FIM DE GOVERNO

"Eu não nasci para ser presidente"

Marcio Monteiro, 25 de Janeiro , 2022 - Atualizado em 21 de Maio, 2022

  

O presidente tem demonstrado nas suas ultimas aparições públicas e manifestações nas redes sociais, que cansou de verem frustrados os seus insanos intentos no complexo tabuleiro do jogo de xadrez político, na tentativa de desviar a atenção e fugir de suas reais responsabilidades. O presidente Bolsonaro literalmente transparece ter perdido o tesão para governar, alienado dos temas essenciais ao país e focado em garantir espaço político após as eleições.

A carta do diretor presidente da ANVISA, Antônio Barra Torres exigindo a retratação de Bolsonaro foi sem dúvida o momento de maior constrangimento nos três anos de governo, documento que o enquadrou e expôs sua fragilidade por não ter como contra argumentar as duras e certeiras palavras de Torres em sua defesa e do quadro técnico da Agência que comanda. A frase final da carta-manifesto do Almirante Barra Torres: “rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada, muito pelo contrário —“, serve de exemplo e recado para civis e militares, de que não existe espaço na democracia para intimidações de servidores públicos no legítimo exercício do seu trabalho.

Bolsonaro bem que poderia ter se aproveitado do apoio e da confiança depositada por seus eleitores no início do mandato e ter conseguido estabelecer alianças no Congresso para poder de fato mudar as coisas e fazer um governo diferente. Mas não! Entregou o leme do barco para um ministro da Economia que caiu do espaço como um meteoro em solo pátrio, passando a dedicar-se exclusivamente a angariar antipatia e desqualificar opositores, e até governantes progressistas ou comunistas de países parceiros, sem se preocupar com as repercussões diplomáticas e econômicas. Particularmente dos impactos imediatos provocados pelo entendimento sempre literal dos agentes do mercado e agencias de risco, de suas falas inconsequentes.

A estratégia de criar um fato novo a cada pronunciamento, visando incomodar ou atiçar opositores como forma de manter-se diariamente na mídia deu resultado midiático por algum tempo. E nesse aspecto precisamos reconhecer o trabalho do Zero 02 e seu grupo (Gabinete do Ódio), suprindo de maldades com competência invejável o presidente e seus simpatizantes de suas redes sociais, disseminando fakenews em tal monta que ensejou aos controladores dessas redes a silenciarem canais do presidente por questões éticas. A pandemia que se espalhou pelo mundo em 2019 teria causado estragos em qualquer país, independentemente do quanto estivessem preparados para enfrentar uma enfermidade tão imprevisível e avassaladora como foi a COVID-19.

O Brasil, diferentemente da maioria dos países, felizmente conta com a invejável estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) para acolher os enfermos; possui expertise na execução de programas de vacinação; e, pode contar com a Fiocruz, o Butantã e até laboratórios particulares para prover as necessidades internas e até exportar excedentes de produção de vacinas. Apesar de toda essa vantagem estratégica de infraestrutura e logística para aceleração do processo de aquisição de vacinas, vivemos dois anos de desassossego.

Não bastasse o medo causado pela contaminação com a COVID19, passamos a assistir diariamente o presidente sendo municiado por outro “gabinete” (Paralelo) constituído por profissionais da área da saúde, políticos e empresários, alinhados ideologicamente com Bolsonaro. O grupo atuava para chancelar e disseminar a ideia de que não haveria risco em se contaminar pelo coronavirus, desde que fossem usados determinado kit de medicamentos, sem eficácia científica comprovada.

A população passou a ter que enfrentar não só a Covid-19, mas também a pressão negacionista imposta por Bolsonaro aos ministros que “transitaram” pelo Ministério da Saúde durante os momentos mais críticos da pandemia, provocando atrasos na aquisição de imunizantes e insumos; politização das medidas sanitárias; falta de suporte necessário às capitais com o sistema de saúde colapsado; entre outros problemas que findaram por sobrecarregar as redes pública e privada, cujo ápice aconteceu em meados de janeiro de 2021, quando em Manaus instalou-se um verdadeiro caos causado por falta de coordenação entre os governos do Estado e Federal que levaram à falta de oxigênio e UTIs para atender pacientes com sintomas graves da doença. Sendo necessária ajuda da Venezuela!

Como o Ministério da Saúde não dispunha de vacinas para iniciar uma campanha nacional, o Governo teve que lançar mão do único imunizante disponível no mercado nacional, a Coronavac produzida pelo Instituto Butantã, instituição subordinada ao seu desafeto político João Dorea (SP). Para piorar, o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) utilizado na produção da vacina tinha que ser importado da China em quantidades reguladas, em função da grande demanda global por imunizantes e em parte em forma de sutil retaliação às insinuações desrespeitosas feitas pelo então Ministro das Relações Exteriores ao povo chinês, simplesmente o maior parceiro comercial do país. Foram meses de terror televisivo e um show de horrores protagonizado pelo presidente e seus ministros da saúde, que levaram o Congresso à instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

Ao fim dos trabalhos da CPI, foi aprovado o parecer do relator, indiciando o presidente Bolsonaro pelos crimes de epidemia com resultado morte; infração de medida preventiva; charlatanismo; incitação ao crime; falsificação de documento particular; emprego irregular de verbas públicas; prevaricação; crimes contra a humanidade; e, crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo). O Relatório da CPI, para infelicidade geral da Nação, encontra-se sobre uma pilha de centena de pedidos de impeachment contra Bolsonaro, na gaveta do presidente da Câmara e membro do bloco Centrão, Carlos Lira, devendo ali permanecer até o fim do seu mandato como presidente da casas ate 2023.

O presidente Bolsonaro resolveu reagir contra um Congresso depois de sucessivas frustrações para aprovação de projetos, percebeu que não lhe restava alternativa senão a de buscar o apoio dos seus antigos parceiros do Centrão. O grupo curiosamente descrito pela Wikipédia como: “conjunto de partidos políticos que não possuem uma orientação ideológica específica e tem como objetivo assegurar uma proximidade ao poder executivo de modo que este lhes garanta vantagens e lhes permita distribuir privilégios por meio de redes clientelistas”. Como no Congresso mudam-se os atores, mas não as velhas praticas, Bolsonaro ofereceu ao Centrão, grupo do qual foi integrante, as portas da esperança (Orçamento Federal), ou seja, a Casa Civil e o controle das verbas, em troca da apoio político.

Em meio a toda essa confusão, o presidente aproveitou para testar a subserviência dos quartéis, sem sucesso. Teve que submeter-se ao silencio ensurdecedor dos seus companheiros de farda e ainda engolir sem reclamar a determinação expressa do Comando Geral do Exército da obrigando de vacinação da tropa. Depois dessa sucessão de acontecimentos envolvendo o presidente em relação à sua maneira impulsiva de tratar assuntos de grande relevância, pensei comigo que havia esgotado as munições do seu paiol de maldades e nem espaço para mais manifestações antipáticas. Ledo engano, faltava a Bolsonaro posicionar-se contrariamente a vacinação de crianças, cujos imunizantes pediátricos haviam sido aprovados por agencias de saúde da Europa e dos Estados Unidos e envasados em doses específicas para aplicação em crianças.

O presidente declarou à imprensa que não deixaria sua filha ser vacinada, acredito que ele sequer tenha refletido que em se tratando de preservação da saúde de um dependente menor, possa ser chamado a se explicar junto ao Conselho Tutelar do DF. O Supremo Tribunal Federal, provocado por um partido político, determinou o início imediato da aplicação das vacinas pediátricas. Acredito que o Governo não só perdeu mais uma briga como ganhou de graça a antipatia das mães brasileiras.

As pesquisas de intenção de votos e o crescimento da rejeição estão provocando isolamento político do presidente, e nesse período pré eleitoral esse fato irá contribuir para que ele aumente a frequência de provocações midiáticas, na linha de quem nada tem a perder e de quem não vê perspectiva na virada do jogo, não se importando onde suas botinadas irão doer ou acertar, disseminando o ódio e buscado desestabilizar os seus oponentes. A Covid-19 matou uma quantidade de brasileiros maior que a população de Aracaju, e uma parcela dessas perdas de vidas com certeza podem ser creditadas à inação do Governo Federal, o que de certa forma botou fermento na rejeição eleitoral expressa pelas pesquisas eleitorais recentes para 2023. É como se o povo tenha se dado conta de que Bolsonaro os decepcionou e sem querer acabam por endossar o parecer da CPI da Covid-19.

Neste plano existencial resta a Bolsonaro lançar-se candidato ao Senado por um estado sulista – ele tem a simpatia dos catarinenses - com vistas a ter palanque no Congresso e blindar-se das garras da justiça usando o manto da imunidade parlamentar para não ter que responder por atos praticados no exercício da presidência em 2023. Entretanto, o presidente terá muita dor de cabeça em relação à retomada das investigações sobre os crimes protagonizados seus quatro rebentos (Zeros), uma vez que não poderá mais lançar mão da máquina pública para protegê-los. Bolsonaro certamente irá usar da expertise do Zero Dois para continuar a agitar as redes sociais, manter o apoio políticos do Centrão e do presidente da Câmara, para negociar ou paralisar qualquer iniciativa que parta do novo Executivo, além é claro, de persistir na sua obseção de encontrar um mandante do seu atentado.

Depois de furar o teto de gastos com duas pedaladas; confiscar precatórios; ignorar aposentados e pensionistas; não ter feito avanços na mais crucial das reformas, a administrativa; não ter conseguido realizar nenhum leilão no modelo de concessão no setor de Minas e Energia, e ainda sinalizar para o mercado a intenção de reajustes para o funcionalismo, fica difícil para qualquer equipe econômica não esmorecer, sabendo que cedo ou tarde receberá pelas costas mais balas perdidas de fogo amigo do Palácio do Planalto. Espero ter me feito entender!

Quais os números dos indicadores socioeconômicos (Estagflação) e das contas públicas (Bombas fiscais) serão herdados pelo o sucessor de Bolsonaro? Qual o tamanho do desmonte do Estado; do estrago feito na educação, na cultura, na ciência e tecnologia? Que pesadelo enfrentaremos pela frente? É cedo para prever o desempenho do Governo até o final da gestão, mas de uma coisa tenho certeza, 2023 servirá para o novo governo iniciar a reconstrução do país nas áreas: ambiental, social, habitacional, educacional e econômica.

Acredito que a chamada direita raiz também terá muito a fazer, pois deverá acirrar no Congresso a oposição ao novo Governo, e simultaneamente, minerar com cautela na busca de um candidato para as eleições de 2026. Alguém que não seja apenas um político capaz de vencer o pleito, mas que tenha perfil mínimo exigido para um verdadeiro estadista. Afinal, errar duas vezes é burrice!


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