70 ANOS DA “AVENIDA CENTRAL” DE ITABAIANA.

JOSÉ DE ALMEIDA BISPO, 27 de Junho , 2022 - Atualizado em 27 de Junho, 2022

Lá vem a nova avenida
Remodelando a cidade
Rompendo prédios e ruas
Os nossos patrimônios de saudade
É o progresso
E o progresso é natural
Lá vem a nova avenida
Dizer à sua rival
Bom-dia, Avenida Central
Bom-dia, Avenida Central

(Bom dia Avenida - Grande Otelo/Herivelto Martins)

Cresci ouvindo esse samba carioca de 1944, cantado por meu saudoso pai. Mesmo tendo nascido em fins de 1959, o ouvi cantar diversas vezes, até em 1988, quando faleceu.

É que a crítica a Getúlio Vargas, por parte de uma elite carioca, sempre irreverente(*) e acomodada foi totalmente contrária à abertura da Avenida Getúlio Vargas, que veio a somar com a já existente Avenida Central ou Rio Branco o eixo modernizante para um Rio de Janeiro que se agigantava urbanamente.
Em 1951 Euclides Paes Mendonça, que tinha a mesma idade do meu pai tomou posse na Prefeitura Municipal de Itabaiana, depois de ter perdido a primeira eleição para Jason Correia em 1947.

Itabaiana era “um ovo”. Com apenas 5.746 habitantes urbanos no Censo de 1950, a ex-estagnada cidade de Itabaiana vinha de um incrível crescimento fantástico de 68,4% na década de 1940, quando no Censo anterior tinha acusado apenas 3.413 habitantes; e o clima era de crescimento ainda maior.

A Lei Municipal 9, de 28 de julho de 1948 licenciava o Executivo a indenizar uma casa na esquina da Rua São Paulo com Sete de Setembro para abertura desta até onde viria a ser o Colégio Estadual Murilo Braga, no ano seguinte. Porém também indenizava terreno entre o Grupo Guilhermino Bezerra e a Avenida Airton Teles, na época Praça da Bandeira (Por que nunca mais hastearam a Bandeira Nacional ali? Tão belo que é vê-la tremulando!). A casa, saiu; o alargamento da via, hoje Rua General Calazans, não.

Rua estreitas, nenhuma avenida e três pequenas praças, uma já convertida em Largo da Feira, ou Santo Antônio. E uma iniciada, a sobredita Praça da Bandeira, ou seja, a rótula da Avenida Airton Teles. A saída principal era a Rua Quintino Bocaiuva, ex-entrada na cidade da rodagem para Laranjeiras. Nenhuma, pois, que desse visibilidade. O Colégio Estadual Murilo Braga foi inaugurado em 29 de novembro de 1949... nos sítios; dentro do mato. Por isso seu nome original de Escola Normal RURAL.

Em 1952 entrou em vigor o cumprimento do dispositivo constitucional que redistribuía a maior parte dos impostos para os Municípios, ao invés de Estados e União. A maioria destes Municípios aproveitaram para pagar menos ou isentar tributos, e nada produzir; mas, visionário, impetuoso e dinâmico como era, Euclides aproveitou para projetar a cidade e se projetar, assombrando a conservadoríssima elite sergipana ao eleger o governador – Leandro Maciel – a partir de Itabaiana.

Tão logo cresceu comercialmente, Euclides passou a ser usual visitante do Rio de Janeiro e dos seus cartões postais, como a igreja da Candelária e suas avenidas de acesso – Getúlio Vargas, em frente; e Rio Branco ou Central, que a liga à Marina da Glória, no Rio de Janeiro.

Em 1952, a novíssima BR-235 começou a chegar em Itabaiana; e, de cofre cheio e necessitado de popularidade numa cidade necessitada de obras, Euclides aproveitou a nesga de terra ao fundo do antigo quartel - agora transformado em Talho de Carne - até o ponteão da rodagem para Frei Paulo, na cabeceira do Tanque do Povo para projetar a primeira expansão urbana de elite de Itabaiana: a Avenida Otoniel Dórea. Curiosamente, formando com a Praça Fausto Cardoso e a matriz de Santo Antônio a mesma logística da Avenida Presidente Vargas e Avenida Rio Branco com a Catedral da Candelária, no Rio.
A Otoniel Dórea, se assim pensada, nunca chegou à Praça Fausto Cardoso; mas ampliou-se a oeste já por mais um quilômetro.
Em 1960 foi aberta a Avenida Luiz Magalhães, claramente no mesmo projeto, já atendendo ao planejamento do engenheiro Herman Centurian, prevendo ruas largas, alamedas, avenidas e praças.
Pouco disso se confirmou. A politicagem miúda estreitou vias, acabou avenidas, entupiu fontes, destruiu praças e tudo o que foi iniciado ou simplesmente abortou-o ainda no papel.

Nascido na zona rural, somente a partir de 1966 é que comecei a frequentar a cidade, mas repetindo o que fizeram os meus ancestrais e até os gregos antigos da zona das cidades-estados: só para comprar; fazer a feira. Contudo, com a feira já estabelecida também no Largo José do Prado Franco, de onde começa a Otoniel Dórea, mesmo tenro, com pouco mais de seis anos já me chamava a atenção suas belas casas, suas calçadas largas e até a tentativa de arborização que já existia, porém, visivelmente sem muito sucesso: Itabaiana é literalmente uma Caatinga de Ayres da Rocha Peixoto até hoje. Só a moderna tecnologia no manejo da água nos faz esquecer disso.

Em 1972 a área chique da cidade ganhou pavimentação. Porém, em 1976 já começou a ser invadida pela feira num dos seus traços mais tradicionais: a Feira das Panelas. Desde então, especialmente nos últimos 40 anos, com o avanço do comércio lojista se converteu em mais uma via de negócios. Ao longo dos seus 400 metros quase nenhuma das glamourosas residências de outrora mais nela se encontra; convertidas em lojas e outros serviços como de saúde, justiça e comunicações.

Num pouco de futurismo, determinado por certa dose de realismo dá para se antever que a histórica projeção urbana continuará sendo uma via expressa de acesso ao Centro, porém auxiliar. Uma vez que sua largura compromete um maior fluxo, a tendência é num futuro próximo se converter em via de ida até a BR-235, cabendo à Avenida João Teixeira ser a via de retorno ao Centro.

Ao menos em direção ao oeste, a visão de Euclides Paes Mendonça salvou a cidade de Itabaiana da falta de logística de trânsito.
Há 70 anos.

(*)(Em 1600, com o Rio com apenas 45 anos de vida, os cariocas já apelidavam o governador-geral, D. Francisco de Souza de Marquês das Manhas; trocadinho com o título que ele recebera do rei Felipe III da Espanha, de Marquês das Minas. É que D Francisco jamais achou alguma mina no Brasil; mas, esperto, aproveitou da história de Melchior em Itabaiana para se adiantar e pegar o título)

 


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