carvalho, entre outros, no arcabouço cultural, que afasta os conceitos de classe social, etnia e gênero, categorias cientificamente acolhidas nas ciências sociais e explicativas da mudança social.
No plano governamental, a “Metapolítica” está presente nos governos da ultra direita, populistas e eleitos pelo voto democrático, ancorado na classe rica e na nova ordem burocrática dos colarinhos brancos, conforme percebido nos recentes governos do Brasil, Estados Unidos, Filipinas, Hungria, Polônia e Rússia. Alguns observadores, identificam a “Metapolítica”, como uma estratégia de ‘fazer banzeiro’ não por meio da política, mas por meio da apologia e da intensa mobilização da cultura líquida, na via de ativos sociais como o entretenimento, o intelectualismo, a religião e a educação. A religião, por exemplo não desaparece, mas mimetiza-se.
A “Metapolítica subordina” a espiritualidade, impregnada dos valores judaico-cristãos, descritos e analisados em obras sociológicas, desde os canônicos como Karl Marx, Max Weber e Emile Durkheim, até os atuais como Ernst Troeltsch eJurgen Habermas, à favor das conquista e acumulações terrenas-materiais, como o poder político-partidário e o enriquecimento das “Igrejas” e seus “bispos” na via das sonegações fiscais entre outras artificialidades maldosas.
Assentando em Baumam, percebe-se uma espécie de cultura religiosa num mundo de diásporas “que se aproveita e banaliza os conflitos entre indivíduo e sociedade geradores de um mal-estar na civilização” porque, segundo Freud, o poder e a acumulação sem limites terminam por subestimar os autênticos valores da vida. Para alguns qualificados pensadores, “no pesadelo diurno dessa nova direita há um sentimento de catástrofe social antecipador, que se traduz, como um desejo inconsciente do fim do mundo”.
A “Metapolítica” é uma doutrina do medo do comunismo, da supremacia dos refugiados, da mobilidade social dos pobres, das questões de gênero e raça, do meio ambiente, da democracia, da liberdade e da vontade popular. Enfim, do medo das diásporas. Medo de juntar o social disperso. As suas estratégias operacionais na contemporaneidade foram testadas pela Cambridge Analytical, empresa de inteligência de dados de eleitores do planeta, manipuladas por analistas qualificados para interferir nas decisões dos eleitores, e alcançar “as pessoas identificadas como as certas”. No dizer do escritor norte-americano Mark Twain: “é mais fácil enganar pessoas que convencê-las de que foram enganadas”.
Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho, são engenheiros agrônomos e respectivamente PhD em Sociologia pelas University of Sussex, UK e University of Wisconsin, USA.
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