ÔMICRON por Manoel Moacir Costa Macêdo

Redação, 03 de Dezembro , 2021 - Atualizado em 03 de Dezembro, 2021

 

Estamos próximos de completar dois anos de pandemia da Covid-19, quando o ‘coronavirus’desembarcou na terra onde dizem que “Deus é brasileiro”.  Chegou por aqui de avião, transportadopelos ricos em turismo na Europa e pelos gringos do Velho Mundo para saborear as morenas, as praias eo calor dos nossos Carnavais. O vírus gostou, disseminou, maltratou, matou e ficou entre nós. De início, ele não foi importunado.

Os nativos da Terra de Santa Cruz não foram os iniciais vetores da Covid-19, mas, as vítimas, mais pela negligência de quem tem o dever moral de cuidar das pessoas e menos por “resgate, provas e expiações”. Ultrapassaram as seiscentas mil mortes, os vinte milhões de contaminados e os milhares de sequelados, numa insana polarização entre negacionistas e iluministas, e economia e saúde, fermentada por interesses, nostalgias e tradicionalismo. A ciência em tempo jamais registrado na história, desenvolveu e disponibilizou as vacinas. O remédio de controle do vírus e suas mutações.

A pandemia da Covid-19, afora as dores, sofreres e mortes, mostrou a desigualdadeescondida entre países e dentro deles. Escancarou a miséria, controlada por falsos discursos, carismas e soluções paliativas.  Contrariou os registros dos vencedores, ao negar que a contaminação no tecido social coletivo não era democrática e nem atingiatodos por igual. As evidências mostraram que o‘coronavírus’ atacou com mais intensidade os pobres, favelados, desempregados, despossuídos e carentes dos cuidados da medicina privada. É bem verdade que a rede pública de saúde brasileira acolheu os mais carentes, reduzindo o tamanho da tragédia. Ainda estamos distantes de uma saúde integrativa, acolhedora e coletiva numa sociedade majoritariamente cristã que prega no movimento labial: “amar o próximo como a si mesmo”.

Na atual quadra social, marcada pela fome e desigualdade, poucos países compraram no mercado global, as diversas vacinas suficientes para imunizarem em três ou mais vezes a sua população, os situados no topo da globalização econcentradores de riqueza e poder. Enquanto a enorme maioria das nações, nem tiveram os braços de suas criaturas expostos à uma única dose. A pandemia é uma moléstia virótica, mas, não admoestou igualmente a coletividade. A divisão entre Norte e Sul, ricos e pobres, pretos e brancos, entre outras segregações, definiram o status quo da Covid-19. As suas dolorosas lições não foram aprendidas e nem apreendidas. A mensagem não foi decifrada em sua profundidade.

A euforia de que a “pandemia acabou” pelaseletiva imunização por vacinas, durou pouco. Medidas profiláticas foram suspensas. Aglomerações liberadas. A lógica capitalista não tem dó e nem piedade dos subalternos da base da desigualdade social. A receita é a acumulação de capital, como se a vida fosse uma mercadoria negociada no mercado vil. De repente, uma quarta onde apareceu, na forma de uma nova variante com o nome científico de ‘B.1.1.529’, rotulada com a letra grega ‘Ômicron’ e acrescida da "variante de preocupação". Ela foi identificada e divulgada pelatransparência dos africanos da África Austral, outro nome de pobreza e desigualdade numa humanidade, que nunca foi única e nem solidária. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças - CDC, o Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, a União Europeia e o Brasildesaconselharam as viagens para África do Sul,Zimbábue, Namíbia, Moçambique, Angola, Malawi, Lesoto, Eswatini, Zâmbia e Botswana, após a detecção da nova variante.

Mia Couto, poeta africano de Moçambique, na verve sensível e preta, distinta de sua pele branca,escreveu que “em vez de se oferecer para trabalhar juntos com os africanos, os governos europeus, [americano e brasileiro] viraram as costas e fecharam-se sobre os seus próprios assuntos. Não se fecham fronteiras, fecham-se pessoas. Fecham-se economias, sociedades, caminhos para o progresso. A penalização que agora somos sujeitos vai agravar o terrível empobrecimento que os cidadãos destes países estão sendo sujeitos devido ao isolamento imposto pela pandemia”.

O Bob Dylan brasileiro, tropicalista, preto e baiano Gilberto Gil, em similar sensibilidadeexpressou numa de suas imortais canções: “Ó, mundo tão desigual. Tudo é tão desigual. Ó, de um lado este carnaval. Do outro a fome total”. A “Ômicron” deveria ser chamada simplesmente de“compaixão ou piedade”.

Manoel Moacir Costa Macêdo, é engenheiro agrônomo e advogado


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