A REVOLUÇÃO VERDE NÃO RESISTE AO FUTURO: A BIODIVERSIDADE E A BIOECONOMIA por Clayton Campagnolla e Manoel Moacir Costa Macêdo

Noticias, 15 de Julho , 2022 - Atualizado em 15 de Julho, 2022

 

 

Imagem Depositphotos

 

Uma parte significativa da biodiversidade de alguns biomas brasileiros, foi destruída, a exemplo da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga. Em outros, foi erodida e em outros ainda por ser explorada. Esse último, é o caso do bioma da Amazônia que abriga a maior biodiversidade do planeta, em plantas, mamíferos, aves, peixes, anfíbios, insetos e microrganismos. Um hectare da Floresta Amazônica abriga mais espécies vivas do que todos os ecossistemas das zonas temperadas do planeta. Visto como um todo, a flora amazônica contém cerca de 30 mil espécies, com mais de 5 mil tipos de árvores.

A estratégia em uso pelos sistemas de produção advindos da receita da Revolução Verde, não respeita a convivência harmoniosa com a natureza. Eles são inadequados à Amazônia. Estragos têm sido identificados e mensurados no meio ambiente, nas mudanças climáticas, no aquecimento global e nas populações fragilizadas, como os indígenas e extrativistas. As perdas da biodiversidade são verificadas pela ação do desmatamento, do uso intensivo de agroquímicos, no contexto de um sistema produtivo gerador de externalidades, a exemplo do aquecimento da Terra.

Um enfoque à cadeia de valor ainda por ser explorada, a exemplo da estratégica bioeconomia, enquanto atividade econômica e comercial que utiliza a biodiversidade. Essa nova economia tem um enorme potencial para conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação da Amazônia. Mais especificamente, há inúmeras oportunidades da aplicação da biotecnologia e da química fina na produção local de biofármacos, biocosméticos, biocorantes, óleos e essências a partir de recursos florestais. Existem perspectivas para o crescimento e aprimoramento das cadeias produtivas do açaí, castanha-do-brasil, guaraná, e pescado, assim como de outros alimentos originados da floresta, com a inclusão das comunidades locais visando a garantia de empregos, renda e melhoria das condições de vida dessas populações.

Tecnologias e práticas no modo de produzi, estão disponíveis que concilia exploração com conservação. No entanto, elas não devem ser tratadas isoladamente, mas de modo integrado, explorando os efeitos interativos positivos que possam existir entre os agentes da cadeira. Destaque às condições socioeconômicas e ambientais, o que vai exigir um nível aprofundado de dados para análise e interpretação dos fenômenos naturais em cada localidade. Algumas ações possíveis de uso imediato: reduzir ou eliminar o uso de agrotóxicos; reduzir o uso de fertilizantes com melhora de sua alocação no tempo e no espaço; conservar e recuperar os recursos hídricos; diversificar a produção para oferta de alimentos adequados a uma dieta equilibrada e saudável; recuperar pastagens degradadas para frear a expansão da fronteira agrícola; reduzir o desmatamento e conservar a biodiversidade terrestre e dos solos; e reduzir a emissão de gases do efeito estufa principalmente aqueles oriundos do desmatamento e da pecuária bovina.

A agropecuária é a atividade com maior emissão de gases do efeito estufa entre os outros setores da economia. O 8º. Relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases do Efeito Estufa (SEEE) - Observatório do Clima constatou que ela foi responsável por emissões diretas de equivalentes de gás carbônico que representam 28% do total brasileiro em 2019. Cerca de metade das emissões foi devida às mudanças no uso da terra, onde 94% dessas emissões resultaram do desmatamento. Mudanças no uso da terra somadas à agropecuária representaram 72% dos gases do efeito estufa emitidos pelo País em 2019. A ruminação dos bovinos foi responsável por 61% do total emitido pela agropecuária, seguida pelo manejo do solo e uso de fertilizantes sintéticos com cerca de 33% e aproximadamente 6% devido à calagem, manejo de dejetos animais, arroz inundado e queima de resíduos vegetais. Isso coloca o Brasil no 6º. lugar no mundo em emissões de gases do efeito estufa.

Não são apropriados para o bioma Amazônico os sistemas de produção com a carga genética dos produtos e pacotes tecnológicos da revolução verde associados à interdependência com a indústria de processamento, para o rápido consumo. Normalmente, controlados por corporações estrangeiras de insumos, agroindustriais e de inovações. Aproximadamente um quarto dos produtos da produção agropecuária brasileira prontos e acabados para o consumo são desperdiçados, onde quase metade dos brasileiros e brasileiras estão em insegurança alimentar. Eles também não são adequados à agricultura familiar, prioritariamente direcionada ao consumo local, com a oferta de uma diversidade de alimentos, incluindo hortaliças, frutas, raízes e pequenos animais, que contribuem para uma dieta saudável. Importante, são os produtos advindos dos “nichos da marca da Amazônia”, de origem, procedência e modo holístico de produzir e viver. Os processos produtivos em biomas ricos em biodiversidade, matéria-prima para a bioeconomia, deve combinar os cuidados ambientais, a história, a sociologia e os mistérios da vida, na perspectiva de quebrar o ciclo de pobreza das populações nativas.

 

Clayton Campagnolla e Manoel Moacir Costa Macêdo são engenheiros agrônomos e respectivamente ex-presidente da EMBRAPA e ex-dirigente de Unidades Descentralizadas e Central da EMBRAPA.

 

 

 

 


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