Leitor de almas por Carlos Pinna Júnior
Muito já se falou sobre o homem público João Alves Filho e sua relevância para Sergipe e para as gerações futuras. Eu agradeço a Deus a oportunidade de ter convivido e conhecido não apenas o homem público, mas o ser humano João Alves Filho: o leitor de almas, como eu gosto de defini-lo.
Admirei-o desde a infância, mas foi a partir de 2011, quando ele me convidou para fazer parte de um grupo técnico para subsidiá-lo na decisão de voltar à Prefeitura, que nossa convivência foi praticamente diária. Decidido a ser candidato e ganhando as eleições, apostou em mim para um cargo estratégico. Eu dei o melhor de mim para servir a este homem, porque sabia que, seguindo a sua direção, estava servindo à cidade e ao Estado que ele tanto amava.
Agora resta a saudade, e eu não lembrarei apenas do homem público que transformou Sergipe. Eu lembrarei de um dos seres humanos mais generosos, carismáticos e entusiastas que já conheci.
Lembrarei do sorriso largo, da gargalhada contagiante e das histórias de vida que dele ouvi, verdadeiras aulas.
Lembrarei de como os seus olhos brilhavam ao falar de água (Rio São Francisco, Rio Amarelo, Rio Mississipi) e de engenharia (pontes, viadutos, praças, estradas), as suas paixões.
Lembrarei ainda de nossas conversas sobre literatura, e em especial do carinho com que ele certa vez me ligou de Lisboa dizendo que tinha encontrado um único exemplar de uma relíquia sobre o Padre Antônio Vieira, porque eu reiteradamente lhe citava o sermão da sexagésima, comparando à sua história de vida: “palavras sem obras são tiros sem bala: atroam, mas não ferem”.
Lembrarei (e sentirei saudade) de quando ele me convocava para acompanhá-lo no carro após alguma solenidade e eu não sabia para onde iria, tampouco que horas iria voltar, pois a agenda e a pontualidade, com ele, eram sempre uma incerteza.
Lembrarei do quanto ele me ensinou o valor da persistência (a sua característica teimosia positiva) – “a gente tem que tentar até o final” – quando, confesso, por vezes o desânimo queria me vencer.
De como exercer a autoridade e a liderança com altivez sem, contudo, humilhar ninguém.
De olhar sempre o lado positivo das coisas, apesar de todas as dificuldades.
Por fim, e sobretudo, lembrarei do homem de fé, que sempre buscou Deus, onde quer que estivesse. Porque para além do visionário, do estadista, do realizador, eu ressalto esta característica que mais admirava nele: um homem de fé. Fé de que o dia seguinte vai ser sempre melhor que o dia de hoje. Fé pujante e ativa, concretizada no ânimo, na esperança, na determinação, na persistência e na firmeza do bem agir.
A minha geração muito lhe deve. O seu exemplo inspirará novos líderes. E os seus sonhos permanecerão vivos, afinal “sonhos não envelhecem”. E os de Joao Alves Filho, muito menos.
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