GILBERTO GIL, O MAIS BRASILEIRO ENTRE OS IMORTAIS

Carlos Braz, 16 de Maio , 2022 - Atualizado em 16 de Maio, 2022

 

Foto: Instagram Gilberto Gil

 

GILBERTO GIL: O MAIS BRASILEIRO ENTRE OS ACADEMICOS

Por Carlos Braz 

Fundada em 20 de julho de 1897 por uma plêiade de literatos cariocas, a Academia Brasileira de Letras, ABL, nasceu com o objetivo de prestigiar aqueles que praticavam o oficio de escritor, enaltecendo suas obras, utilizando como critério seletivo o valor delas para a cultura e história nacional. O titulo de imortais concede-lhes honra e glória para sempre.

Em um país composto à época por grande parte de analfabetos e incultos, a instituição, desde seu nascedouro, emoldura-se com um caráter elitista, espelho de uma sociedade patriarcal e racista, privilegiando a presença masculina, resistindo por muito tempo à admissão presença de mulheres entre os seus membros.

Paradoxalmente, Machado de Assis, um afrodescendente nascido no Morro do Livramento, foi um dos seus fundadores e primeiro presidente eleito por aclamação, fato incomum para alguém com sua origem. Tal relevância deve-se à sua performance como funcionário público exemplar, escritor e jornalista, o que permitiu sua aceitação social, sendo, contudo, descrito como mulato, em diversas fontes históricas. Na contemporaneidade é reconhecido como o maior escritor brasileiro em todos os tempos.

Inspirada no modelo francês a ABL é composta por 40 membros imortais que, por contrassenso, só são substituídos após a sua morte. Suas cadeiras são numeradas e cada uma delas possui um patrono, que também deve ter qualidades intelectuais indiscutíveis.

Com a passar dos anos a essência da ABL foi sendo adulterada e seus critérios rigorosos para a qualidade literária dos seus membros foi se diluindo, permitindo o acesso ao seu quadro de veneráveis, de autores sem relevância no âmbito da literatura nacional, mas indicados por relações de amizade ou interesses políticos.

Assim sendo, são acadêmicos, os ex-presidentes Getúlio, Vargas, já falecido, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, enquanto que outros, reconhecidamente importantes no cenário cultural brasileiro são preteridos, a exemplo de Carlos Drummond de Andrade, Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Caio Prado Junior e cujas obras são preponderantes no campo das ciências sociais, do romance, da poesia, entre outros gêneros.

O mesmo ocorre na escolha dos patronos de cada cadeira onde os escolhidos nem sempre são unanimidade em termos de importância que justifique tal fama, como foi descrito em um pronunciamento do acadêmico Afrânio Peixoto ainda no longínquo ano de1923.

O baiano Gilberto Gil tornou-se “imortal” no dia 8 de abril deste ano, sendo o primeiro artista a ocupar uma das cadeiras da vetusta instituição. Fez jus à honraria devido à vasta obra composta de versos musicados que desde o inicio da sua trajetória traçam um retalho acido, critico e real da sociedade brasileira.

Como poeta negro Gil lapida em sua trajetória verdadeiras pérolas musicais, que abordam uma teia composta pelas questões do nosso cotidiano, sem deixar de falar do amor em todas as suas dimensões.

Desde a gravação do seu primeiro disco lançado em 1966, o nobre filho de Gandhi já deixava transparecer sua suprema criatividade e sensibilidade, o que lhe permitiu desfilar com maestria por todas as vertentes musicais, sem, contudo se afastar da linguagem do povo e das querelas politicas.

É também aquele cuja obra poética alcança todos os cidadãos brasileiros, literalmente, do Oiapoque ao Chuí, através do radio e outras mídias, independente da condição social. Em um país onde poucos são afeitos à leitura, Gil, através da sua arte, do seu carisma e do seu posicionamento como cidadão do mundo, torna-se único entre seus pares.

Na sua condição de afrodescendente levantou bandeiras em prol das nossas mais genuínas raízes culturais e contra  toda a carga preconceituosa existente no meio social, assumindo e exaltando sua negritude, erguendo bandeiras de autoestima e reconhecimento étnico, empunhadas por muitos dos seus irmãos de cor.

 Como militante político contrário a ditadura militar sua arma foi o verso, sutíl e certeiro, sendo perseguido, censurado, ameaçado de morte e obrigado a  viver no exilio. Com a redemocratização exerceu mandato de vereador em Salvador e foi Ministro da Cultura durante parte do mandato presidencial de Luís Inácio da Silva, de 2003 a 2008 destacando-se como defensor e executor de diversas demandas populares no campo educacional e étnico, dinamizando e desenvolvendo programas que visavam o reconhecimento e proteção dos nossos valores culturais.

Por tantas peculiaridades, que expressa magnificamente em sua extensa obra, obteve reconhecimento internacional, recebendo diversos prêmios e e louvor das mais respeitáveis instituições. De personalidade marcante e indelével, nosso personagem, Gilberto Passos Gil Moreira recebe junto com o fardão, o colar, o diploma e o chapéu de veludo preto e espada de acadêmico o título de o mais brasileiro dos acadêmicos.

 


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