Quem tem medo da menopausa?

Noticias, 24 de Junho , 2022

O receio em relação ao envelhecimento permeia, desde sempre, mais a vida das mulheres que a dos homens. As causas disso datam de milênios de evolução humana, durante a qual a mulher sempre foi vista como uma máquina de reprodução com data de validade, cuja existência tinha como principal sentido a maternidade. Mulheres que ficavam velhas perdiam sua função na sociedade e, quando não eram abandonadas, precisavam lidar com o parceiro, também velho, se relacionando com jovens para perpetuar seu poder de reprodução – mais longevo que o feminino.   

 

Ainda bem que não vivemos mais na antiguidade. Hoje temos, à nossa disposição, a ciência, uma das principais razões para o aumento da longevidade humana. No início do século XX, a menopausa, que dá início ao climatério, era o sinal de que o fim da vida estaria chegando, pois a expectativa de vida da mulher era de até 60 anos em média. Hoje vivemos cerca de 30 anos além desse marco, permanecemos ativas nesse tempo e... vivemos mais que os homens. Dados do IBGE coletados em 2020 mostram que, no Brasil, a expectativa de vida das mulheres é de 79,9 anos - já a dos homens é de 72,8 anos. A OMS confirma essa tendência no mundo todo, variando em quantidade de anos de uma região para outra.  

 

Segundo dados da Sociedade Norte-Americana de Menopausa, daqui a três anos mais de 1 bilhão de mulheres estarão passando pelo climatério em todo o mundo, o que representa 12% da população mundial.Contudo, ainda há muitas dúvidas a respeito desse período da vida, inclusive se ele permanece um motivo de vergonha ou constrangimento de qualquer tipo para a mulher.  

 

Oras, hoje temos mulheres longevas, chefes de família, profissionais, líderes em grandes corporações, sexualmente ativas e praticando esportes na fase do climatério. Ou seja, se ele um dia foi motivo de marginalização da mulher, hoje não é mais. Conseguimos mudar esse jogo.  Mas um ponto de atenção é importante aqui: socialmente falando, o climatério não ameaça mais ninguém, mas se considerarmos a questão fisiológica, ainda há muito desconhecimento e isso, sim, joga contra a qualidade de vida das mulheres nessa fase.  

 

Menopausa é menopausa, climatério é climatério.  

 

O climatério é uma transição de anos que engloba a menopausa, sendo a fase da vida em que a mulher deixa de poder gerar filhos. Já a menopausa, em si, é um marco mais facilmente percebido: acontece quando a mulher completa 12 meses do último ciclo menstrual. Antes disso, a entrada no climatério promove uma diminuição gradual e irregular na produção de hormônios femininos, que pode resultar em uma série de mudanças no corpo, notadas a curto, médio e longo prazos.  

 

No curto prazo, a aproximação e a chegada da menopausa podem causar calor, alteração no humor, com possíveis episódios de irritação e até depressão. Também são percebidas tontura, dor de cabeça e baixa libido. É uma confusão hormonal tão intensa que há muitos casos de mulheres que acreditam estarem grávidas nesse período. A médio prazo, além da diminuição do desejo sexual, pode ocorrer também atrofia urogenital, que é resultado do afinamento e ressecamento da mucosa que reveste a vagina e causa, em muitos casos, dor durante o sexo.  

Finalizada essa transição – que dura, em média, 20 anos –, a mulher deixa a fase reprodutiva e passa para a não reprodutiva. É a mudança de longo prazo. 

 

Mas nada disso deve ser motivo de dor de cabeça, pois hoje temos a ciência ao nosso lado. Principalmente a partir dos 40 anos, as mulheres precisam consultar seus médicos com periodicidade, atentar para a recorrência na realização de exames preventivos e, em muitos casos, de reposição hormonal. Não tem segredo, tem cuidado e amor-próprio, e a qualidade de vida plena é perfeitamente possível dentro desse contexto. Além disso, uma rotina de exercícios físicos, hábitos saudáveis, cuidados também com a saúde mental e uma relação de parceria com o médico de confiança são fundamentais. Quem disse que é pra ter medo da menopausa?  

  

* Maria Cândida Bacarat é ginecologista e coordenadora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.  


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