O CORETO

JOSÉ DE ALMEIDA BISPO, 11 de Julho , 2022 - Atualizado em 11 de Julho, 2022

 


“Aí, quando eu vi o burburinho e vi aquele monte de menino saindo do grupo (Guilhermino Bezerra), eu mudei de ideia e pensei comigo: é aqui que vou ficar. Esse lugar vai crescer”

João Batista da Costa (ex-vereador, 1951-54 e 1955-58, Joãozinho Veneno ou da Padaria) sobre decisão de mudar para Itabaiana.

 

Sinais de progresso, de bem estar, de refinamento são determinantes para um lugar. Na mina de ouro só se busca o ouro; mas o vai gastar, usufruir de seu valor em outro lugar que seja confortável, alegre, civilizado.
Uma troca de mensagens por rede social com o confrade Antônio Samarone, ele da cadeira número 1 da Academia Itabaianense de Letras, cujo patrono é o saudoso professor Alberto Carvalho; eu da número 27, por Maria Thetis Nunes provocou em mim esse externar do que acho, sinto, por escondidos ou pouco visíveis sinais de civilidade de Itabaiana.
De muito conclui que a hoje cidade de Itabaiana só existe por causa da Irmandade de Santo Antônio e Almas e sua igreja matriz. Sem isso, jamais teria a cidade aqui.
Só no recém passado século XX, especialmente na sua segunda metade é que realmente a cidade... virou cidade, em que pese assim pensada em 1675. Se aqui houvesse prata.
Porém outros símbolos, denotando o nível de civilidade por aqui existem, a exemplo do coreto.
O coreto da Praça Fausto Cardoso, em Itabaiana, não se sabe o porquê, porém foi decisão monocrática de Otoniel Dórea, no curto espaço de menos de sete meses que esteve nomeado intendente (prefeito) interventor na Prefeitura de Itabaiana, em 1933(*).
Talvez tentando se redimir pelos prejuízos causados quando no exercício de delegado de polícia, durante o governo Manoel Dantas perseguiu nada menos que o então intendente Antônio Dultra de Almeida, proibindo-o de cobrar tributos, fazendo assim que até o mínimo quadro de funcionários públicos ficasse meses sem receber os salários. E perseguiu também, óbvio o jornalista Silvio Teixeira que tudo isso notificou no nada menos que o jornal A Noite, do Rio de Janeiro, chegando a pô-lo para correr, fato noticiado pelo mesmo jornal, na página 7, da edição de 12 de abril de 1930. Silvio Teixeira era sobrinho de Antônio Dultra, correspondente do grande diária carioca e então estava secretário do Intendência (Prefeitura). Viria a ser eleito em 1935, o primeiro executivo municipal com o nome de prefeito. O título de prefeito fez parte de um programa de simplificação administrativa nacional, que também acabou com a denominação de vila no país, doravante todas as sedes municipais obrigatoriamente sendo cidades.
Ao construir o coreto, Dórea aproveitou de fatores como o fim grande seca de 1932, da péssima qualidade da água, que salobra em pouco ajudou no abastecimento da esturricada cidade, e desmontou a torre e cata-vento, cobrindo o poço sem o inutilizar, até hoje em uso com a bela construção.
Coretos são traços de civilidade dos núcleos urbanos nacionais, a partir de fins do Segundo Reinado, especialmente. A ágora, o palanque, onde discursou lideranças políticas, mas onde também se proferiu recitais de poesia e outras manifestações culturais, especialmente as retretas musicais, sejam com bandas, quartetos ou até exibições solo.

 

Sonhos de revitalização cultural

Década atrás sonhei - e sugeri aos então novos políticos – a revitalização do espaço. Um programa cultural que começaria semanalmente no teatro das feiras de sábado, com cantadores, emboladores, repentistas, refazendo de forma organizado o que foi comum até por volta de 1970, e clímax aos domingos, no coreto, com retreta matutina e vespertina antecedendo a tradicional Missa noturna, na matriz, em frente. Objetiva, obviamente também o turismo. E ninguém vem pra Itabaiana ou outra cidade para ver o que já vê em qualquer lugar; sejam cidades, estados e países. Mas... morreu. Até as minhas lembranças desses sonhos.
Mas o coreto permanece de pé. Quem sabe, né?

(*) Já como deputado estadual, Otoniel Dórea antes de ser cassado em 1937 pela ditadura do Estado Novo deixaria a sua maior contribuição física que no entanto nunca foi aproveitada para sua finalidade: o vistoso Abrigo de Menores, convertido na década de 1990 no Grupo Escolar Djalma, hoje Padre Mendonça, na Rua Quintino Bocaiuva.


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