VIDAS NEGRAS IMPORTAM
VIDAS NEGRAS IMPORTAM
Por Carlos Braz
O Brasil é um país, cuja maioria da população se declara não branca, segundo os dados do IBGE, computados durante o último censo demográfico, realizado em 2014.São 53,6% da população sem incluir aqueles que por diversos motivos se declaram morenos, mulatos ou mesmo brancos, levando em conta a cor da pele e ignorando as características biológicas. Como bem sabemos reconhecer-se como negro nunca foi fácil em nosso país.
Evidentemente a questão racial não é novidade entre nós, e procurar soluções para resolve-la sempre passou ao largo das discussões estatais desde a abolição da escravatura, até a contemporaneidade, quando chama a atenção o número cada vez maior de ocorrências policiais envolvendo cidadãos negros que tem seus direitos desrespeitados, sendo vítimas de crimes como agressão física, calunia e preconceito racial, entre outros.
Ao contrário dos Estados Unidos da América, onde existiram leis que institucionalizavam as diferenças entre brancos e negros, por aqui prevaleceu o racismo estrutural, que vem a ser a manutenção de uma organização social e política que perceptivelmente exclui pessoas negras ou assim consideradas, negando a Constituição Brasileira que garante direitos iguais para todos, e privilegiando de várias formas a população branca.
O preconceito “escondido” é outra modalidade muito usada para escamotear a segregação. É muito comum ouvirmos essa assertiva: eu não sou racista pois tenho vários amigos negros. Todavia, essa mesma pessoa não quer que sua filha branca case com o "amigo" negro.
O grande marco para se difundir a inexistência de conflitos étnicos em nossa nação foram os livros didáticos. Neles, o mito das três raças, branca, negra e indígena, era invocado para se estabelecer a percepção de unidade nacional e os malefícios produzidos por três séculos de escravidão não eram mensurados e muitas vezes nem citados.
A tese da democracia racial adquiriu enorme relevância com a publicação em 1933 da obra Casa grande & Senzala, produzida pelo sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, e abraçada incontestemente pela maioria da intelectualidade brasileira, influenciando gerações e alimentando o senso comum de que não havia racismo no Brasil e inibindo a surgencia de movimentos populares favoráveis a adoção de políticas públicas voltadas para as discussões sobre as diferenças étnicas e sociais.
Filho da elite canavieira pernambucana, Freyre baseou nas suas observações no cotidiano do engenho de açúcar tão bem seu conhecido. Valorizou a importância do negro na construção da cultura brasileira, solenemente ignorada até então, contudo desconsiderou a violência ilimitada e desumana do escravismo colonial. Na sua ótica o convívio social entre senhores e escravos estabelecia-se com uma certa intimidade, esquecendo que o oprimido jamais amará o opressor, e que todo cativo almeja a liberdade, como nos mostra a história, através das diversas formas de resistência aqui empregadas, que comprovam que o negro africano aqui escravizado jamais aceitou essa condição.
O contexto social exposto por Freyre explica a origem dos conflitos raciais presentes no Brasil contemporâneo, onde as relações sociais desiguais ocupam todos os espaços, alimentado a discriminação e o preconceito que se estabeleceram “naturalmente”, e podem ser notados nas relações pessoais e profissionais.
O movimento vidas negras importam” surgiu em 2012 nos EUA, diante da imobilidade da justiça americana para condenar brancos, principalmente policiais, que assassinavam negros e permaneciam impunes. Com o envolvimento cada vez maior das lideranças negras e de brancos comprometidos com a igualdade racial o movimento cresceu alcançando uma amplitude internacional, com ênfase para o Brasil, palco de violências, assassinatos e desrespeito aos direitos dos cidadãos negros.
A violência policial mata jovens negros em números alarmantes, transformando o dia a dia desses cidadãos em uma rotina de medo constante, provocado exatamente por aqueles que deviam protege-los de atos de racismo, intolerância e calunia racial: a justiça e seu braço armado, a polícia.
. Movimentos como o Black Lives Matter vêm para reforçar a resistência em busca da plena cidadania, por parte da população negra.
Aqui no Brasil, o mais expressivo fruto das inquietações afrodescendentes foi o Movimento Negro Unificado (MNU) criado em 1978, com resposta às ações racistas sofridas por meninos negros, impedidos de frequentar um determinado clube social na cidade de São Paulo, e da morte sob tortura do trabalhador negro Robson Silveira da Luz, no 44º distrito policial de Guaianazes.
Esse artigo é um convite para colocarmos em discussão essa realidade, onde a falta de perspectivas e a marginalização do negro, bem como sua condição inferior na educação saúde e trabalho é inegável. Precisamos combater essa doença social brasileira, mostrando suas sutilezas e as formas de mascarar seus sintomas.
Afinal, vidas negras importam.
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